Foto: Valter Campanato/Agência B| Foto:

Nesses tempos, em que as pessoas estão suscetíveis a extremismos e reações descompensadas, é natural que instintivamente busquemos adotar mais ponderação em nossos comentários. Perde o debate, pois assim se esvai a sua função crítica, mas é o preço que se paga quando se prioriza o fanatismo em detrimento da realidade.

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E então surge Damares Alves.

“É uma nova era no Brasil: menino veste azul e menina veste rosa”, sapecou a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos. De tão estapafúrdia, uma declaração dessas, que no fim das contas não passa de provocação infantil, acaba sendo libertadora. Afinal, não há motivo algum para se medir as palavras quando o país começa a ser arrastado em direção ao ridículo absoluto.

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Em outra fala desnecessária, Damares chegou a declarar que o Estado até podia ser laico, “mas a ministra é terrivelmente cristã”. Noves fora a tentativa de efeito, não deixou de ser outra afronta. O ideal seria que ela e seus pares, com destaque para o chanceler Ernesto Araújo, assumissem a importância de seus cargos para o futuro do país em vez de se comportarem como adolescentes procurando intrigas nas redes socais.

No fim das contas, se para o governo esse tipo de manifestação é interessante, uma vez que inflama a massa, mantendo o furor pelo ‘nós x eles’ — sendo ‘nós’ a imprensa e absolutamente qualquer pessoa que ouse contestar o governo —, é péssimo para a sociedade, pois desvia o foco de temas relevantes.

E não só de temas relevantes como a Previdência, as várias reformas na seara econômica e a Segurança Pública, mas de assuntos ingratos também.

Ou seja, é pitoresco, para não dizer trágico, ouvir os discursos birutas de Ernesto Araújo, mas, e como fica a desculpa no mínimo inovadora de Queiroz sobre o escândalo envolvendo funcionários-fantasmas no gabinete do senador Flávio Bolsonaro e um depósito de R$ 24 mil na conta da primeira-dama?

Igualmente, assusta imaginar que alguém com uma visão tão desconexa do mundo real como Damares Alves seja ministra, mas e essa costura política feita pelo PSL para favorecer a candidatura de Rodrigo Maia à reeleição na Câmara em troca de governabilidade? Não ouvíamos, há poucos dias, o próprio Jair Bolsonaro e outros próceres do primeiro escalão fazendo um discurso totalmente avesso ao chamado “toma lá, dá cá”?

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Durante os próximos 4 anos, não serão poucos os desafios a serem enfrentados pela gestão Bolsonaro, que, como qualquer governo populista, tentará se defender com a fabricação de “inimigos do país”.

Caberá a todos nós a tarefa de não aceitar a mesmíssima estratégia utilizada durante os últimos 13 anos para ferir de morte a nossa lucidez.