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Urna eletrônica: grupo da UnB conseguiu violar sigilo do mecanismo de votação
Urna eletrônica: grupo da UnB conseguiu violar sigilo do mecanismo de votação| Foto:

Ao constatarmos mazelas que, de tão recorrentes, impõem a ironia como refúgio, dizemos que o Brasil não é para amadores. E não faltam frases de efeito no mesmo sentido. Somos hábeis na arte de manipular o cinismo à feição da nossa conveniência, mas desta vez nem sequer existe espaço para a autopiedade. A situação mudou. Principalmente se você for um eleitor decidido a rejeitar o embate entre extremos que se avizinha no segundo turno das eleições presidenciais.

Há coisa de poucos dias, jantei com uma grande amiga. Infelizmente para nós dois, desde que me mudei para São Paulo essas ocasiões não acontecem tanto quanto gostaríamos. Cortesia de uma cidade tão frenética que exige agendamentos até de chopes e cafezinhos. Pois a conversa corria tranquila até inevitavelmente cair no assunto do momento. Ela quis ouvir a minha opinião sobre o cenário eleitoral. Ouviu. Então, para meu espanto, declarou o seu voto sem que eu pedisse: “Vou de Amoêdo. Vou votar naquele que eu acho o melhor”. E eu ri.

Não foi uma reação de menosprezo pela escolha, que fique claro, mas de identificação. Afinal, para além das discordâncias naturais que possam existir em uma democracia, somos todos livres para nos manifestarmos politicamente da forma que considerarmos mais ajuizada… Desde que optemos por Fernando Haddad ou Jair Bolsonaro.

Ri porque, de uma forma ou de outra — apostando em Amoêdo, Alckmin e Marina, ou até mesmo optando pelo voto nulo —, o cidadão avesso ao petismo e à vitória de Bolsonaro se tornou uma espécie de náufrago sem bússola.

Muito desse quadro se dá por conta de um desejo aparentemente imutável, vindo de boa parte da sociedade, em apoiar radicalismos. Outro tanto pela incapacidade de leitura dos candidatos de centro, incluíndo aí episódios de pura vaidade. Contudo, também há uma generosa dose de desleixo para com a política partindo dessa parcela do eleitorado.

Agora, pior do que o endosso eleitoral da retórica adotada por Jair Bolsonaro ou o retorno do petismo ao poder, pior até do que os vaticínios feitos de ambos os lados da arquibancada, apregoando que nos transformaremos em uma Venezuela ou em uma Charlottesville, é a realidade de que o país sairá deste pleito mais dividido do que nunca. E de que uma parcela considerável do país deixou para se sensibilizar no último instante.

Existe uma chance razoável de que uma onda pró-Alckmin ganhe corpo nos próximos dias. Assim como de que Jair Bolsonaro perca espaço e seja ultrapassado por Haddad. Ainda que isso aconteça, este que vos escreve não consegue enxergar uma virada no último instante, parecida com a que se deu há 4 anos.

Tudo indica que o próximo presidente brasileiro sairá de uma disputa entre Fernando Haddad e Jair Bolsonaro, e se isso de fato acontecer, todos aqueles contrários a esse desfecho serão obrigados a pôr a mão na consciência. Culpa não será exatamente o termo adequado. Não para todos. Mas, sim, para muitos.

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