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É inegável: ao confirmar Sérgio Moro no comando do Ministério da Justiça, Jair Bolsonaro marca um golaço de proporções ainda difíceis de serem calculadas. Ainda por cima com essa sanha por parte dos opositores ao recém-eleito governo de ver o copo meio cheio tão cedo. Alguns chegando ao ponto, inclusive, de relativizar o número de votantes em seu favor, como chegou a acontecer nas redes sociais.

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Lamentei logo quando começaram a surgir comentários dando conta de que Moro receberia o convite para fazer parte da nova administração. Tinha para mim que a Lava Jato, em certa medida, era maior do que políticos e governos. Um parêntese de excelência capaz de diminuir a minha desesperança em testemunhar um Brasil, se não absolutamente livre, pelo menos tendo de lidar com patamares razoáveis de corrupção.

Nesse sentido, o esclarecimento feito pelo próprio juiz de que se afastará imediatamente da força-tarefa é alvissareiro. Não poderia ser diferente, dado o contexto atual não bastaria nem mesmo parecer honesta. De resto, é dar tempo ao tempo para ver a sua capacidade de comando e influência real a partir do ministério, assim como a de seus substitutos em Curitiba.

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Do ponto de vista político, Bolsonaro começa da melhor maneira possível o novo Fla-Flu estabelecido após o enfraquecimento do PSDB, e que desgraçadamente ainda deve se estender pelos próximos ciclos eleitorais, entre esquerda/petismo e bolsonarismo: com o selo de governo anticorrupção.

E começa bem, também, graças ao papel que a oposição constituída e a parte da sociedade antipática ao governo ainda em formação têm desempenhado.

Não trato aqui somente do PT, que há tempos não faz por onde merecer crédito, tampouco após ter perdido uma eleição. No fim das contas, apenas ferrenhos convertidos à seita lulista serão capazes de comprar a tese de que Moro esteve o tempo todo envolvido em uma trama sórdida para inviabilizar Lula e o partido.

O comportamento arredio que tem tudo para impulsionar ainda mais o bolsonarismo parte de setores menos organizados da sociedade. Ganha corpo tanto entre formadores de opinião quanto em demonstrações isoladas. É palpável.

Mergulhada no mesmo caldo alarmista que sustenta a existência de uma revolução comunista sempre à espreita, a certeza de que Bolsonaro representa uma ameaça à nossa democracia bem que poderia arrefecer — mesmo após tantos e seguidos indícios de desprezo para com os valores humanistas por parte do candidato, seu séquito de aliados e seguidores.

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Idem para as recentes tentativas de relativizar o contingente de votantes em seu favor, um desrespeito que chega a ofender a inteligência e o bom senso que preza pelo respeito às regras do jogo.

Fato é que Moro representa um acerto para a imagem do novo governo e pode se transformar em algo muito bom para o país. Até hoje não deu motivos importantes que invalidem essa hipótese.

Fato é que não será abraçando narrativas forjadas no seio do petismo, ou dando vazão à compreensível dor de cotovelo após o desfecho eleitoral, que será estabelecida a melhor maneira de se opor ao bolsonarismo.

Torcer o nariz agora, além de não ser razoável, só serve para endurecer ainda mais a sensação generalizada na população de que, para uma turma em especial, tudo só vai bem quando se está no poder. Sensação essa que levou Bolsonaro à Presidência.

Quem há de culpá-los?

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