Eleitora de Jair Bolsonaro comemora vitória no primeiro turno da eleição presidencial. Foto: Carl de Souza/AFP| Foto:

Muitos falam deste pleito como se fosse apenas mais uma disputa entre petismo e antipetismo. Esta eleição vai muito além disso. Ela está moldando a mais profunda reforma política popular da história recente do Brasil, realizada por obra do eleitor, cansado dos escândalos de corrupção e do distanciamento de Brasília da realidade cotidiana do cidadão.

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O povo resolveu sacudir as estruturas políticas do Brasil de uma maneira jamais vista e a consequência deste movimento terá reflexos pelas próximas décadas. A chegada da direita, com força e legitimidade ao cenário parlamentar, inaugura um novo capítulo na história política do país, que ao sepultar a Nova República, impacta também as atuais relações de poder e inclusive os mecanismos do presidencialismo de coalizão.

A cada 30 anos a política brasileira passa por este processo de depuração e renovação. O fim do regime militar abriu espaço para a Nova República, assim como a eleição e os erros de Jânio Quadros acabaram por levar os generais ao poder em 1964. Antes disso, Getúlio colocou fim na dinâmica da política do café com leite, sepultando a República Velha, que havia terminado com nosso período imperial. Ao encerrar um ciclo que se iniciou na redemocratização, o Brasil inaugura um novo momento, que talvez venha a se chamar de Sétima República.

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Portanto, dentro deste contexto, o caminho natural é a eleição de um representante que esteja em sintonia ou liderando este processo de reformas. Jair Bolsonaro soube encarnar melhor do que qualquer outro este contra-movimento da direita em relação ao petismo e suas misérias. A reação conservadora, que surge organizada e com pautas definidas, tornou-se a oportunidade de uma parcela da população, até então em silêncio, reagir e se fazer ouvir. Um processo que, diante de sua profundidade, afetou também os alicerces dos mecanismos da política tradicional.

Esta nova força na república, que passa a se desenhar desde o último domingo (7), está calcada no antagonismo com a esquerda, suas práticas e pauta política. Pela primeira vez em muito tempo, veremos um Parlamento com visões ideológicas claras, onde PSL e PT assumirão seu protagonismo e liderança como as duas maiores bancadas, colocando uma direita conservadora em oposição a uma esquerda sindical que durante muitos anos pautou a política nacional sem qualquer oposição real.

Estas eleições, portanto, se revestem de um significado muito mais profundo e este é o grande movimento histórico que estamos vivenciando. Assim como em outros ciclos, estamos diante da despedida de quadros políticos tradicionais que até então davam as cartas no país. Serão substituídos pouco a pouco pela nova estrutura de poder que começa a ser desenhada com o pleito de 2018.

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Dentro deste contexto, a eleição de Fernando Haddad colocaria em colisão o movimento de renovação em contraposição com a manutenção das estruturas tradicionais. O último suspiro do sistema apodrecido que o eleitor colocou de lado nestas eleições sobrevive na esperança da candidatura do PT, um partido que se alimentou do mecanismo que combateu para chegar ao poder.

Diante deste cenário, em caso de vitória, Bolsonaro terá pelo menos um mandato para realizar as reformas e ajustes de cunho liberal na economia e conservador nos costumes. Terá a oportunidade de reinventar o presidencialismo de coalizão e aprovar uma reforma política que realmente devolva poder real ao eleitor.

Uma eleição que nasceu do antagonismo ao petismo está prestes a entregar uma mudança profunda nos alicerces da república.