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Paulo Filho

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Acontecimentos internacionais

2025: a retrospectiva de um ano em que a força voltou a decidir

Se houve uma dinâmica que atravessou, influenciou e condicionou, em maior ou menor grau, a maior parte dos fenômenos geopolíticos e estratégicos de 2025, foi a competição entre os Estados Unidos e a China. (Foto: Imagem criada usando ChatGPT/ Gazeta do Povo)

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Não faltou assunto em 2025 para aqueles que, como eu, se dedicam aos estudos estratégicos e geopolíticos. Nesta penúltima coluna do ano aqui na Gazeta do Povo, pareceu-me apropriado fazer uma retrospectiva do turbilhão de tensões interestatais, crises, conflitos e guerras que abalaram o mundo e que, neste momento, batem literalmente às nossas portas, com as graves tensões entre Venezuela e Estados Unidos. Na próxima semana, na última coluna do ano, tentaremos olhar para a frente e descortinar o que pode estar à nossa espera em 2026.

Ao pensarmos sobre o que aconteceu em 2025, lembramo-nos imediatamente dos dois principais conflitos, assim considerados pela enorme repercussão que exercem sobre as relações internacionais: a guerra na Ucrânia, que no próximo dia 24 de fevereiro entrará em seu quinto ano, e o conflito no Oriente Médio, envolvendo Israel, o Hamas e seus aliados, inclusive com o inédito ataque israelo-americano às instalações nucleares iranianas.

No entanto, muitos outros acontecimentos fizeram de 2025 um ano que será lembrado pela profunda instabilidade geopolítica. Mais do que uma coleção de crises, o ano que se encerra revelou um padrão: o retorno da política de poder, com a força — militar, econômica e tecnológica — voltando a definir limites, alianças e escolhas.

Foi nesse contexto de tensões crescentes que, na primeira coluna que escrevi neste espaço em 2025, tratei das ameaças feitas pelo então presidente eleito Donald Trump de retomar o controle do Canal do Panamá e de comprar a Groenlândia, apesar de a Dinamarca reiterar, à época, que aquele território não estava à venda. Já naquele momento, Trump sinalizava com clareza a prioridade que daria ao controle completo dos Estados Unidos sobre o hemisfério ocidental. Ainda nesse mesmo ambiente de endurecimento político nas Américas, a fraude eleitoral que perpetuou Nicolás Maduro no poder na Venezuela — e cujas consequências políticas e geopolíticas, visíveis até hoje, estão longe de uma solução — foi outro tema tratado em janeiro.

Se houve uma dinâmica que atravessou, influenciou e condicionou, em maior ou menor grau, a maior parte dos fenômenos geopolíticos e estratégicos de 2025, foi a competição entre os Estados Unidos e a China

Poucas semanas depois, ainda no primeiro mês do ano, a posse do presidente Trump se consolidaria como um evento crucial para o desenvolvimento das questões estratégicas e geopolíticas de 2025. Já naquele momento, o novo governo dava mostras de que promoveria uma guinada radical nos rumos da política internacional dos Estados Unidos — algo que, como sabemos, se concretizou de forma incontestável ao longo do ano.

Enquanto as atenções se concentravam nas grandes potências, fevereiro também foi marcado pelo recrudescimento da guerra civil no Congo.

Apesar de figurar na lista divulgada pelo presidente Trump como um dos oito conflitos internacionais por ele solucionados, o conflito permanece ativo e certamente continuará a produzir manchetes tristes em 2026.

Na esteira da guerra na Ucrânia, em março, a fala do primeiro-ministro da Polônia, ao sugerir que o país deveria considerar a aquisição das mais avançadas capacidades militares — inclusive armas nucleares — antecipou um debate que segue presente no apagar das luzes de 2025. O que conecta a Europa e o Indo-Pacífico nesse debate é a mesma constatação incômoda: em um sistema internacional cada vez mais conflagrado, promessas e tratados parecem valer menos do que capacidades concretas. Não por acaso, discussões semelhantes emergiram também no Japão, acendendo todos os alertas possíveis sobre o risco de um novo impulso de proliferação nuclear.

Pouco depois, em maio, o conflito entre Índia e Paquistão — dois inimigos históricos e detentores de armas nucleares — voltou ao centro do noticiário, com combates aéreos que causaram baixas em ambos os lados.

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No segundo semestre, a atenção voltou-se para o entorno estratégico do Brasil. Em agosto, uma das colunas foi dedicada ao início da concentração de meios navais americanos no Mar do Caribe. Desde então, as pressões dos Estados Unidos sobre a Venezuela só aumentaram, culminando na determinação de um bloqueio naval que restringe o livre trânsito de navios-tanque transportando petróleo venezuelano, ampliando significativamente a pressão econômica sobre o regime de Nicolás Maduro.

Se houve uma dinâmica que atravessou, influenciou e condicionou, em maior ou menor grau, a maior parte dos fenômenos geopolíticos e estratégicos de 2025, foi a competição entre os Estados Unidos e a China. A coluna da semana passada mostrou como essa disputa chegou com força inédita à América Latina, projetando seus efeitos sobre uma região que, por muito tempo, esteve à margem do confronto direto entre as grandes potências.

Muitos outros eventos contribuíram para tornar 2025 um ano marcante. O aumento generalizado dos investimentos em Defesa, o dilema enfrentado pela Europa na definição dos rumos de sua segurança e a crise do multilateralismo são apenas alguns exemplos de tendências que devem continuar a moldar o cenário internacional.

Para nós, aqui no Brasil, resta acompanhar atentamente os acontecimentos internacionais e ajustar as velas conforme a força e a direção das disputas geopolíticas globais. Ou seja, navegar na direção dos interesses nacionais, a despeito de ventos contrários e mares bravios. Para isso, como escrevi neste espaço em diversas ocasiões ao longo de 2025, é fundamental criar as capacidades econômicas, políticas, científico-tecnológicas, psicossociais e militares que permitam ao Brasil buscar, alcançar e defender seus próprios objetivos estratégicos. Muitas vezes isso parece difícil, mas me recuso a acreditar que não sejamos capazes. Afinal, o Natal é tempo de renovar esperanças.

Feliz Natal a todos os leitores!

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