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O capitalismo de vigilância vai engolir a democracia?
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Enquanto cidadãos de todo o mundo se digladiam nas redes sociais em torno de temas políticos, os titãs da indústria da tecnologia voltam os olhos para o caminho do dinheiro e criam o termo "capitalismo de vigilância". Trata-se de uma nova lógica do mercado em que o modelo de negócios é centrado na coleta de dados dos cidadãos e não em atender a necessidades ou demandas legítimas das pessoas.

Os conceitos de oferta e demanda estão na raiz das teorias econômicas. Se o marketing já era visto como forma de influenciar a demanda, o marketing direcionado individualmente, coração do capitalismo de vigilância, utiliza recursos psicológicos e psiquiátricos não apenas para gerar demanda, mas para viciar as pessoas nos produtos.

Não estão reinventando a roda, isso já foi tentado por diversas indústrias mas sempre esbarrou na reação forte da sociedade, com consequente regulamentação dos governos. Isso só ocorre quando as pessoas tomam conhecimento de que as empresas sabem exatamente os efeitos de seus produtos nas pessoas, mas continuam lucrando.

Foi assim com a indústria do cigarro e do amianto. A indústria do álcool, muito mais antiga, enfrentou uma parada dura principalmente nos Estados Unidos devido ao efeito das novas bebidas destiladas na primeira metade do século XX. A indústria do jogo é um exemplo clássico de parada dura aqui no Brasil. Em todos os casos, cada cultura lidou com a indústria da forma mais moralmente aceita por seu povo. Geralmente se reconhece os riscos, se responsabiliza a empresa de alguma forma e, via Estado, se tenta dissuadir as pessoas dos comportamentos auto-destrutivos.

As indústrias do cigarro, bebida e jogo têm em comum o fato de saberem que seus produtos são viciantes e, portanto, a vontade humana não é o único fator que impulsiona o consumo. Durante muito tempo negaram e, mais recentemente, tiveram de admitir inclusive manobras de produção para aumentar o vício.

Qual é o ponto da virada para as indústrias que vivem de destruir vidas? O cidadão comum entender como esses produtos funcionam na realidade e como empresas, mesmo sabendo dos riscos, investiram em viciar pessoas para lucrar mais.

Se, nas indústrias viciantes que já conhecemos, o dano é individual ou do núcleo familiar, a aposta dos titãs da tecnologia da informação é que a vítima agora seja a democracia. Muita gente ainda está iludida com "liberdade de expressão" nas mídias sociais, o que é tecnicamente impossível já que tudo o que vemos é controlados por algoritmos elaborados por empresas particulares. Falamos e ouvimos o que é bom para o lucro dessas empresas e muitos de nós acreditam que isso seja liberdade.

O Pew Research Center fez entrevistas com 979 líderes da área de tecnologia, entre empresários, investidores, desenvolvedores, líderes políticos e ativistas para entender o que eles pensam sobre a própria área de atuação e a forma como nos relacionamos com as inovações tecnológicas.

As perguntas foram: "Entre agora e 2030, como o uso da tecnologia pelos cidadãos, grupos da sociedade civil e governos vai afetar os aspectos fundamentais da democracia e a representação democrática? Eles vão principalmente enfraquecer os aspectos fundamentais da democracia e da representação democrática, vão fortalecer os aspectos fundamentais da democracia e da representação democrática ou não haverá muita mudança nos principais aspectos da democracia e da representação democrática?"

49% pensam que vão ENFRAQUECER

33% pensam que vão FORTALECER

18% pensam que NÃO MUDARÁ NADA

O estudo não tem valor estatístico, agrega visões diversas de pessoas que têm intimidade com o tema por diversos meios diferentes, com visões diferentes de mundo e diversidade ideológica. Sua maior importância é desmistificar a idolatria da tecnologia - para o bem e para o mal. A tecnologia não é um monstro nem é a panaceia, tudo depende da forma como é utilizada pelos seres humanos.

Há um ponto em que os otimistas e pessimistas concordam: está na hora de voltar os olhos para o uso nocivo das redes sociais por grupos que entendem dos algoritmos mais do que a população em geral, normalmente ainda iludida de que tem liberdade nas plataformas.

Os otimistas se diferenciam dos pessimistas porque crêem que, diante dos evidentes efeitos nocivos da era da hiperinformação, nós encontraremos uma forma de utilizar essa tecnologia para o bem da humanidade. Os pessimistas crêem que o domínio da vontade é tão eficiente com a coleta de dados que não há grande esperança de mudança nos últimos 10 anos.

Otimistas ou pessimistas, os titãs da indústria da tecnologia da informação estão de olho em 3 questões fundamentais envolvendo as plataformas de redes sociais:

1. O uso das mídias sociais por grupos interessados em desinformar de forma estratégica e coordenada, com o intuito de abalar a confiança das pessoas nas instituições e convencer de que fatos não são verdadeiros.

2. O papel de plataformas fechadas, com tecnologia exclusiva, geridas por empresas regidas pelo lucro. Essas plataformas não são geridas para que todos tenham acesso à informação ou para o promover o bem comum, mas para coletar e vender dados das pessoas a quem pague. A falta de transparência sobre os algoritmos e a resistência total à regulação do setor demonstram que não são empresas que promovem a democracia.

3. O crescimento da importância da vigilância do cidadão comum para os donos das plataformas, outras empresas e agentes do Estado somado ao cresicmento da capacidade das tecnologias de vigilância ameaçam a habilidade do cidadão comum para participar com segurança e de forma equânime nas discussões cívicas.

Daniel Boorstin dizia que o maior inimigo do conhecimento não é a ignorância, é a ilusão do conhecimento. Por terem aprendido a utilizar os aplicativos das redes sociais nos iludimos que conhecíamos como elas funcionam e que nos dão liberdade. Agora, estamos numa nova era, a de entender o que está acontecendo e traçar nosso futuro. Que tenhamos sabedoria.

Enquanto cidadãos de todo o mundo se digladiam nas redes sociais em torno de temas políticos, os titãs da indústria da tecnologia voltam os olhos para o caminho do dinheiro e criam o termo "capitalismo de vigilância". Trata-se de uma nova lógica do mercado em que o modelo de negócios é centrado na coleta de dados dos cidadãos e não em atender a necessidades ou demandas legítimas das pessoas.

Os conceitos de oferta e demanda estão na raiz das teorias econômicas. Se o marketing já era visto como forma de influenciar a demanda, o marketing direcionado individualmente, coração do capitalismo de vigilância, utiliza recursos psicológicos e psiquiátricos não apenas para gerar demanda, mas para viciar as pessoas nos produtos.

Não estão reinventando a roda, isso já foi tentado por diversas indústrias mas sempre esbarrou na reação forte da sociedade, com consequente regulamentação dos governos. Isso só ocorre quando as pessoas tomam conhecimento de que as empresas sabem exatamente os efeitos de seus produtos nas pessoas, mas continuam lucrando.

Foi assim com a indústria do cigarro e do amianto. A indústria do álcool, muito mais antiga, enfrentou uma parada dura principalmente nos Estados Unidos devido ao efeito das novas bebidas destiladas na primeira metade do século XX. A indústria do jogo é um exemplo clássico de parada dura aqui no Brasil. Em todos os casos, cada cultura lidou com a indústria da forma mais moralmente aceita por seu povo. Geralmente se reconhece os riscos, se responsabiliza a empresa de alguma forma e, via Estado, se tenta dissuadir as pessoas dos comportamentos auto-destrutivos.

As indústrias do cigarro, bebida e jogo têm em comum o fato de saberem que seus produtos são viciantes e, portanto, a vontade humana não é o único fator que impulsiona o consumo. Durante muito tempo negaram e, mais recentemente, tiveram de admitir inclusive manobras de produção para aumentar o vício.

Qual é o ponto da virada para as indústrias que vivem de destruir vidas? O cidadão comum entender como esses produtos funcionam na realidade e como empresas, mesmo sabendo dos riscos, investiram em viciar pessoas para lucrar mais.

Se, nas indústrias viciantes que já conhecemos, o dano é individual ou do núcleo familiar, a aposta dos titãs da tecnologia da informação é que a vítima agora seja a democracia. O Pew Research Center

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