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Está certo o Imperador Calvo em reclamar por ser tratado como uma celebridade da revista Caras. Nada do que ele ou seus companheiros de regime fizeram nos últimos anos poderia figurar nas páginas daquela famosa publicação. A Caras não tem a sua cara, majestade.
Acompanho a Caras há mais de 30 anos, desde que a revista começou a circular. Quando vou ao médico, sempre leio as belas reportagens sobre a vida dos famosos. Portanto, estou em posição de dizer que o Supremo Soviete Federal não tem absolutamente nada a ver com a linha editorial da revista.
A Caras mostra gente bonita, rica e alegre. Dessas três qualidades, o Supremo só tem a riqueza. Nada de bonito ou alegre existe ali. A Caras não promove censura, não persegue adversários, não solta corruptos, não favorece bandidos, não rasga a Constituição, não usurpa os poderes, não interfere em eleições, não descondena ninguém e muito menos tira um sujeito da cadeia para colocá-lo na cadeira presidencial.
Na Caras tem glamour, festa e curtição. Não tem tribunal de exceção, não tem delação torturada, não tem cerceamento do direito de defesa, não tem chantagem contra familiares, não tem medo de ser morto, não tem invasão de UTI. A Caras faz jornalismo, não persegue jornalistas.
A Caras não prende idosos, nem mães de família, nem trabalhadores sem antecedentes criminais. Não destrói a vida de terroristas cujas armas são batons, terços e bíblias. Lá ninguém será sequestrado e jogado numa cela infecta por muitos anos. Nunca se ouviu dizer que a Caras tenha deixado crianças órfãs e avós dilaceradas.
A Caras conta histórias — histórias leves, mas histórias. Ali ficamos sabendo quem casou, quem causou e quem tem casa. O Supremo, por sua vez, quer apagar a história e reescrevê-la segundo sua própria vontade (não à toa, um ministro arrogou-se “editor de todo um país”). Ali se decide qual criminoso será libertado (sem burocracia) e qual inocente será preso (sem anistia).
A verdade é que o Supremo faz coisas que causariam vergonha na Caras.
Em um ponto, porém, a Caras e o Supremo são iguais. Em nenhum dos dois você verá alguma referência àquele que tem tudo para ser o maior escândalo de corrupção da história, ocorrido no governo Lula III.
Os velhinhos roubados pelo governo petista não vão aparecer na Caras, e também não vão dar as caras no Supremo. Eles não têm glamour, não têm riqueza, não têm a beleza das celebridades.
As vítimas do roubo da previdência serão completamente esquecidas pela revista e pelo tribunal. A New Yorker não vai fazer um ensaio fotográfico com eles, muito menos escalar o biógrafo do Che Guevara para entrevistá-los.
No fim das contas, os ladrões da previdência estarão livres, leves e soltos — assim como tantos outros meliantes libertados pelo Supremo
E quem vai pagar a conta? Eu, vocês, meus sete leitores, e os milhões dos manés que formam o povo brasileiro e não aparecem na Caras.
Mas há um segundo ponto em comum entre a Caras e o Supremo Soviete Federal. A revista possui uma ilha particular — a Ilha de Caras —, à qual diversas celebridades são convidadas para passar dias de glamour. A Ilha de Caras é uma perfeita imagem do Supremo, do Congresso e do Governo brasileiro nos dias de hoje.
Os donos do poder vivem numa ilha, absolutamente separada da realidade das pessoas comuns e de quem carrega o país nas costas. Na verdade, a elite política está em guerra com o povo brasileiro, e faz de tudo para proteger-se dos insistentes golpes que lhes são desferidos pela realidade dos fatos.
Em Brasília, o problema não é a Caras; é a vergonha na cara.
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Conteúdo editado por: Aline Menezes




