Thedy Corrêa, do Nenhum de Nós, fala com o blog

Thedy Corrêia| Foto:

A banda Nenhum de Nós, que tem Thedy Corrêa como vocalista e principal compositor, vai se

Novo álbum do Nenhum de Nós: “Sempre é Hoje”.

apresentar em Curitiba, no Teatro Positivo, no dia 4 de Novembro. O show tem como base seu mais recente álbum, chamado “Sempre é Hoje”, mas sem deixar de fora todos os grandes sucessos de sua carreira como “Astronauta de Mármore” (versão para “Starman”de David Bowie), “Camila, Camila”(não canso de falar que para mim essa música é o maior hino no combate a violência contra as mulheres), “Você Vai Lembrar de Mim”, “Vou Deixar Que Você Se Vá”, entre muitos outros.

A apresentação vai contar também com a participação muito especial da cantora Roberta Campos, que deve dividir o microfone com Thedy na execução do recente sucesso gravado pelos dois “Foi Amor”.

O bacana dessa participação de Roberta é que ela não vai ficar limitada a uma canção apenas e sim terá a oportunidade de mostrar seu show completo, ou seja, será uma noite de dois shows com apenas um ingresso.

Roberta Campos chegou ao conhecimento do grande público ao cantar junto com Nando Reis a canção “De Janeiro a Janeiro”, que logo após lançada alcançou grande sucesso de execuções e crítica.

Este está sendo um ano muito especial para banda Nenhum de Nós, que exatamente em outubro agora comemora 30 anos de estrada, e o que é mais incrível: chegam aos 30 anos com a mesma formação de quando começaram. Na esteira de comemorações, estão lançando até vinho com o nome da banda, além de estarem preparando um show para marcar essa data. E conforme Thedy contou ao blog esse novo show também deverá passar por aqui.

O livro ” A Obra Inteira de Uma Vida”

Mas o ápice deste ano festivo deve ser mesmo o lançamento do livro “A Obra Inteira de Uma Vida”, que conta toda a trajetória da banda, do início até os dias atuais. E mostra que para uma carreira artística chegar aos 30 anos a coisa não é tão fácil como possa parecer ou feita só de glórias e sim muito esforço e passando por muitas situações complicadas. O livro escrito por Marcelo Ferla já está a venda .

Na sexta feira (28/10), durante o almoço, entre saladas, brownies e profiterolis, o blog bateu um papo com Thedy Corrêa, um cara fã de David Bowie (como eu) e que faz muitas coisas ao mesmo tempo, inclusive música, e da boa!.

Vai aqui mais uma edição do Papo Reto.

Papo Reto com Thedy Corrêa:

Blog Música Urbana – César Brecailo: Você sendo escritor (3 livros publicados), palestrante, músico, compositor, cronista, já foi apresentador de programa de televisão e torcedor do Internacional. Como você se auto define?

Thedy Corrêia: Pô, tu sabe tudo!

Blog Música Urbana – César Brecailo: Já estava esquecendo: e roteirista de quadrinhos.

Thedy Corrêa: Roteirista de quadrinhos e sócio de uma editora de quadrinhos.

Blog Música Urbana – César Brecailo: Sócio de editora eu não sabia. Tem mais alguma coisa que eu tenha esquecido?

Thedy Corrêa: Olha, se tem uma coisa que une tudo isto, eu acho que é a arte em si, eu sou um artista, porque a minha matéria-prima é a palavra escrita, é a palavra cantada, é a música, é o desenho. E tudo isso está no campo da arte. Mesmo os textos, as crônicas, as narrativas está tudo no campo da arte. A gente já teve umas discussões dentro da banda mesmo “a gente é músico ou artista? ”. Eu falei “a música é o que? Arte! Então a gente é artista”.

Então eu me considero assim. Essas coisas todas que eu faço, até mesmo as palestras, elas são ramificações dentro da arte. Por isso que eu, de uma certa maneira, fico lisonjeado quando fala que eu sou multitarefa e na hora que eu tenho que resumir quando alguém pergunta “- O que tu é? – Artista”

Thedy homenageado com seu rosto em uma revista em quadrinhos

Blog Música Urbana – César Brecailo: A sua formação sem dúvida, me parece ser a arte. Mas dando ênfase a seu lado músico e compositor, como você desenvolve seu processo de criação dentro desse seu caldeirão multicultural?

Thedy Corrêa: A música foi a que se tornou mais forte para mim dentro dos tantos caminhos que eu percorri. Assim e ela acaba sendo mais predominante porque, por incrível que pareça, quando eu vou canalizar alguma coisa, primeira coisa que eu penso é transformar em música, entendeu? Então, por exemplo bem prático: eu ontem comecei a imaginar uma situação de alguém que esquece o celular. Porque hoje em dia se transformou quase que numa ramificação do corpo humano. O que acontece com alguém que esquece o celular? Eu ia escrever um texto, uma crônica e eu escrevi um poema que vai virar uma letra de música, entendeu?

Então a música para mim é o princípio, estou sempre com a música, sou ávido para descobrir novos artistas, por pesquisar bandas novas que estão surgindo, estou sempre atrás disso, é uma coisa que me move, que me estimula, que me inspira. Então eu acho que a música acaba sendo assim, o que puxa, se tudo fosse um trem a música é a máquina, é a música que puxa todos os outros.

Blog Música Urbana – César Brecailo: Na verdade, se eu tivesse que apostar, também apostaria que sua base seria a música.

Thedy Corrêa: É o caminho onde eu me sinto mais confortável.

Blog Música Urbana – César Brecailo: David Bowie realmente foi para você grande inspiração e influência? .

Thedy Corrêa: Ele influenciou sim. Eu não sei definir bem porque um artista te influencia mais que o outro, a não ser pelo gosto que tu tem, pela admiração que tu ouve e aquilo te fala muito. E o Bowie, a figura dele sempre me impressionou muito como artista, não digo a personagem no palco e tal, mas essa história dele ser “o camaleão do Rock”, né? E eu sempre achei isso sensacional, um cara que nunca se acomodou, que estava sempre buscando, o normal do Bowie era ser sempre diferente. Eu acho isso sensacional!

Se eu fosse um artista solo talvez eu fizesse muito do que ele fazia. Como a gente tem uma banda e ela respeita uma coisa mais orgânica, onde todo mundo interage então não acontece. Mesmo assim, eu sempre procuro fazer uma parcela de reinvenção muito inspirada no Bowie. A primeira coisa que me impressionou muito foi isso, que ele era um cara que sempre buscou ser diferente, buscou inovar. E eu sou um cara que li, leio muito sobre ele e a trajetória dele é impressionante nesse sentido.

Blog Música Urbana – César Brecailo: Eu lembro de ter visto você no show que Bowie fez em São Paulo, na casa de shows Olympia, na primeira vez que ele se apresentou no Brasil em 1990. Eu estava em um camarote ao lado do camarote da Rita Lee.

Thedy Corrêa: Reza a lenda que depois do show ela foi lá falar com ele.

Blog Música Urbana – César Brecailo:E você? Você chegou a ter algum contato com ele?

Thedy Corrêa: Infelizmente, não. Ele era um cara meio inacessível. E eu me lembro que conversei com o pessoal da gravadora na época. Foi a gravadora quem me convidou, pagou ingresso, e eu falei que queria encontrar com ele, dar um disco de presente, eles chegaram a fazer contato mas disseram que ele era um cara bem reservado. Então eu não consegui ter esse contato, mas eu te confesso que eu até acho bom, eu não sei como eu iria reagir na frente de um cara como ele. Meu primeiro impulso seria me ajoelhar e fazer reverência.

Blog Música Urbana – César Brecailo: Para mim Bowie foi o artista mais completo de todos os tempos!

Thedy Corrêa: O “Ziggy Stardust”, que talvez tenha sido a criação máxima dele, foi uma coisa pensada. Ele era um cara genial, um artista que dava os passos depois de muito pensar. E mesmo quando ele não estava muito consciente naquela fase em que ele estava abusando de droga e buscava sair um pouco do mundo, mesmo ali ele era um cara que sabia muito bem o que estava fazendo.

E a obra dele continua. Aí tu ouve o último disco “Blackstar” e tu vê que o cara planejou inclusive a despedida dele. Isso é impressionante. Eu ouço aquele disco, eu sempre me emociono de pensar que ele planejou os passos que ele daria.

Inclusive ele escreveu algumas mensagens, uns e-mails para alguns colaboradores dele, como o Tony Visconti que era o produtor e o Brian Eno, os dois falaram a mesma coisa que eles não se deram conta, mas os últimos e-mails eram de despedida. E tu vê que ele estava se despedindo dos caras mas que só iam entender isso depois que ele realmente tivesse ido embora.

Blog Música Urbana – César Brecailo: Quantos shows você viu do Bowie?

Thedy Corrêa: Eu vi dois. Esse de São Paulo e um aqui em Curitiba.

Blog Música Urbana – César Brecailo: Falando um pouco do show que vocês vão apresentar no Teatro Positivo: apesar de estarem fazendo 30 anos de banda, o show dessa turnê não é um show comemorativo, certo?

Thedy Corrêa: É um show onde apresentamos os grandes sucessos da carreira, mas também algumas músicas do nosso disco mais recente. A gente achou que não fazia muito sentido sair em turnê comemorativa tendo um trabalho novo ainda por desenvolver e mostrar ao público.

Blog Música Urbana – César Brecailo: Nesta apresentação em Curitiba vocês terão uma convidada muito especial, como surgiu essa parceria com a cantora Roberta Campos?

Thedy Corrêa: Aquela história, rede social é boa para um monte de coisa. Um dia, um fã que também gosta dela me falou “entra no site da Roberta Campos, ela está tocando “Sobre o Tempo” e eu fui olhar. Aí ela estava tocando e dizendo que adorava a banda, e aí na hora eu postei um negócio agradecendo, dizendo que me senti honrado e a gente começou a ficar em contato.

No meu primeiro livro, o “Bruto”, tem um poema que eu nunca quis musicar porque eu achava que tinha que ser uma parceria com uma mulher e não tinha uma mulher que musicasse aquilo, que tivesse uma proximidade. Aí eu falei: ”Roberta, dá uma olhada, estou com vontade de fazer uma música”. Dois dias depois ela mandou a música. Quando eu ouvi a voz e violão que ela me mandou, me emocionei: “Que música linda. Vamos entrar em estúdio, gravar logo essa música para lançar e gravar outras porque ficou muito boa”.

Ela canta muito, ela tem um timbre impressionante. Parece que a carreira dela está dando uma deslanchada. A música da novela “Sol Nascente”, de abertura está fazendo sucesso. A versão de “Casinha Branca” está fazendo sucesso também.

Blog Música Urbana – César Brecailo: Mas existe o plano de um show comemorativo rodar o país em breve?

Thedy Corrêa: A gente vai fazer uma temporada no Teatro São Pedro em Porto Alegre, com esse show de comemoração pela data. Foi nesse teatro que a gente gravou o primeiro e o segundo disco acústico.

Esse show será o acústico “1+2=30”, e sem dúvida a gente vai acabar passando por Curitiba com ele, não tem como. A gente fez um de 20 anos, que foi a céu aberto, durou dois anos de turnê e ficamos pensando em fazer de novo com os trinta. A gente fica meio refém dessa história então nesse momento, eu acho que ano que vem, a gente vai lançar um disco novo com música inédita. Continuar trabalhando nesse sentido é uma coisa que, nesse momento da banda, é mais importante manter produção, manter a vitalidade criativa do que se voltar tanto para o passado, entendeu?

Blog Música Urbana – César Brecailo: Como é ser uma banda independente no Brasil hoje em dia?

Thedy Corrêa: Aquela velha situação, né? Todo mundo fala que as gravadoras acabaram, mas o jabá não acabou, continua dominando as rádios, ainda é o cara que paga. Tanto que a música sertaneja sobrevive de investimento, para usar um termo mais respeitoso. Então quem é independente trabalha de outro jeito, faz outro tipo de promoção, estabelece outro tipo de relação com o público, porque se tu for tentar acompanhar essa história de investimento do jabá aí tua carreira vai ficar maculada por ser conivente com uma prática detestável. Segundo que tu tem que pegar um dinheiro valioso e investir nisso.

Banda “Nenhum de Nós”

Blog Música Urbana – César Brecailo: Como você trabalha o relacionamento com seu público, a impressão que eu tenho é que você tem um canal de comunicação muito próximo a ele.

Thedy Corrêa: Eu tento, mas não dou conta. Às vezes não consigo responder tudo, mas nunca por falta de vontade, e sim explícita falta de tempo. Tenho muito orgulho do nosso público e sempre que posso tento devolver esse carinho de forma mais direta e próxima possível.

Thedy Corrêia

Blog Música Urbana – César Brecailo: Como é sua relação com Curitiba?

Thedy Corrêa: Gosto muito da cidade, venho sempre. Tenho parentes que moram aqui, pelo lado da minha família e também pelo lado da família de minha esposa

Tenho muitas histórias na cidade. Inclusive tu sabe que o show que fizemos aqui em maio foi marcante porque eu reencontrei uma menina, a história dela eu conto no meu livro. Uma menina que passou por uma situação muito ruim de abuso.

Ela foi em um show aqui em Curitiba e uma amiga dela me falou que ela ira nesse que fizemos recentemente, e a gente se encontrou depois de anos. Mas ela está bem agora. Mas foi ali que a gente se encontrou, lá no Guaíra. Tem que ver como esse tipo de história chega para mim.

A frase que eu ouço é: “Eu sou uma Camila da vida real”.

Blog Música Urbana – César Brecailo: Eu costumo falar que se existe um hino de combate a violência contra a mulher, essa música seria a bela canção do Nenhum de Nós “Camila, Camila”

Thedy Corrêa: Pena que nem todos entendem a música da maneira correta como foi escrita. A pouco tempo atrás a gente falou no Faustão, nós estivemos lá um mês e meio atrás, naquele quadro Ding Dong cantando Camila e o Faustão me pergunta assim: “Quem é que comeu a Camila?”. O Faustão não entendeu. Ficou fora do contexto para c***. Comecei a rir e falei “cara, essa música falo o contrário”. Falei sobre a história da música e a gente falou um tempão sobre isso, nesse sentido foi bom.

Blog Música Urbana – César Brecailo: Para finalizar o papo da melhor maneira, vi que aproveitando as comemorações dos 30 anos da banda vocês inovaram e lançaram um vinho com a marca de vocês (NDN). Eu sempre imaginei que vocês fossem bebedores de cerveja, até por já existir a cerveja “Camila”, em homenagem a banda e também pelo Sadi (baterista) ser especialista em cerveja. Agora a Pergunta: Quando vai sair a Vodka “Nenhum De Nós”?

(Risadas Gerais)

Thedy Corrêa: Isso foi muito legal também. No último show que a gente fez no Rio, o pessoal dessa vinícola que são de lá foram ao show e nos presentearam com o espumante deles e nós ficamos amigos. E eles falaram: “vamos fazer um rótulo do Nenhum de Nós”. Sugeriam que fosse um Malbec, por esse e outro motivo. Nasceu o NDN Malbec, por iniciativa deles e o vinho é muito bom.

Fizeram um trabalho no rótulo sensacional com o astronauta, em referência à música. Com essa história de que a gente ficou muito associado à figura de astronauta por causa da música. Para gente comemorar 30 anos lançando um vinho é muito fino.

Blog Música Urbana – César Brecailo: Eu, particularmente, não sou bom bebedor de cerveja, minha preferência também é o vinho. Fiquei curioso.

Thedy Corrêa: Tu vai gostar. Eu acho que semana que vem quando a gente vier eu consigo trazer. Eles ainda estão entregando pelo site, em algumas lojas. A gente tem uma cota para receber que ainda não recebemos. Vou te presentear com uma garrafa.