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Saudações!
Este mundo anda tão maluco que, às vezes, as pessoas chegam a duvidar das histórias e causos que a gente conta…
Mesmo assim eu fiz uma promessa para o Sr. Tempo e aqui, neste texto, vou cumpri-la.
Era uma bela tarde ensolarada e resolvi caminhar no parque. Acho que Alice teve a mesma ideia que eu e nos encontramos próximo da ponte do Lago Verde.
Acabamos conversando e ela me falou sobre os seus desafios recentes… Confessou-me que a proposição dos últimos filmes foi empoderar as mulheres, que ficou feliz com o resultado e bem satisfeita com essa visão menos “alice” da Alice no País das Maravilhas.

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O Sr. Tempo, parecia saber de tudo e nos aguardava na pequena varanda, sentado em uma confortável cadeira de balanço. Cumprimentou-me pelo nome e acenou para o Sr. Coelho que não se demorou.
Convidou-me a sentar e ficou em silêncio. Senti-me um pouco desconfortável com aquilo… Pensava se eu não estaria o incomodando, afinal, o Sr. Tempo devia ser bastante ocupado.
Não consigo precisar quanto tempo aquele silêncio durou. Só sei que logo a outra cadeira de balanço que ele me ofereceu foi ficando mais confortável. Minha respiração foi se tornando mais serena e profunda e sei lá como explicar, mas meus sentidos ficaram mais aguçados! Eu “via mais”… As cores das flores, do céu, das borboletas que vieram fazer cócegas no meu nariz. Eu “ouvia mais”… o canto dos pássaros, o estalar do telhado, o chiado das cadeiras. Eu “sentia mais”… A brisa acariciar meus cabelos, o toque dos meus pés, agora descalços no chão. Os diferentes cheiros pareciam brincar de pique-esconde dentro das minhas narinas… Ora cheiro de mato, ora cheiro de flor, ora cheiro da madeira, ora cheiro de céu e vento, que aliás, nunca havia sentido… Até o gosto da água era único… Aquela jarra de vidro que estava entre nós parecia imantada por algo meio mágico.
O fato é que me senti profundamente paz… Absolutamente em paz… Misteriosamente em paz…
Hoje, rememorando este encontro, ouso julgar que era exatamente isso que ele queria… Que eu me sentisse plenamente em paz, porque logo em seguida ele me dirigiu a palavra:

— Querida Dani! Seja bem-vinda a minha casa! Gosto muito de conversar e será uma alegria responder suas dúvidas e quem sabe, acalmar suas inquietações. Sabe minha menina, ultimamente as pessoas têm esquecido o valor do diálogo. Julgam, condenam e se fecham em copas. Isolam-se uns dos outros e vivem com os corações sangrando por dores indescritíveis. Depois, lá vou eu trabalhar, porque segundo dizem, o tempo cura tudo! Poucos tem sua coragem! Vir me encarar face a face, dizer o que pensa, sente e tentar me compreender. Enfim, o que deseja saber?
Eu fiquei tão surpresa com o que ele falou que fiz uma pergunta bem boba.
— Porque sua casa é tão diferente daquela retratada no filme?
— Dani, ele respondeu, sua pergunta é muito interessante! Conversei muito com Alice sobre isso e foi minha a sugestão dessa representação imperiosa para meu lar. As pessoas não são muito sensíveis às coisas simples. Gostam de suntuosidade, glamour, brilho e ostentação. Às vezes, levam uma vida inteira para descobrir a magia contida na simplicidade.
– Posso perguntar mais uma coisa? Sou bem direta e não gastarei muito seu tempo! Quero saber porque anda com tanta pressa ultimamente? Parece que foi ontem que meus filhos nasceram, tenho dores de saudades da época em que foram bebês e balbuciavam as primeiras palavras! A semana voa e o final de semana acaba num passe de mágicas! Um Natal quase que encontra o outro! Porque não vai mais devagar?
Ele riu demoradamente. Aliás, gargalhou! E eu ali, tentando entender a graça…
— Menina Dani, Dani menina! Obrigada por esta oportunidade de rir tão gostoso assim! Fazia tempo que o Sr. Tempo não gargalhava! Exclamou: Quanto tempo o tempo tem? E caiu na risada de novo.
Confesso que a gargalhada era tão gostosa, que me contagiou e ficamos ali, tal qual bobos da corte, rindo do nada. De repente, ele começou a me explicar sobre o que havia perguntado:
— Sou uma questão de perspectiva! Passo rápido para você, mas demoro uma eternidade para aquela mãe que espera o filho na porta do centro cirúrgico. Voo na percepção daqueles que estão curtindo férias e fico estagnado para aqueles que ouvem um bombardeio nas proximidades de seus lares. Assim, ando na justa medida que minha mãe Vida me ensinou desde sempre.
Eu me aventurara até ali certa de que ele me ouviria, reduziria o passo e tudo se acertaria. Descobri ali, “no seco”, que não havia o que ser resolvido. Que as coisas eram como eram… Meu desânimo foi total, tamanho que ele percebeu.
— Ora, ora! Que carinha de muxoxo é esta? Vamos, vamos dona Dani, hora de sorrir e não de desistir! Já que você foi tão corajosa e determinada em vir até aqui, vou te ensinar como domar o Sr. Tempo!
Meu coração palpitou forte, sentindo que uma grande revelação seria feita! Ele se pôs de pé num salto e começou a dançar e declamar:
— Moça bonita, um segredo vou te contar
Se você deseja o tempo parar
Vou enfim meus segredos te revelar
Deixe o respeitoso passado guardado para sempre relembrar
Consinta paz e sossego ao futuro até o momento dele chegar
Viva o presente! Só o presente deve importar!

Ele então parou bem em frente a mim, olhou nos fundos dos meus olhos e confessou:
— O tempo pára quando estamos diante da felicidade! A felicidade mora nos detalhes, na simplicidade, no afeto, no carinho e no agora! Prestou atenção? Somente no agora! A felicidade no passado, chama-se saudade e a felicidade no futuro, chama-se sonho!

— Viva intensamente o agora! Nunca deixe para amanhã o abraço que você pode dar hoje! Não deixe para ser feliz somente nos finais de semana! Esteja plenamente na vida dos seus filhos, sem celulares entre vocês! Cozinhem em família! Façam picnics no quarto nos dias de chuva embaixo de cabanas de lençóis! Aproveitem o presente que minha mãe Vida envia a cada amanhecer para cada um de vocês: O TEMPO PRESENTE!
Sou o seu melhor companheiro, Dani! Desde que você saiba aproveitar a minha doce companhia! Levo todos os dias para vocês a maturidade, a sabedoria, a experiência e a cura!

Nem sei descrever o que senti… Chorei e compreendi! Abracei-o demoradamente e pedi perdão: — Amado Tempo, perdão por não te entender e ainda te criticar! Como posso me redimir?
Novamente ele gargalhou… Perdão? Não há o que perdoar, mas sim, você pode me ajudar! Prometa-me que contará meu segredo aos quatro ventos! Revele as verdades que somente o TEMPO sabe contar para todos aqueles que encontrar!
Acenei afirmativamente com a cabeça e, num gesto jovial e gracioso, ele tomou minhas mãos e as beijou. Olhou demoradamente no fundo dos meus olhos e disse: Nossa amizade é eterna, Dani!
Ainda tive tempo de perguntar: Mas quanto tempo dura o eterno?
Ele respondeu: Às vezes apenas um segundo!

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Por Dani Lourenço

 

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