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Quebra de safra e a crise que ameaça o produtor rural brasileiro
| Foto: Foto: Departamento de Comunicação do Sistema FAEP/SENAR-PR

Os produtores rurais já começam a perceber, no dia-a-dia, os sinais da crise que se aproxima em 2024.

Um exemplo é a Show Rural de Cascavel. A feira é marcada por um alto volume de compras de máquinas e insumos agrícolas. Mas quem é produtor, sabe quando a preocupação fica estampada no rosto de quem vai ao evento. Muita gente “tirou o pé”, pisou no freio neste ano.

Temos uma quebra de safra cada vez mais evidente, provocada por instabilidades climáticas e agravada pela falta de atenção do governo federal com a questão do seguro rural – voltaremos a isso mais tarde.

No melhor dos cenários até agora, a quebra de safra brasileira deve retirar de circulação algo como 12 a 20 milhões de toneladas de grãos – e mais que o dobro disso nas piores análises. Você tem ideia do que são 20 milhões de toneladas a menos de grãos colhidos, preparados, transportados e exportados?

Um impacto gigantesco, principalmente para os municípios menores do interior do país. É clara e transparente a relação entre o desenvolvimento dessas cidades conforme a rentabilidade dos produtores rurais. Se eles não conseguem pagar as contas, nem ter lucro, obviamente isso esfria o comércio.

Sem contar as consequências ao setor de logística e transportes, na geração de oportunidades, emprego, renda direta e indireta. Some-se a isso a questão do preço das commodities, e está montada a tempestade perfeita.

Temos uma quebra de safra cada vez mais evidente, provocada por instabilidades climáticas e agravada pela falta de atenção do governo federal com a questão do seguro rural

Dados do Instituto IMEA, do Mato Grosso, e da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) dão uma amostra do tamanho dessa preocupação. Em Mato Grosso, a soja, que até recentemente era negociada a 140, 150 reais, hoje, está com o preço na faixa dos 90, 100 reais.

O pior disso tudo é que são valores praticados que não pagam mais o custo de produção. Uma relação que só piora desde 2023 e corroeu o lucro de quem produz. Nem em seus piores pesadelos, o produtor poderia imaginar que viveria algo assim. Sem lucro, o produtor não investe e, em alguns casos, desiste e vai plantar outra coisa, como milho.

Como presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, vejo que será preciso participação fortíssima do governo federal, ainda que não tenha sido lá muito fiel ao agro, na busca por soluções. Política de preço mínimo, alguma compra significativa, trabalhar junto a instituições financeiras para que antecipem pagamentos aos produtores.

Temo que não vamos escapar de um cenário de prorrogação de dívidas. O momento é muito grave.

Como disse acima e na semana passada, essa crise foi agravada pela falta de atenção do governo com o seguro rural, instrumento fundamental em momentos como este. Dados da Confederação Nacional da Agricultura (CNA/SENAR) mostram que, nos últimos três anos, a área segurada no país caiu a menos da metade. Era de 13,69 milhões de hectares em 2021. Dois anos depois, passou para 6,25 mi.

No Orçamento Anual, no ano passado, a previsão era de R$ 1,06 bi – dos quais, fora o que foi contingenciado pelo governo, sobraram R$ 933 milhões. Para este ano, a previsão é de R$ 940 milhões, mas todo esse valor pode ser contingenciado. Principalmente depois que o presidente Lula vetou emenda da FPA na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que impede cortes, bloqueios, e garante recursos programados para o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural. Mais um veto que precisamos derrubar.

A CNA propôs duas soluções urgentes para o Programa do Seguro Rural. A primeira, uma suplementação de R$ 2,1 bilhões, totalizando R$ 3 bi, além de assegurar a estabilidade orçamentária, a fim de evitar cortes, como os do último ano; e a regulamentação do Fundo Catástrofe, instrumento de segurança para os produtores, diante das instabilidades climáticas e da possível falta de cobertura das seguradoras.

Assim como a CNA, a FPA seguirá em busca de soluções, no Parlamento Brasileiro, para ajudar os produtores nessa crise que se avizinha. Estamos acostumados a ver o agro carregar a economia brasileira nas costas. Tenho dúvidas se, neste ano, nós, produtores, conseguiremos fazer isso.

Conteúdo editado por:Jônatas Dias Lima
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