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O cardeal Mario Grech, secretário geral do próximo Sínodo, em foto de novembro de 2022.
O cardeal Mario Grech, secretário geral do próximo Sínodo, em foto de novembro de 2022.| Foto: Facebook/synod.va

Saiu a lista oficial de participantes da 16.ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, popularmente conhecida como “Sínodo sobre sinodalidade”, ou, mais propriamente, a “reunião sobre como fazer reuniões”, na genial definição que vi na internet e cujo autor infelizmente não lembro quem é. A lista tem os “suspeitos de sempre”, mas também tem alguns bons nomes, e olhando o cenário a avaliação que me vem à cabeça é a de que poderia ter sido bem pior.

Os escolhidos se dividem entre “membros”, “convidados especiais” e “outros participantes” (que incluem, por exemplo, peritos). O primeiro grupo é o que mais interessa, pois é o de quem efetivamente decide as coisas. Ele inclui os chefes de dicastérios romanos, automaticamente convocados; os participantes escolhidos diretamente pelo papa Francisco; e os representantes das conferências episcopais nacionais e continentais.

Surpresa seria que Martin, Spadaro e alguns outros não estivessem presentes; digamos, então, que o pior cenário já estava meio garantido. São os outros nomes que trazem algum equilíbrio

Tem o novo prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé? Tem, e não poderia ser diferente, pois sua presença é obrigatória. Mas virão também, escolhidos pelo papa, os dois antecessores do arcebispo “Tucho” Fernández: os cardeais Luis Ladaria Ferrer e, mais importante, Gerhard Müller. Tem o padre James Martin? Claro que tem, e na cota pessoal do papa (suspiro). Tem o padre Antonio Spadaro? Tem também. Assim como está de volta o italiano Bruno Forte, o secretário do Sínodo para a Família que tentou contrabandear alguns trechos mais complicados nos documentos, apenas para ser desautorizado pelo relator, o cardeal húngaro Péter Erdő (que desta vez não estará presente).

Mas, convenhamos, surpresa seria que Martin, Spadaro e alguns outros não estivessem presentes; digamos, então, que o pior cenário já estava garantido. São os outros nomes que trazem algum equilíbrio. Vejamos, por exemplo, o caso alemão. O arcebispo supersinodal Georg Bätzing está na lista, mas seria difícil que os alemães deixassem de fora o presidente da sua conferência episcopal e principal patrocinador das loucuras que estão em curso por lá. Mas, além do já citado cardeal Müller, o papa também selecionou Stefan Oster, bispo de Passau que não se deixou intimidar pelas manobras dos “sinodais” quando eles resolveram expor publicamente os bispos que se opunham às pirações.

Outro caso interessante é o grupo dos norte-americanos. Num país que tem os arcebispos Salvatore Cordileone, José Gomez e Charles Chaput, o papa escolheu os cardeais Cupich, de Chicago, e McElroy, de San Diego – convenhamos, fazer isso é meio como ter no elenco Messi e Mbappé, mas sair jogando com Yuri Alberto. Menos mal que a cota do papa ainda inclua o cardeal O’Malley, de Boston, e que a conferência episcopal, na hora de escolher os seus representantes, tenha resolvido mandar seu presidente, arcebispo Timothy Broglio; o cardeal Timothy Dolan, de Nova York; e o bispo Robert Barron, cujas credenciais conservadoras só não são maiores que sua presença midiática.

O time brasileiro não chega a ter um expoente conservador como o alemão Müller ou o norte-americano Barron. Os brasileiros no Sínodo incluem o cardeal Sérgio da Rocha, membro do Conselho Ordinário do Sínodo dos Bispos; e o cardeal João Braz de Aviz, prefeito do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica. A CNBB, por sua vez, escolheu o cardeal Leonardo Steiner, de Manaus; o arcebispo Geraldo Lyrio Rocha (emérito de Mariana-MG); e os bispos Joel Portella Amado (auxiliar do Rio de Janeiro), Pedro Cipollini (Santo André-SP) e Dirceu de Oliveira Medeiros (Camaçari-BA). Dom Joel já foi secretário-geral e dom Geraldo já presidiu a CNBB. Ao contrário dos alemães e norte-americanos, os brasileiros não selecionaram ninguém da atual cúpula da sua conferência episcopal. Ainda atuarão como peritos os padres Adelson Araújo dos Santos, Miguel Martin e Agenor Brighenti – este último, capaz de dizer algo como “o inverno ainda não passou” para se referir à demora para que as ideias de Francisco se imponham na igreja.

Ninguém a essa altura tem como dizer se estamos diante de um equilíbrio autêntico ou se esta é uma diversidade apenas aparente, na qual os conservadores acabarão sempre tratorados pelos ditos “progressistas”

Escrevendo na ACI Stampa, site em italiano do grupo EWTN, o vaticanista conservador Andrea Gagliarducci considera equilibrada a composição do Sínodo. O que nem Gagliarducci nem ninguém a essa altura tem como dizer é se estamos diante de um equilíbrio autêntico, que levará o Sínodo a não deixar prosperar nenhuma loucura, ou se esta é uma diversidade apenas aparente, na qual os conservadores acabarão sempre tratorados pelos ditos “progressistas”, que têm tanto a secretaria-geral quanto a relatoria, nas figuras dos cardeais Mario Grech e Jean-Claude Hollerich.

Como tenho repetido na coluna, nossa fé nos garante que a Igreja jamais chegará a ensinar o erro, mas que pode haver confusão semeada na cabeça dos fiéis, isso pode. Tentarão “desinfalibilizar” o que é infalível, rediscutir o que é definitivo, validar modos de vida incompatíveis com a mensagem cristã, e nesse esforço vão enganar muita gente, levada a crer que a Igreja “já não ensina” isso e aquilo, que o tema tal “ainda está aberto a debate”, e por aí vai. O Espírito Santo fará a sua parte como sempre, mas também temos que fazer a nossa, que é rezar pelo papa, pela Igreja e pelo Sínodo.

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