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Paulo Briguet

Paulo Briguet

“O Paulo Briguet é o Rubem Braga da presente geração. Não percam nunca as crônicas dele.” (Olavo de Carvalho, filósofo e escritor)

Delação torturada

Denúncia contra Bolsonaro é uma peça de ficção

Bolsonaro e cerca de 30 outras pessoas foram denunciados ao STF por tentativa de golpe de Estado e outros crimes. (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

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Como bem assinalou a professora Érica Cristina Gorga, em entrevista concedida a este cronista de sete leitores, a denúncia da PGR contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais 33 pessoas nada mais é do que uma obra de ficção.

Trata-se de uma narrativa construída por fragmentos esparsos — conversas de WhatsApp, anotações vagas em bloquinhos de papel, minutas jogadas no lixo, bravatas e comentários anedóticos que jamais se transformaram em fatos, livre associação de ideias que provocam rubor nas faces do mais desvairado psicanalista — e redigida por um roteirista inepto, que não conseguiria emprego nem como estagiário das chanchadas da Atlântida. Incapaz de praticar o bom direito, Paulo Gonet optou pela má literatura.

A espinha dorsal — ou melhor dizendo, o cabo de vassoura — desse espantalho jurídico-ficcional é a delação do tenente-coronel Mauro Cid, o Cordinha. Ocorre que a delação de Mauro Cid, como o Brasil inteiro já descobriu, é um ato juridicamente nulo. 

No capítulo 3 de “Arquipélago Gulag”, Soljenítsin elenca vários mais de 30 tipos de tortura utilizados pelos agentes comunistas para extrair confissões forçadas de seus interrogados. 

Uma das mais eficientes é a ameaça a familiares da vítima. Pois exatamente isso que o Imperador Calvo fez para extrair a delação de Mauro Cid: ameaçou perseguir e prender o pai, a esposa e a filha do tenente-coronel. Moscou, 1937? Não: Brasília, 2024. Delação premiada? Não: delação torturada. 

Qualquer sentença de prisão decorrente da farsa jurídica de Paulo Gonet servirá apenas como prova de que o Brasil vive uma ditadura na qual a lei e a justiça não significam mais nada

Há alguns anos, o professor Olavo de Carvalho afirmou: “Os Processos de Moscou são a forma mentis da esquerda mundial”. Mais uma vez, ele tinha razão. 

Para encontrarmos as origens históricas do processo contra Bolsonaro, devemos estudar os julgamentos-espetáculos montados por Josef Stálin entre 1936 e 1938. Uma excelente fonte para quem deseja conhecer esses processos é o livro “Os Tribunais de Stálin”, do historiador francês Nicolas Werth. 

No julgamento de 1936, os réus — entre eles Zinoviev e Kamenev, ex-adversários de Stálin na luta pelo poder — foram acusados de criar um “Centro Terrorista para tomar o poder a qualquer custo e (...) organizar atos terroristas contra os líderes mais eminentes do Partido e do governo”. 

Lembram-se do kid preto que iria dar um golpe de Estado mas não conseguiu fazê-lo porque não encontrou um táxi? Algo parecido aconteceu na Rússia de Stálin. Nathan Lourié (um dos acusados) detectou o itinerário habitualmente seguido pelo líder comunista Vorochilov, mas “se deu conta de que o carro de Vorochilov andava rápido demais para o seu talento de atiradores”. 

Também houve um plano para assassinar Stálin na 13ª assembleia da Internacional Comunista, mas o terrorista não conseguiu obter um cartão de acesso para o evento.

Ao final de um dos julgamentos, em 11 de março de 1938, o procurador-geral da União Soviética, Andrei Vyshinsky, ressaltou “a importância histórica excepcional” do caso, “que reside no fato de que o processo estabeleceu, demonstrou e provou com minúcia e exatidão excepcionais que os direitistas, trotskistas, burgueses, socialistas-revolucionários, nacionalistas e assemelhados não passavam de um bando de assassinos, espiões, terroristas e sabotadores sem ideais nem princípios”.

Todos os réus nesse processo foram condenados à morte. Em 1988, durante a glasnost, todos foram inocentados e reabilitados.

Assim como o Imperador Calvo, Vychinsky não era um comunista de origem. Mas serviu perfeitamente aos propósitos do sistema. Infelizmente, o carrasco dos Processos de Moscou morreu antes que pudesse pagar pelos seus crimes no tribunal. Espero que isso não aconteça no caso brasileiro.

Para finalizar com um toque de humor, cito uma das passagens involuntariamente cômicas dos Processos de Moscou. Durante o depoimento de um dos acusados, Vychinsky perguntou:

— Em 1936, quando faltaram ovos em Moscou, foi por culpa sua?

— Claro que sim — apressou-se em responder o réu. 

O ovo de Moscou me fez lembrar o ovo do Brasil — que está pela hora da morte.

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