A cobrança já não tinha sido a primeira. E era procedente. “Pô, você praticamente só publica receita de peixes em seu blog” – foi o que ouvi.
Imaginei uma resposta meio cínica, algo como “só isso não, também de outros frutos do mar”, mas meu interlocutor não merecia tal arrepiada. Mesmo porque, repito, o protesto (foi assim que entendi) era inteiramente procedente.
É que isso reflete um pouco a rotina que passamos em casa, onde a carne vermelha ocupa uma fração bem menor de nossas proteínas do que para a maioria dos brasileiros. Não que não aprecie um churrasco de vez em quando, longe disso. Mas sem exagero e certamente sem a frequência de tempos atrás. E com quantidades mínimas de consumo – comecei a reparar de uns tempos para cá que uns dois ou três nacos de carne são suficientes, passo a maior parte do tempo dizendo “não” nas churrascarias de rodízio.
Mas gosto, sim, de carne. Um bife de vez em quando, um picadinho, um assado. Mas é que, ao contrário de muita gente, que só gosta de carne bovina, meu conceito é bem mais amplo, incluindo carne de porco (adoro, é minha favorita), cordeiro, cabrito, coelho (e cada vez que publico alguma coisa vem gente dizer que tem pena do bichinho e outros que se trata de animal de estimação – argh!), javali e de caças. A carne bovina entra apenas como mais uma dessas e não somente como a única.
Vai daí que muito de vez em quando temos alguma receita que preencha esses requisitos pelos quais fui cobrado. Mas aí, perante a insistência e pelo tom da observação, fui dar uma pesquisada no que andei cozinhando de mais recente que porventura possa ter passado em branco dos parceiros leitores aqui do blog.
E achei um prato muito bom, que fiz nos meses finais do ano passado e que vale a pena executar. É uma receita da chef Heloísa Bacellar, que dispensa maiores apresentações. Mas, para quem possa ainda não saber direito, ela é proprietária do Lá da Venda, um misto de armazém, empório, rotisseria e restaurante, que se orgulha de oferecer “o melhor pão de queijo da cidade de São Paulo”.
Trata-se de uma Maminha na cachaça com rösti de raízes. Ao contrário da maneira como normalmente se consome a maminha, esta é cozida lentamente, por quase três horas, a ponto de se desmanchar de macia quando pronta. Há um toque de molho inglês, mas o que dá mesmo o sabor diferenciado é a cachaça, utilizada praticamente no momento de servir. De acompanhamento, um rösti (que é aquela fritada de batata que o pessoal daqui conhece como “Batata suíça”) não apenas da batata inglesa, mas combinando também mandioca e batata-doce.
O resultado da combinação de sabores é muito apetitoso e para aqueles tantos que vinham cobrando receita com carne aqui está uma resposta à altura da ansiedade. Vamos à receita?
Maminha na cachaça com rösti de raízes
Com base em receita da chef Heloísa Bacellar, do Lá na Venda (SP)
Maminha
100g de toucinho defumado, cortado em cubos
1 cebola grande, cortada em cubos
1 dente de alho, bem picado
1 pimentão vermelho, sem sementes, cortado em cubos
2 tomates, sem sementes e sem pele, cortados em cubos
800g de maminha bem limpa, cortada em cubos de uns 2 cm
1 folha de louro
2 colheres (sopa) de molho inglês
¼ de xícara de cachaça
água na quantidade necessária
4 ramos de salsinha para decorar
óleo vegetal a gosto
sal e pimenta-do-reino a gosto
Rösti
250 g de mandioca crua, sem casca
250 g de mandioquinha crua, sem casca
250 g de batata-doce crua sem casca
1 cebola pequena, cortada em cubos
¼ de xícara de salsinha, picada
75 g de manteiga
sal e pimenta-do-reino a gosto
Preparo
Regue o fundo de uma panela grande com um pouco de óleo e doure ligeiramente o toucinho. Junte a cebola, o alho, o pimentão, o tomate e espere murchar.
Acrescente a carne, mexa até que os pedaços mudem de cor de todos os lados, junte água até cobrir e também o louro, sal e pimenta.
Quando ferver, descarte com uma escumadeira toda a espuma que se formar na superfície. Abaixe o fogo e cozinhe por umas 2 horas e 30 minutos, com a panela semi-tampada, até que a carne esteja muito macia e se separando em lascas.
Guarde o caldo para usar num risoto ou numa sopa e, com um garfo, desfie a carne em lascas. Reserve.
Com um ralador grosso, rale a mandioca, a mandioquinha e a batata-doce. Coloque numa tigela grande, misture e esprema com as mãos para descartar o líquido que escorrer.
Junte a cebola e a salsinha, sal, pimenta, divida em 12 partes e reserve. Numa frigideira grande, aqueça metade da manteiga, coloque 6 montinhos da massa, pressione para achatar e ficar com mais ou menos 1 cm de espessura.
Deixe dourar por uns 3 minutos de cada lado. Transfira os röstis prontos para um prato e deixe no forno aquecido, mas desligado.
Aqueça o restante da manteiga na frigideira e prepare os demais, até terminar.
Montagem
Pouco antes de servir, aqueça um fio de óleo numa frigideira grande, junte a carne e o molho inglês e misture. Deixe aquecer e dourar um pouco, acrescente a cachaça, mexa apenas para umedecer de maneira uniforme, ajuste o sal e a pimenta e retire do fogo.
Em cada prato, coloque três colheres do rösti, uma parte da carne e decore com um ramo de salsinha.
Rendimento: 4 a 6 porções.
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