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“Essa conta não pode vir pra gente, não pode vir para o nosso governo. Porque nós assumimos faz 30 dias”, declarou Hamilton Mourão enquanto a lama ainda invadia Brumadinho, soterrando vidas e moradias. Logo ele, que afora a vergonhosa defesa da promoção do filho no Banco do Brasil tem se mostrado um caso de rara lucidez na gestão Bolsonaro. Todavia, ao ensejar uma realidade indigesta, a de que, entra governo, sai governo, as tragédias continuam ocorrendo por aqui, a antipática fala o vice-presidente presta um favor: expõe ao ridículo os debates acalorados em defesa de políticos, partidos ou governos.

Vale ressaltar que a postura de Jair Bolsonaro e seus comandados até aqui tem sido merecedora de elogios. De outra categoria, se comparada à de Dilma Rousseff três anos atrás quando houve calamidade semelhante em Mariana. Especialmente pelo fato de o próprio presidente ter se dirigido ao local horas após o ocorrido, mesmo com uma cirurgia marcada no dia seguinte. Contudo, permaneço preso ao sintomático comentário do vice.

Primeiro Mariana, agora Brumadinho. Pinço aqui apenas os desastres ambientais recentes. A lista de tragédias é maior e envolve também incêndios como o do Museu Nacional e o da boate Kiss, em Santa Maria, quando 242 pessoas perderam a vida e outras 600 ficaram feridas. Um crime que hoje completa seis anos e cujo julgamento dos responsáveis ainda não tem data para acontecer. Seis anos, repito.

A verdade é que não é possível apontar para um partido específico, um determinado político ou gestão. Não quando os episódios são tão recorrentes. Tampouco se os sintomas são os mesmos, quais sejam, ganância financeira, incapacidade administrativa, incompreensão da responsabilidade inerente ao cargo e, talvez o fator principal, a falta de regras que prevejam a punição criminal dos responsáveis por obras capazes de impactar de maneira tão dramática a sociedade.

Diga-se, Mourão está certo. Recém-eleita, a nova administração não pode mesmo ser culpada por uma desgraça cuja probabilidade de acontecer, agora sabemos todos, já havia sido alertada em dezembro último por representantes do Ibama.

Por outro lado, na pressa de proteger a si e aos seus, o general da reserva abre o flanco para uma justificada ironia: a conta pode não ser do atual governo, mas, considerando o nosso aviltante histórico, talvez isso se deva à falta de tempo.

A pobreza do nosso debate político — que na verdade não passa de um confronto eleitoral teatralizado por títeres e sem hora para acabar — é tão nociva que até em momentos duros não nos permite enxergar as coisas com clareza. Uma barragem que não se rompe.

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