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Quanto custa uma vida? A falsa polarização entre perdas humanas e econômicas.
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Há um debate acalorado, sobretudo nas redes sociais, que tem tirado a tranquilidade de muitas pessoas num momento em que todas as famílias sofrem o peso da tensão, do medo e da incerteza: a falsa polarização entre salvar vidas e salvar a economia. O cidadão comum, sobretudo o que depende de comissão, não tem emprego fixo ou pequenos e médios empresários têm toda razão para a incerteza financeira. Ela se soma ao medo relacionado à saúde, família e amigos. Isso faz com que muitos reajam de forma agressiva ou desesperada.

Nesse contexto, as soluções simplistas parecem atender nossos instintos básicos, sobretudo quando contêm apelos à coragem. Obviamente que se tivessem algum respaldo na realidade, já teriam sido adotadas pelos países onde a pandemia chegou antes. Não há conflito entre salvar vidas e salvar a economia, as duas coisas caminham juntas.

O economista Carlos Góes, fundador do Instituto Mercado Popular, doutorando em economia pela Universidade de San Diego, Mestre em Economia pela Johns Hopkins University, já trabalhou no FMI na área de Macroeconomia e Pesquisa Macroeconométrica e também fez parte da equipe de Políticas de Desenvolvimento Econômico do Governo Temer, na presidência da República. Com essa visão, que tem foco no global e longo prazo, ele explica tanto o motivo da aflição de alguns setores do empresariado quanto a falsa oposição entre salvar vidas e salvar economia.

"É impossível calcular o valor de uma vida. Mas há um aspecto econômico calculável: a perda de capacidade produtiva pela redução da força de trabalho. Quando eu trabalhei no @planalto, nossa equipe estimou um limite inferior (subestimado) para isso: R$630.000 por cada vida perdida", explica o economista Carlos Góes.

Ele calcula que, se o pior cenário projetado pelo Ministro da Saúde se contretizasse, teríamos até 60% de contaminação. Levando em conta que o coronavírus tem uma média de 1% de mortalidade, o pior cenário seria o de 1 milhão 260 mil brasileiros mortos. Isso significaria, apenas em perda de capacidade produtiva para o Brasil, sem levar em conta todos os outros impactos nas famílias, saúde e sociedade, R$ 800 bilhões.

"Ilustração: grandes perdas humanas = grandes perdas econômicas", explica o economista.

"Seguir as recomendações dos epidemiologistas e fazer um esforço de desligar o motor da economia no curto prazo contém as perdas humanas e econômicas de longo prazo. Nesse tempo, políticas econômicas devem suavizar o consumo e preservar capacidade produtiva.

Quanto mais eficiente for o governo em controlar a pandemia, menores vão ser as perdas de longo prazo. O Japão, que conseguiu limitar os efeitos da epidemia, pagou os custos de curto prazo de um lockdown mas já está voltando à normalidade.

Por isso, é preciso não cair na falsa dicotomia que alguns querem levantar. Ninguém está falando em parar a economia por um ano, o que seria claramente inviável. É um esforço no curto prazo para limitar perdas - econômicas e, mais importante, humanas.", finaliza Carlos Góes.

Diante de debates inflamados e com a profundidade de um pires envolvendo os destinos do Brasil, o ex-ministro da Economia, Pedro Malan, adorava repetir uma frase do jornalista norte-americano Henry Louis Mencken: "Para todo problema complexo, existe sempre uma solução simples, elegante e completamente errada."

Estamos diante de um problema complexo, talvez o mais complexo de nossa geração, como bem definiu nosso Comandante do Exército, General Edson Leal Pujol. Nenhum de nós encontrará solução sozinho, no grito ou no desespero. Vai passar e vamos enfrentar juntos, protegendo nossas famílias e fazendo o melhor que podemos fazer a cada dia.

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