Em uma eleição histórica, a maioria fez valer a sua vontade e elegeu Jair Bolsonaro presidente da República. O regozijo pela primeira derrota do PT em eleições presidenciais desde 1998 é compreensível. Principalmente após um período hegemônico tão longo e traumático como esse protagonizado pelo Partido dos Trabalhadores. Contudo, Bolsonaro herdará um país dividido, com problemas fiscais enormes e milhões de desempregados.
Nesse sentido, e com o perdão do trocadilho, o melhor para os eleitores ferrenhos de Bolsonaro — atenção, não me refiro aqui aos meramente antipetistas — é já irem se acostumando: o próximo governo não terá vida fácil. Ou, por outra, não sobreviverá sem driblar algumas das retóricas cristalizadas durante a campanha.
Não terá vida fácil, antes de mais nada, pela dura oposição que com toda certeza o PT e a esquerda protagonizarão, mas também por força da realidade. Pela certeza, já comprovada pelos presidentes Fernando Collor e Dilma Rousseff, de que não é possível para governo algum sobreviver sem fazer política.
O processo de demonização da política entre nós ganhou tanto peso, instrumentalizado que foi ao longo de gerações pela esquerda até o momento em que ela começou a ganhar eleições e pelo manancial de corrupção historicamente presente na administração pública, que passamos a assumir o ato de fazer política como algo impróprio. Necessariamente sujo. Pois não é. E o presidente recém-eleito sabe disso.
Bolsonaro não é um político de ponta, muito pelo contrário, é um legítimo representante do baixo clero, mas sabe que existe um jogo a ser jogado. Sabe que costuras precisam ser feitas para fazer um governo andar. E sabe que não faltam grupos de interesses a serem considerados e agraciados. Afinal, ele mesmo atuou assim e faz parte de um desses grupos (o dos militares).
Duvido muito que não tenha essa clareza mais afiada do que o próprio Paulo Guedes, useiro e vezeiro em falar sobre privatizações como se essas fossem simples de serem feitas. Talvez até sejam, mas apenas as menos lucrativas. As que podem fazer a diferença, porém, são tidas como “estratégicas” por muitos. Inclusive pelo novo presidente.
E as frustrações não tendem a solapar somente os bolsonaristas. Quem estabeleceu trincheiras contra o governo que agora se configura também haverá de morder a língua.
O discurso alarmista em relação ao novo governo, a banalização de termos como “fascismo”, “nazismo” e “ditadura”, possivelmente levará ao ridículo quem as repete, mas, acima de tudo, acabará por desqualificar críticas importantes.
A retórica de Jair Bolsonaro até aqui é indefensável. O seu discurso oficial após a vitória e os seguintes, em breves aparições, adotaram outro tom. Que esse prevaleça. Que Bolsonaro, de fato, como afirmou, não faça distinção “entre nós e eles”.
Seja como for, insisto, a realidade há de prevalecer. E aqueles habituados a se alimentar da polarização, a carregar nas tintas ao interpretarem os fatos para fortalecer ou denegrir os seus, igualmente terão de capitular.
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