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Corro as notícias na tela do meu celular e logo dou de cara com um enunciado que me chama a atenção: “Inscritos desistem e governo reabre vagas que classificava como preenchidas para o Mais Médicos.” Cliquei e descobri que, de fato, 200 inscritos desistiram de ingressar no referido Programa, principalmente por incompatibilidade de horário com outras atividades profissionais.

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Duzentos, dentre mais de 8400 já selecionados e em um universo que extrapola 30.000 interessados.

Houve, inclusive, uma tentativa de alarido pelo fato de a futura ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, ter afirmado que “homens e mulheres não são iguais”. Novamente, o contexto da afirmação é amplo, inclusive bem fundamentado.

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Esses são apenas dois exemplos. Ultimamente, não têm sido poucos os casos em que títulos de matérias são pinçados para, mais do que conquistar o clique, passar uma imagem torta da realidade. Algo fácil de acontecer, se considerarmos que a maioria das pessoas está mais empenhada em ler as chamadas do que em efetivamente se inteirar do assunto.

Segundo a célebre frase atribuída a Millôr Fernandes, “Imprensa é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”. O lema é bom, mas talvez tenha sido deturpado com o passar do tempo e, acima de tudo, o acirramento das paixões.

É claro que o papel da imprensa, antes de qualquer outro, é o de cobrar, fiscalizando e denunciando não apenas irregularidades na gestão pública, mas também políticas que afrontem os interesses da sociedade. De preferência, antecipando ao máximo os seus nascedouros.

E que cada um, na impossibilidade de acompanhar um espectro mais heterogêneo de veículos ou não tendo interesse em fazê-lo, fique livre para eleger a linha editorial que melhor acalente a sua necessidade de informação.

Contudo, não cabe eclipsar o fato em privilégio do humor ou do momento.

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Até porque, quando chegar a hora de denunciar fatos concretos e com a dureza necessária, a percepção de quem consome a notícia já estará tomada pelo pior preconceito possível, pelo menos para quem informa: desconfiança. Um sentimento que já é realidade nos Estados Unidos e aumenta a olhos vistos por aqui.

O culto em torno de políticos especialistas em interpretar o papel de vítima, como Lula e Dilma, culto esse que hoje estrutura o bolsonarismo, alimenta de maneira substancial a narrativa de que por trás do noticiário só há interesse na manipulação os fatos.

Cabe a ela, então, não dar motivo para teorias conspiratórias.