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Paulo Filho

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Potências nucleares

Índia e Paquistão à beira da guerra

Cidadãos paquistaneses seguram bandeiras nacionais no lado paquistanês da fronteira entre o Paquistão e a Índia durante a cerimônia de arriamento da bandeira, na fronteira entre o Paquistão e a Índia, em Wagah, Paquistão, em 4 de maio de 2025. (Foto: Rahat Dar/EFE/EPA)

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Índia e Paquistão, duas potências nucleares, estão novamente à beira da guerra. As tensões entre os dois países aumentaram significativamente após um ataque terrorista em abril deste ano, na região de Pahalgam, na Caxemira controlada pela Índia, que resultou na morte de 26 pessoas.

A expectativa de um conflito é justificada pela repetição de uma dinâmica conhecida. Ataques terroristas anteriores já suscitaram reações militares indianas, que sempre acusaram os paquistaneses de apoiarem as ações terroristas – o que Islamabad sempre negou. 

Em setembro de 2016, militantes atacaram uma guarnição do Exército na cidade de Uri, causando a morte de 19 soldados. O Exército indiano reagiu com ataques limitados a guarnições militares paquistanesas na Caxemira. 

Em 2019, a dinâmica se repetiu: um carro-bomba se chocou contra um ônibus que transportava policiais indianos, causando a morte de 40 militares. Novamente, a Índia reagiu, inclusive com ataques aéreos ao território controlado pelo Paquistão. 

Naquela oportunidade, em um raro exemplo moderno de “dog fight” – combate direto entre aeronaves –, um caça paquistanês abateu um caça indiano, o que resultou na captura do piloto indiano com vida, apresentado como um troféu pela imprensa paquistanesa.

Além dessas escaramuças pontuais, a disputa pela Caxemira, que remonta à independência dos dois países, ocorrida em 1947, já levou Índia e Paquistão a travarem três guerras. 

A primeira guerra aconteceu logo após as independências e resultou no traçado de uma linha de controle, que passou a separar, na prática, as regiões da Caxemira controladas por cada um dos dois países.

A segunda guerra foi travada em 1965, durou apenas 17 dias, mas causou milhares de vítimas de ambos os lados. A terceira, ocorrida em 1999 e conhecida como Guerra de Kargil, foi limitada e ocorreu após a infiltração de tropas paquistanesas na Caxemira controlada pelos indianos.

A história indica, portanto, que a possibilidade de um novo conflito envolvendo os dois rivais do Sul da Ásia é elevada. A escalada das tensões já começou e vem se intensificando. 

Logo no dia seguinte ao atentado, a Índia anunciou uma série de medidas: suspendeu um importante tratado que regula o fluxo das águas dos rios que correm do território controlado pela Índia para o Paquistão, fechou passagens fronteiriças estratégicas e expulsou diplomatas e militares. 

O Paquistão respondeu com medidas análogas e declarou que a interrupção do fluxo de rios em direção ao seu território seria interpretada como um ato de guerra. 

Desde os primeiros dias da crise, praticamente todas as noites têm ocorrido trocas provocativas de tiros de armas leves entre os postos militares dos dois países ao longo da linha de controle.

O momento global é especialmente conturbado. Vivemos uma fase de erosão da ordem internacional e de multiplicação de crises simultâneas, com as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio em pleno curso.

Soma-se a isso a retração das instâncias multilaterais, evidenciada pela paralisia da ONU e pela inoperância de seu Conselho de Segurança, além da guerra comercial deflagrada pelos Estados Unidos contra a China, com reflexos para todo o mundo.

Esse cenário não favorece a construção de consensos, muito menos uma solução negociada para a crise entre Índia e Paquistão. Diante disso, esta crise não pode ser menosprezada. 

Trata-se de um dos pontos mais perigosos do tabuleiro geopolítico atual, com potencial para desencadear uma guerra entre duas potências nucleares, em um mundo já saturado por conflitos

A ausência de canais eficazes de mediação, o aumento do nacionalismo em ambos os países e o histórico de retaliações cruzadas tornam a escalada quase automática. 

Se não houver contenção imediata, a Caxemira pode voltar a ser palco não apenas de uma nova guerra, mas de um conflito de enormes repercussões para a segurança internacional.

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Conteúdo editado por: Aline Menezes

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