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Cada um dá o que tem
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Saudações!

A história que eu vou contar, passou-se há algum tempo.

Sou imprecisa porque o tempo é misterioso e, por essência, subjetivo… Cem anos podem representar uma longa caminhada humana e soar como um “período grande e considerável”. Porém, estes mesmos cem anos, são um piscar de olhos, considerando-se a idade da história do homem no planeta. Assim, perdoem-me a falta de precisão ao narrar estes fatos acontecidos entre brechas na eternidade.

John chegou ao templo Shoren-in ainda jovem. Nem havia passado a marca das duas décadas. Ao cruzar aqueles muros, sagrou-se a religião e passou a ser conhecido como Sain Khan.

Fonte: Visual Hunt

Apesar da simplicidade do local, sentiu-se feliz por estar ali. Recebeu todas as orientações e dedicou-se de corpo e alma aquela nova vida.

Decorridos quinze dias, foi chamado para uma orientação com o mestre Shinran Shonin. Exultou! Tinha tantas dúvidas, tantas curiosidades que nem sabia por onde começar!

Ao adentrar nos aposentos, exalou o aroma da paz. Aspirou profundamente e colocou-se aos pés do mestre.

Tinha tanto a falar, no entanto, ficou um longo período em silêncio. Quando, enfim, Shonin abriu os olhos, ele considerou novamente a hipótese de se manifestar…

– Mestre Shonin! Estou tão feliz aqui em meio a luz e o amor que emanam desse lugar, mas causou-me espanto o comportamento do meu colega de quarto. Ele é grosseiro, ríspido, bruto e triste. Como, em um lugar como este, uma pessoa pode se comportar assim?

– Sain Khan, Shonin se alegra com sua presença e sua pergunta! Filho, basta que entenda: “Cada um dá o que tem!”.

E antes que pudesse responder, o mestre pareceu estar, novamente, em estado meditativo e Khan retirou-se, levando consigo um número ainda maior de dúvidas. Não compreendia, como podiam haver monges tão rudes em um ambiente tão amoroso e espiritualizado. O “vizinho” tinha tudo para ser feliz e estar em paz, no entanto, parecia viver em um inferno particular.

Fonte: Visual Hunt

Passou-se nova quinzena e novo encontro se deu. Ao adentrar nos aposentos de Shonin, exalou o aroma da paz. Aspirou profundamente e colocou-se aos pés do mestre.

Quando sentiu que era o momento para pronunciar-se, contou ao mestre suas vivências no templo.

– Mestre Shonin! O amor brota do íntimo do meu ser! Recebi muita ajuda e orientações do monge jardineiro! Ensinou-me os segredos das plantas e do coração dos homens! Como pode ser tão amável e generoso, mestre?

– Sain Khan, Shonin se alegra com sua presença e sua pergunta! Filho, basta que entenda: “Cada um dá o que tem!”.

E, como da vez anterior, recolheu-se em estado meditativo e Khan partiu para seus afazeres, ainda curioso em compreender aquela frase simples que continha ensinamentos preciosos. O jardineiro tinha tudo para reclamar, pois fazia um trabalho duro, sua pele era castigada pelas baixas temperaturas, pelas pedras e, no entanto, parecia viver no paraíso!

E novos amanheceres apontaram nos céus oportunizando nova conferência íntima. Ao adentrar nos aposentos de Shonin, exalou o aroma da paz. Aspirou profundamente e colocou-se aos pés do mestre.

Desta vez, mestre Shonin manifestou-se por primeiro:

– Adorado Khan! Vá ao jardim e traga-me a muda de yuzu.

Khan surpreendeu-se com o pedido, mas partiu em disparada. O mestre devia saber que ele havia passado os últimos dias, mergulhado no mundo rosa da belíssima espécie de árvore japonesa. Porque um espinhoso yuzu?

Voltou com a muda florescida, com pequenos frutos e colocou-a ao pés do mestre.

Mestre Shonin olhou para ele e para a muda e então pediu:

– Khan, agradeço pelo cumprimento da tarefa. Agora peço que extraia da muda algumas cerejas.

– Mestre, esta é uma “yuzuzeira”! Yuzus são frutas cítricas e ácidas. As cerejeiras ofertam flores e cerejas. São outro tipo de árvore.

– Assim são as pessoas Khan, cada um dá o que tem! Não podemos exigir doces cerejas daqueles que são produtores de yuzus.

Khan finalmente compreendeu, profundamente, o ensinamento. Agradeceu ao mestre e partiu para suas tarefas, certo que lembraria daquela lição para sempre.

Às vezes, ao convivermos com pessoas com atitudes grosseiras, interesseiras, rudes, más ou invejosas, perguntamo-nos o quê fizemos para merecer este tipo de tratamento.

Compreender que cada um dá o que tem, permite entender que não é nada pessoal! As pessoas nos tratam como são, expressando seu mundo interior. E assim, há mundos luminosos, cheios de amor, graça e paz e mundo de trevas e dor.

A boca fala do que está cheio o coração!

Os olhos veem do que está cheio o coração!

As narinas aspiram do que está cheio o coração!

Os ouvidos ouvem do que está cheio o coração!

As mãos tocam do que está cheio o coração!

Assim, para aqueles que nos ofertam amor, a nossa gratidão e aos demais, nossa empatia e compreensão! Também a nossa torcida, pois todos nasceram para serem felizes e na condição de aprendizes da vida e frutas da mesma árvore humana, sempre é tempo de aprender e mudar. Basta querer!

Beijão no coração,

Dani

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