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Por que nós, jornalistas esportivos, escondemos o time do coração
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Uma foto do comentarista Mauro Cezar Pereira, da ESPN Brasil, à paisana na arquibancada de um jogo do Flamengo, circulou nos últimos dias pela internet e reativou uma polêmica eterna. Jornalista esportivo torce? Deve revelar qual o time de sua preferência?

Primeiramente, é óbvio que todo jornalista esportivo tem um clube do coração. Com raríssimas exceções, o profissional enveredou pela área porque é apaixonado pelo tema desde sempre. E, sendo assim, naturalmente um dia escolheu uma equipe.

Agora, respondendo diretamente às perguntas acima, jornalista torce? Sim, é compreensível que queira ver o seu time entre os melhores. E, finalmente, o profissional deve revelar com quais cores tem identificação?

É aí que o assunto gera controvérsia. Há quem não veja problema algum em contar por qual time torce. Eu discordo. Não acho uma boa ideia. Por um motivo simples: é informação absolutamente irrelevante.

Desimportante porque a opção clubística dos tempos de infância não interfere na atividade de jornalista esportivo. Que é trabalho, não diversão, nem hobby. Exercício que requer conhecimento, compromisso e, fundamentalmente, isenção.

Quem age diferente não prospera. Dá para contar nos dedos os jornalistas torcedores declarados que merecem alguma credibilidade. Os demais, a imensa maioria, separa as coisas. Não é difícil. E quem não consegue, perde espaço.

Ser jornalista esportivo não é estar na posição de Juca Kfouri e Mauro Betting, dois comentaristas estabelecidos, declarados corintiano e palmeirense, respectivamente. Os dois e poucos outros são exceções, não exprimem a realidade da profissão. A massa está nos treinos, coletivas, janelas, cabines de imprensa dos estádios etc.

Conhecer os times dos jornalistas serve, de uma forma geral, somente para saciar uma curiosidade besta de torcedores e dirigentes. Vira uma “arma” para atacar ao primeiro sinal de discordância e/ou descontentamento.

É até patético. Quando o jornalista traz informação positiva sobre determinado time, é visto como confiável. Agora, quando o assunto tem impacto negativo, é “sacanagem de quem só pode ser torcedor do rival”.

Há ainda outra prática comum, estimulada por cartolas e seus puxa-sacos, de jogar as torcidas contra os jornalistas ao serem contrariados. Covardia que encontrou o cenário ideal na internet das redes sociais e dos comentários anônimos.

São reações instigadas por duas disposições particulares. A ignorância quanto ao papel do analista e, principalmente, o valor da crítica. E um comportamento típico de quem não confia em ninguém, muito menos em si mesmo.

Enquanto for desse jeito, o melhor para os jornalistas esportivos é mesmo esconder o time do coração.

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