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“O coração é o que há de mais complicado e perverso: quem o poderá conhecer?”
(Jeremias 17, 9)
Luís Roberto Barroso, que deixa hoje a Presidência do Supremo Soviete Federal sem deixar saudades, confessou ter votado pela condenação de Lula em 2018 “com dor no coração”.
Nota-se que o coração de Barroso é um órgão bastante seletivo. Impassível diante de todas as perversidades e abusos cometidos ao longo dos últimos anos pela juristocracia brasileira, o coração do Voltaire de Vassouras só doeu ao tomar uma decisão justa. Algo assim como um relógio parado, que se lamenta apenas nos dois minutos do dia em que acerta o horário.
Mas houve diversas ocasiões em que o coração de Barroso não doeu.
Assim que o Imperador Calvo inaugurou o Inquérito do Fim do Mundo, o coração de Barroso pulou de alegria e orgulho.
No dia em que Lula foi descondenado por um capricho de CEP, o coração de Barroso permaneceu tranquilo.
No empastelamento do Terça Livre, jornal seguido por milhões de brasileiros, o coração de Barroso não se abalou.
Diante da iminência do voto impresso e auditável, Barroso empenhou-se de coração em destruí-lo. “Eleição não se ganha, se toma.”
No momento em que o Artigo 53 da Constituição foi rasgado para condenar o deputado Daniel Silveira por crime de fala, o coração de Barroso ficou pianinho. Gente incivilizada!
Na montagem do complexo industrial da censura nas eleições de 2022, com apoio e recursos americanos, Barroso e seu coração ficaram felizes. Há males que vêm para bem.
Quando pronunciou a frase “Perdeu, Mané, não amola”, o coração de Barroso sentiu-se vingado. Esse povo não se enxerga.
Na euforia do “Derrotamos o bolsonarismo!”, seu coração sentiu-se justificado perante o tribunal da militância. Chega de mágoa.
Enquanto milhares de inocentes caíam na armadilha do regime e tinham suas vidas destruídas, o coração de Barroso bateu com alívio. Salvamos a democracia.
Durante o cárcere infame de Filipe Martins — seis meses na prisão e dez dias na tortura de uma solitária por uma viagem que não fez —, o coração de Barroso permaneceu em mudo sossego.
Depois que o Supremo calou vozes em todo o país, o coração de Barroso o inspirou a dizer: “Não existe censura no Brasil.”
No auge da maior farsa judicial da nossa história, o coração de Barroso seguiu incólume e cúmplice.
Quando o corpo de Clezão foi devolvido à sua família, no mesmo dia em que o Imperador Calvo era condecorado por Lula, o coração de Barroso ficou em paz.
Em nosso tempo, a palavra “coração” é usada como sinônimo de sentimento. Trata-se, porém, de uma visão romântica e limitada do termo. No seu sentido mais amplo, sobretudo nas Escrituras, coração significa, conforme disse Bento XVI, “o centro da existência humana: uma confluência da razão, vontade, temperamento e sensibilidade, onde a pessoa encontra a sua unidade e orientação interior”.
O coração de Barroso — ou seja, o centro de sua consciência — conseguiu atravessar todas as calamidades dos últimos anos sem esboçar uma só reação de contrariedade, exceto essa patética declaração sobre Lula. Diante do sofrimento de uma nação inteira — que está longe de terminar —, esse será o seu legado.
Um dia, Barroso, você vai compreender a dor que o seu coração ignorou. Mas talvez seja tarde demais.
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