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Por que a mídia não chama de estupradoras mulheres que estupram?
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Ninguém "tem relações sexuais" com crianças, necessariamente estupra. Uma criança não tem condições de consentir com isso e, na maioria dos casos, já se tem essa consciência quando se trata de meninas. Mas e quando são os meninos as vítimas dos estupradores?

Chega a ser revoltante a forma como a mídia aborda o caso de uma babá norte-americana que estuprou um menino sob seus cuidados e engravidou. Não se fala em estupro ou estupradora em nenhum momento. Sempre é "mulher que engravidou de menino". A reclamação não é brasileira, vem da sociedade civil de Portugal, mais precisamente da ONG Quebrar o Silêncio, que se dedica a dar apoio a homens sobreviventes de abusos sexuais. A diferença entre as manchetes de um mesmo caso nos Estados Unidos e em Portugal abriu o debate.

A organização diz que um em cada 6 homens já foram vítimas de abuso sexual, de homens ou mulheres, mas que isso é visto como um tabu na nossa sociedade. Tendemos a minimizar o sofrimento de meninos muito pequenos usados como se fossem objetos por predadores sexuais. Mesmo que tenham o corpo aparentemente preparado para a atividade sexual, crianças e adolescentes não estão psicologicamente preparados para tomar esse tipo de decisão. Levantamento do CDC (Center for Diseases Control) dos Estados Unidos mostra que adolescentes com atividade sexual têm risco 12 vezes maior - isso mesmo, DOZE VEZES - de cometer suicídio.

O caso específico que desperta o debate é o da norte-americana Marissa Mowry, que acaba de ser condenada a 20 anos de prisão por estupro e inclusão no cadastro nacional de predadores sexuais por décadas. Ela cuidava de um garotinho de 11 anos de idade, que estuprava constantemente. Os pais do menino não desconfiavam e tratavam a babá com muito carinho. Foram, inclusive, acompanhar o nascimento do bebê dela no hospital sem ter a menor ideia de que se tratava do próprio neto. O garoto levou quase 6 anos para ter coragem de contar o que acontecia.

A família deu queixa imediatamente, no ano de 2017, e a Justiça pediu um exame de DNA que confirmou: o filho de Marissa Mowry não era do namorado, como pensavam seus empregadores, mas do garotinho que ela deveria cuidar. Os pais do menino pediram a guarda da criança imediatamente e a Justiça concedeu. Hoje o garoto, com 17 anos, e os pais dele é quem cuidam do menininho.

O depoimento judicial da avó, mãe do menino estuprado pela babá, foi registrado pelo jornal local, Tampa Bay Times. Ela contou que ele leva o filho para a escola e depois vai ao colégio. Quando volta, brinca com o menino no quintal. Ele não sai muito com amigos porque cuida do filho e namoro está fora de questão na vida do adolescente. "Quem quer namorar um menino de 17 anos que tem um filho de 5?", pergunta a mãe, que conclui "não arruinou a vida dele, mas mudou a vida dele". A avó disse à corte que seu filho "se tornou um dos pais mais fantásticos que você irá conhecer na vida".

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