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Um milhão de casos e cinquenta mil mortos três meses após o presidente afirmar que não passaríamos de oitocentos óbitos. Saúde, Educação Meio Ambiente e Cultura à deriva. Enquanto a economia sangra, a primeira família se vê atolada em um lamaçal potencialmente criminoso. A Justiça está no seu encalço. Ex-ministros deixam o país às pressas.

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Passaram-se pouco mais de dezoito meses desde a posse de Jair Bolsonaro. Seu governo já acabou.

O impeachment não é certo, embora o risco leve o presidente a trair promessas de campanha. Se a blindagem funcionar e não houver renúncia, estaremos condenados ao ocaso até 2022. Será duro, mas nem por isso imerecido ou inesperado.

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Abundam os fatos que explicam o prematuro fim do pior governo de nossa história recente. Tão perverso quanto incapaz, o projeto bolsonarista foi desastroso no front técnico, aviltante no estético e ainda pior no moral.

O que dizer de Ricardo Salles, responsável inconteste pelo desmantelamento de mecanismos de fiscalização fundamentais para a proteção da nossa biodiversidade, de reservas indígenas e na luta contra o desmatamento na Amazônia?

Foi sintomática sua sugestão na famigerada reunião ministerial do dia 22 de abril, quando defendeu que o governo deveria aproveitar que as atenções da sociedade e da imprensa estavam voltadas para a pandemia e organizar uma “baciada” de mudanças nas regras ligadas à proteção ambiental.

Já o que se dá na Saúde extrapola o irresponsável. É criminoso.

Sem apontar um ministro efetivo para a pasta após ter demitido dois titulares que se recusaram a endossar protocolos na contramão das diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS) — dentre os quais a prescrição de drogas na melhor das hipótese ineficazes —, a administração federal minou o distanciamento social por meio de uma insistente ode a teses anticientíficas e maquiagem de dados.

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O fórceps desse discurso foi Jair Bolsonaro. Desde janeiro, o presidente da República cansou de ridicularizar a ameaça imposta pela covid-19 e em inúmeras ocasiões participou de eventos públicos sem o uso de máscara. Até hoje foram raras as vezes em que lamentou pelas dezenas de milhares de famílias devastadas.

A gambiarra por meio da qual Abraham Weintraub saiu do Brasil ilustra o epílogo bolsonarista.

Em condições normais, estaríamos embasbacados com a nomeação de outra pessoa (a quinta!) sem credenciais para chefia a Cultura, mas o atrevimento de quem tanto prejuízo trouxe ao impor uma visão fundamentalista na Educação, justo a área talhada para combater as desigualdades social e racial, bem como a violência, iluminaram o momento agonizante de uma gestão fadada ao fracasso.

Para Bolsonaro é fim de linha. A dúvida está na forma.