*Colaboração de Amanda Audi, repórter de Vida Pública da Gazeta do Povo.

CARREGANDO :)

Recentemente, o presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, Ademar Traiano, postou em seu Facebook pessoal uma foto em que aparece na cadeira de seu gabinete, rodeado por três secretárias. A foto foi replicada em blogs e redes sociais pelo cunho machista da publicação.

Não cabe à nós fazer juízo de valor sobre a forma com que o chefe se relaciona com as funcionárias. Ele pode ser respeitoso e gentil. Elas podem não reclamar.

Publicidade

Mas devemos atentar ao que a imagem representa. A semiótica do homem poderoso (ele comanda o Legislativo do estado e é atualmente o maior aliado do governador) acompanhado por três mulheres jovens e bonitas que lhe “servem”.

Não é difícil fazer uma busca rápida na memória para lembrar de outras situações parecidas. Desde a antiguidade, homens poderosos se valem de mulheres e seus corpos para se mostrarem poderosos e influentes.

Como os sultões e seus haréns ou, mais recentemente, as fotos divulgadas pelo líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, ao lado de mulheres que choram e se descabelam simplesmente por estar na presença dele.

Depois da repercussão negativa, Traiano apagou a foto do Facebook e disse que ficou “profundamente indignado” com o que aconteceu por ter sido o “instrumento involuntário desse incidente lamentável”.

Curta a página do blog no Facebook

Publicidade

É importante ressaltar que também é machismo as pessoas usarem palavras de baixo calão contra as funcionárias. Elas estão em uma relação de poder desigual e não podem nunca ser culpadas pela exposição que receberam.

As moças são livres e escolheram estar ali. Possivelmente não tenham visto problema nenhum em tirar a foto.

Não podemos esquecer, porém, que a forma como cada um deles [Traiano e as funcionarias] se posiciona, o lugar ocupado e a linguagem corporal, tudo isso demonstra uma certa objetificação dessas mulheres. Elas apareciam como se fossem “troféus”, e ele, o centro das atenções.

Além disso, o contexto em que a foto foi tirada (a Assembleia Legislativa) é predominantemente masculino. Poucas mulheres detêm cargos de poder e, quando isso ocorre, sofrem pressão para não levar adiante pautas feministas. Tanto que a maioria das deputadas da atual legislatura já disse que prefere ser “feminina” a ser feminista.

Publicidade

Um exemplo bem simples para testar situações potencialmente machistas é substituir a mulher por um homem. Imagine se fosse uma mulher em situação de poder sentada na cadeira rodeada por três homens bonitões. Quantas vezes você já viu isso ocorrer na “vida real”? Te parece um pouco estranho?

Não é questão de demonizar Traiano. Até porque situações como esta infelizmente são bem comuns. Inclusive o último presidente da Assembleia, Valdir Rossoni (PSDB), já foi acusado de atitudes machistas em duas ocasiões.

Durante uma manifestação na Assembleia em 2014, Rossoni usou o plenário para falar que uma das servidoras que estava ali protestando era “nervosinha”. “Imagina o que ela faz com o marido em casa”, disse ele. Em 2010, chamou uma usuária do Twitter, com quem discutia, de “mal-amada”.

Para quem tem dúvidas da diferença quando uma mulher está objetificada ou quando na verdade está em uma situação de poder, sugerimos dar uma olhada neste post [em inglês].