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Depois do fatídico dia que o coelho perdeu a corrida para a tartaruga, ele não teve mais paz. Andava pela floresta achando que todos estavam comentando sobre seu fracasso. Rememorava cada detalhe daquele dia e não se perdoava por ter ido cochilar. Não se perdoava por ter sido tão tolo e subestimado a tartaruga.

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Passou dias assim, nesta ruminação mental até que resolveu agir. É assim mesmo… Uma hora é preciso secar as lágrimas, levantar do chão e começar a caminhar de novo…

Retomou seus planos de ação de começo de carreira e estabeleceu metas de treinamento árduas para si mesmo. O objetivo? Vencer a corrida do ano seguinte, claro!

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A expressão “obstinação” era uma brisa perto do tornado que existia dentro dele! Todos os dias o sol e lua o encontravam na pista de corrida. Parava apenas para dormir poucas horas e alimentar-se.

Tamanho era seu comprometimento que até o tempo resolveu acompanhá-lo! Passou zunindo e a nova corrida chegou!

A sua história se espalhou floresta adentro e afora e havia uma plateia ainda maior para assistir tão espetacular competição. Fora a tartaruga, mais ninguém se atreveu a participar. Por mais que a inscrição houvesse sido aberta ao grande público, havia uma aura de duelo no ar, o que não permitia intrusos.

O coelho chegou cedo, cheio de instrumentos especiais. Mediu a umidade de ar, a previsão de chuvas, a glicose do sangue e estava bombando energia e confiança. Olhou a plateia mas não fez nenhuma menção de cumprimentá-los! Iria deixar as saudações para a comemoração da vitória! Dizia a si mesmo: “-Hoje nada pode dar errado!”

Minutos mais tarde, um grande alarido se fez! Era a tartaruga que chegava ao local da corrida! Naquele passo manso de sempre, acenava para todos, sorrindo alegremente! Foi ovacionada de pé! Que coragem tinha aquela pequena!

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Posicionados na saída, ouviram o pio da coruja que autorizava a largada. O coelho saiu correndo tão velozmente, que chegou a levantar poeira na estrada de chão! A tartaruga ainda acenou a todos e saiu caminhando, na maior serenidade do mundo!

Em inacreditáveis 5 minutos, o coelho cruzou a linha de chegada. Seu tempo havia sido tão rápido, que muitos dos que acompanharam a saída não tinham chego a tempo de acompanhar o final da prova. Os sons das maritacas que ecoavam pela mata anunciavam o grande vencedor. E foram os únicos sons que se ouviram naquele momento.

Ele foi para o pódio. Posicionou-se no espaço destinada ao primeiro lugar e respirou fundo! “Eu consegui!”, disse para sim mesmo. Entretanto, não sentiu aquela felicidade costumeira. Respirou fundo de novo e refletiu: “Deve ser por conta da espera desta lerda!” E como tinha que esperar a tartaruga, sentou-se e aguardou.

Duas horas mais tarde, chegou a segunda colocada. O barulho foi ensurdecedor! Palmas, assovios, gritos de festa das maritacas, macacos, corujas, tartarugas, leões, tigres e de toda a bicharada! Foi levado pelas patas da multidão até o pódio.

Na entrega de medalhas, o silêncio se fez. Rei Leão discursou lindamente e agradeceu aos dois concorrentes pela competição limpa e honesta, pelo comportamento amigável dos concorrentes, pela bela e pacífica participação da plateia e aos organizadores. Ambos foram devidamente condecorados e o grande evento se findou.

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O Coelho foi para casa acariciando a medalha por entre as patas. Ele conseguira!

Os dias que se seguiram foram, misteriosamente, tristes para o coelho. Ele não tinha mais disposição para treinar, não queria nem sair de casa e aquela medalha na parede parecia cada vez menos valiosa.

Em uma noite fria, ouviu alguém batendo à porta de sua toca. Era D. Coruja.

– Saudações amigo Coelho! Como vai?

– D. Coruja! Prazer em vê-la! Estou indo… Mas entre!

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A coruja aceitou o convite e logo tomavam um chá de cascalho com pequenas lascas de capim limão.

-Vim até aqui porque faz noites que não o vejo treinar! Fiquei preocupada!

– Já ganhei a corrida! Pra que treinar mais? E o pior D. Coruja! Ganhar pra que? Pensei que esta vitória seria a grande realização da minha vida, mas me sinto vazio!

A sabia coruja respirou fundo, sorriu e respondeu:

– Meu querido coelho, as grandes vitórias e conquistas são aquelas que podemos compartilhar! São aquelas construídas por várias patas! A vitória é um banquete para muitos!

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– Isso! Tinha algo precioso para comemorar, mas sem ninguém para dividir! E a tartaruga que perdeu, curtiu tudo muito mais que eu!

– Quem disse que ela perdeu meu querido? A maior e única vitória que temos é sobre nós mesmos! Ela venceu a si mesma completando a segunda prova pelo segundo ano consecutivo! Compartilhou seus medos e anseios com os amigos que a ajudaram durante todo o ano! E assim, a vitória dela foi a alegria de todos!

E você? Isolou-se do mundo em prol da sua ascensão profissional! Esqueceu a família, não compareceu aos eventos sociais, não compartilhou, não dividiu!

O coelho caiu em si e chorou muito no ombro de sua grande amiga. Antes de ir embora, ela o abraçou e recomendou:

– Você é um ótimo menino! Tão novo que tem a vida toda para ser feliz! Ouça seu coração e CORRA atrás da verdadeira felicidade!  Aprenda com quem já sabe, resgate seus vínculos, expanda suas conexões e compartilhe saberes!

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Ele foi dormir exausto, mas pela primeira vez em semanas, em paz. Quando acordou, o vazio foi preenchido por dezenas de ideias! Fez um novo plano de ação, confiante que seria o melhor plano de ação que já havia feito na vida!

Foi buscar um sócio! CLARO!! Nada melhor que tem alguém para dividir ideias e sonhos! Precisava de alguém que super curtisse corrida como ele! CLARO!! Só podia ser a tartaruga!

Conversaram longamente, riram muito e se descobriram “almas gêmeas”! Sócios, montaram uma academia de corrida que respeitava o ritmo e as características individuais de cada aluno! Foi um ano intenso muita atividade e conexões!

No ano seguinte, propuseram um formato diferente de evento! Transformaram a corrida do ano em uma festa da família! Teve picnic na mata, brinquedos ao ar livre para os filhotes, feira de produtos locais, música nativa e claro, a corrida.

Diferentemente dos outros anos, haviam centenas de corredores! Aquele burburinho tão gostoso e tão pleno, que aquece o coração da gente! Ao som da coruja, todos saíram correndo. Exceto o coelho e a tartaruga! Eles ficaram acompanhando até que o último aluno saísse e foram escoltando a D.Cobra. Embora bem velhinha, ela era uma das alunas mais dedicadas e sempre sonhara em participar de uma corrida! Mesmo sem patas, ela descobriu que era capaz e foi acompanhada de pertinho pelos professores orgulhosos!

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Ao cruzarem a linha de chegada, ela foi recebida pela família com cartazes e muita festa! Vários alunos também era abraçados pelos amigos e familiares! O coelho abraçado a tartaruga, olhou, demoradamente, a sua volta. Foi o último a chegar naquele dia, mas nunca havia se sentido mais feliz e pleno em sua vida!

Logo foi encontrado pela mãe, pai e suas dezenas de irmãos que o cumprimentavam pelo sucesso do evento!

Novamente o Rei Leão subiu ao pódio para entregar as medalhas. Depois declarou:

– Hoje, excepcionalmente, iremos premiar os últimos colocados também! Pode parecer que são os últimos, mas estes competidores participaram de um outra corrida! Uma corrida única! Venceram o ego, venceram as diferenças e compartilharam as alegrias que hoje vemos aqui: Coelho & Tartaruga!

O barulho que se fez foi proporcional a felicidade vivida pelo Coelho naquele momento! Nunca um pódio deve tanto valor e sentido! E ele entendeu que vencer, é uma questão de foco, perspectiva e companhia!

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Por Dani Lourenço

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