Um bar (quase) secreto, de comidas incríveis e vinhos a bom preço em Paris

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O cardápio está sempre pendurado no teto, em qualquer uma das casas.

Opções de pratos do dia aparecem no quadro negro, ao fim do balcão.

Os vinhos são de ótimos produtores e todos eles vendidos somente em taças.

O cardápio do mar.

O foie gras entra em vários petiscos.

É meu cantinho favorito em Paris. Fiquei entusiasmado quando conheci, levado pelos amigos Fernanda Peruzzo e Juliano Barcella, moradores e conhecedores de todos os recantos saborosos da cidade. Fernandinha é da área, jornalista especializada em gastronomia (e, de uns tempos para cá, fotógrafa, cineasta e sei lá o que mais), que foi por anos titular da Vejinha em Curitiba.

Foi logo depois que inaugurou, em 2010, quando fui para o casamento de minha filha, que reside nas imediações. E aí, a cada retorno para matar saudades de família, dou um jeito de dar uma chegadinha.

Lembro que cheguei aqui de volta e espalhei a novidade para todos os amigos e conhecidos que teriam viagem marcada para Paris. E tentei por várias vezes começar a escrever. Mas queria fazer algo tão especial quanto o prazer que senti que travei e não consegui historiar. Às vezes acontece isso.

Retornei lá agora, fiquei feliz da vida novamente e decidi que desta vez não passaria. Teria de contar para todo mundo sobre o L’Avant Comptoir, um gastrobar (para utilizar o termo da moda) de balcão que serve ótimos vinhos e petiscos inusitados. Aliás, o próprio nome já o define, pois significa “defronte ao balcão”.

A história é mais ou menos assim. O chef Yves Camdeborde era, naquele momento, um dos baluartes da gastronomia parisiense. Para se ter uma ideia, obter uma mesa para jantar no restaurante, Le Comptoir, do hotel Relais Saint Germain, que o tem como titular na cozinha, requer reserva com até cinco meses de antecedência. E até hoje é assim.

Para o almoço, sem reservas, as filas de espera eram enormes e aí o chef decidiu abrir uma portinha ao lado (onde era a entrega de insumos e mercadorias de sua cozinha) para oferecer alguns crepes a quem estivesse aguardando uma mesa. As experiências eram tão interessantes e inusitadas – e ele começou a pôr as manguinhas de fora em ousadia e criatividade -, que muita gente passou a ir só para petiscar, levando-o a transformar a estreita passagem de mercadorias em um pequeno bar. E veio o L’Avant Comptoir.

Funciona assim: o menu está pendurado no teto, em pequenas placas de acrílico (ideia adotada aqui pelo Izakaya Hyotan, bar japonês), a preços interessantes. Para beber, bons vinhos em taça, mas bons vinhos mesmo. Que poderiam ser oferecidos a preços baixos, como consequência do também baixo custo total do empreendimento. Resumindo: lugar para comer bem, beber bem e pagar pouco.

Estive no mês passado novamente nas imediações daquela bela cidade, curtindo alguns dias familiares. E aí, é claro, dei um jeitinho de ir a Paris para uns beliscos no L’Avant Comptoir. Que agora não é mais só aquele corredorzinho. São três casas. Bem ao lado da original foi aberto o L’Avant Comptoir de la Mer, tendo como foco só pescados. Interessante é começar por este, harmonizar com um branco e pular para a porta ao lado, trocando petiscos e o vinho pelo tinto.

O terceiro, inaugurado no ano passado, fica um pouquinho mais distante, mas ainda na região: no Mercado de Saint Germain, com o nome Avant Comptoir du Marché. Sai um pouco do conceito estético, é mais espaçoso e tem seu cardápio praticamente todo baseado no porco. O Pé de porco com salada de beterraba é especial, mas há presuntos, terrinas, patês e um pernil assado lentamente, que se desmancha à boca.

O meu favorito ainda é o primeiro, de onde tudo começou. Está um pouco diferente, os preços já não são tão em conta como há alguns poucos anos. Digamos que glamorizou, por tanto assédio. Comparando, desde a fundação, alguns valores subiram até 100%, só por conta da badalação. Mas ainda vale muito a pena. Não abro mão dos corações de pato, dos rins de vitelo ao molho e, principalmente, dos Espetinhos de foie gras e piquillos (pimentõezinhos), uma incrível combinação de sabores.

Para acompanhar, uma taça de vinho Morgon e não precisa mais nada para ser feliz.

Rins de vitelo e uma taça de Morgon. Para que mais?

Localização

Como tudo em Paris, o metrô deixa quase na porta. E aqui, em especial, a estação fica a uns 50 metros da porta de entrada dos dois bares. No caso, a Estação Odeon, com acesso pelas linhas 4 e 10, no limite de Saint-Germain-des-Prés, no 6º arrondissement, próximo à margem esquerda do Rio Sena.

Avant Comptoir de la Mer e Avant Comptoir

3 Carrefour de l’Odeon, 75006 – Paris

Avant Comptoir du Marché

14 rue Lobineau, 75006 – Paris

Brochette foie gras piquillos. Meu petisco favorito.

Sempre reluto quando tenho de escrever sobre locais mais distantes, aos quais nem todos terão acesso. Algo como “tenho uma dica de um cantinho gastronômico imperdível lá no interior do Gabão”. Mas aí, ponderando bem, ouvindo interlocutores próximos, fui convencido da importância que uma dica assim pode representar para quem faz planos de viajar. Se for pensar em unanimidade teria de deixar de escrever, pois falaria de peixe para quem aprecia carne ou de pimentas para quem não suporta.

Além do mais, Paris é uma das cidades mais visitadas do mundo e se eu tenho a felicidade de conhecer muito bem a urbe e a região (pelas tantas viagens profissionais, incluindo uma Copa do Mundo e pela presença de familiares nas proximidades), suponho prestar relevantes informações a quem para lá se dirige.

E aqui, especificamente, num recanto da capital francesa que não está no roteiro turístico dos pacotes, embora já não seja mais tão exclusivo como das primeiras vezes que lá estive.

Enfim, é uma boa e saborosa dica. Quem estiver indo para lá, que aproveite.

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