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Foto: Mandel Ngan/AFP
Foto: Mandel Ngan/AFP| Foto:

Dois anos. Dois anos em absoluto silêncio. Dois anos comandando o escritório criado para investigar se houve envolvimento de pessoas ligadas à campanha do então candidato Donald Trump na conspiração russa para interferir nas eleições de 2016 — quando documentos confidenciais foram roubados do comitê de Hillary Clinton e entregues ao WikiLeaks, de modo a favorecer o candidato republicano. Até que finalmente o procurador especial Robert Mueller decidiu falar.

Decidiu é um termo impreciso. Como o próprio procurador fez questão de esclarecer, ele não apenas resolveu passar a sua visão das conclusões alcançadas pelo relatório porque a investigação terminou, mas também pelo fato de que a partir daquele instante ele se aposentaria da vida pública. E caprichou na despedida. Especialmente em dois momentos, os quais ainda darão o que falar até as próximas eleições. Até mesmo após.

“Se tivéssemos certeza de que o presidente não cometeu crime, teríamos dito isso”, afirmou Mueller de chofre. Em seguida, salientou que responsabilizar o presidente criminalmente não era uma opção, uma vez que é vedado pelas normas do Departamento de Justiça, mas que a Constituição previa outro instrumento naquele caso específico.

No primeiro caso, a fala de Mueller vai de encontro à do Procurador-geral, William Barr. Em depoimento ao Congresso, Barr de certa forma reforçou a narrativa do presidente, tanto de que não houvera conspiração quanto de que não estivera envolvido em nada remotamente parecido.

No segundo, ainda que não tenha lançado mão do termo impeachment, Mueller deu o recado. E o fez de tal forma que os olhos de todos imediatamente se voltaram para o Congresso. Em especial na direção da deputada Nanci Pelosi, presidente da Câmara e líder democrata.

Contudo, Pelosi hesita. E seus motivos não deixam de fazer sentido.

A tese responsável pelo impasse é a de que o processo de afastamento do presidente pode muito bem ganhar força na Câmara, afinal a maioria ali é democrata, mas tende a não passar pelo Senado, no qual prevalecem os republicanos. Nesse caso, uma vez encerrado o processo, Trump poderia alegar que foi legitimamente inocentado. De que se submeteu ao trâmite estipulado pela  Constituição e, portanto, não caberia mais acusá-lo. Trocando em miúdos, estancaria um processo que machuca a sua imagem.

Pior, visando as eleições no ano que vem, reforçaria o discurso de “caça às bruxas” que tanto costuma utilizar.

Em recente pesquisa nacional organizada pela Universidade de Quinnipiac, uma ampla maioria dos americanos aprova os rumos da economia, com 71% cravando “ótimo” ou “bom”. Todavia, 54% alegaram que “definitivamente” não votariam no presidente americano.

É possível respeitar os questionamentos que Pelosi se faz, mas talvez não exista melhor momento para minar o presidente do que agora, quando nem mesmo o clássico “é a economia, estúpido” parece funcionar.

Mueller mostrou o caminho e Trump está nas cordas.

Resta saber o que farão os democratas.

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