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Foto: Ramiro Pisseti/ Divulgação
Foto: Ramiro Pisseti/ Divulgação| Foto:

Eles não se acham veteranos porque “ainda têm muito a dizer”. Por isso, é fácil perceber que a experiência da banda Cacique Revenge não está escancarada necessariamente em alguns fios de cabelos brancos do guitarrista Rafael Martins, mas no fim de todo o processo que faz um grupo ser mais do que seus comparsas mais jovens: a música e a troca de ideias.

Foto: André Rodrigues/ Gazeta do Povo

Foto: André Rodrigues/ Gazeta do Povo

A banda lança seu EP nesta quarta-feira (18), com show no Vox Ruby Lounge — veja serviço abaixo.

O supergrupo curitibano é um time misto. Na voz, tem Cassiano Fagundes (Cassim & Barbária, Bad Folks, Magog), na guitarra, Rafael Martins (Excelsior, Wandula, ruído/mm, Copacabana Club), na percussão, o “punk” André Tobler, no baixo e na bateria a metade da banda Uh La La!, respectivamente Andreza Michel e Babi.

A mistura disso tudo é um rock sexy e grandiloquente, que vai do afrobeat ao indie rock em alguns compassos. É como se Vampire Weekend tivesse dado um encontrão em Jesus & Mary Chain. São cinco músicas, em inglês e português.

O Cacique Revenge gravou seu EP no estúdio Ouié/Touhosound, em Florianópolis – onde a Audac talhou seu disco com o produtor Gordon Raphael. E o lançou pelo selo SIC Music, também de Floripa, em formato álbum magazine, uma revista-conceito (arte de Mariana Zarpellon) que traz um código para download do áudio.

Na entrevista a seguir, Cassiano e Rafael falam sobre a motivação para continuar a tocar, as influências para o disco e a cena curitibana, assunto sobre o qual são experts. “Alguns parecem querer aparecer e ‘estourar’ a qualquer custo”:

Todos vocês já são meio que “veteranos” na cena musical da cidade. O que os motiva a montar mais uma banda, gravar mais um disco, fazer shows, acordar de ressaca etc?

Rafael: Não somos veteranos. Achamos que ainda temos muito a dizer, por isso seguimos fazendo música. Veterano é quem faz um som pra lembrar dos velhos tempos. Eu e o Cassiano somos orgulhosos o suficiente pra pararmos de tocar antes de chegarmos a esse ponto. E, como disse outro dia o Jeff Tweedy, é ridículo achar que a arte (a música) é restrita a quem tem menos de 25 anos de idade.

Cassiano: É raro eu beber em noite de show o suficiente pra ter ressaca. E acho que fazer música é um vício. Não consigo parar. Já tentei várias vezes, teriam vários motivos pra isso. Mas não dá. Além disso, quando reencontrei essa turma, me diverti muito tocando com ela. É muito prazer pra deixar pra lá.

E essa ideia de lançar o EP em forma de revista?

Cassiano: Eu não gosto do formato CD. Fui um dos caras que no final dos anos 80 caíram na lorota de que ele era melhor do que o vinil, que CDs seriam indestrutíveis e durariam pra sempre. Graças à internet, não sou mais obrigado a lidar com essa porcaria! A revista é uma ideia legal, porque traduz nosso som e intenções em imagens. A ideia é na verdade do selo SIC Music, que já lançou vários trabalhos muito interessantes nesse formato.

Rafael: Assim que gravamos as canções, no Ouié Tohosound, em Florianópolis (onde depois o Audac fez seu disco com o Gordon Raphael), a SIC Music, um selo lá de Floripa, ouviu, adorou e nos propôs lançar. Topamos. E esse é o formato com que eles trabalham. Eu gostei muito. Hoje, a música está na internet. Então, não faz sentido lançar um CD — é um formato datado. Mas a arte faz falta. O álbum magazine cobre essa lacuna. Você compra a arte e ganha o download das músicas, onde e quantas vezes quiser. Se não quiser comprar, ouve as músicas na web sem problema algum.

Foto: Ramiro Pisseti/ Divulgação

Foto: Ramiro Pisseti/ Divulgação

A contar pelos trabalhos anteriores dos integrantes do Cacique Revenge, as influências musicais são quase infinitas. Apesar disso, o EP é coeso em sua proposta sexy e grandiloquente. Como conseguiram dar essa cara ao trabalho em meio, imagino, a tantas referências?

Rafael: Desde que nós cinco começamos a tocar juntos, percebemos que houve uma conexão imediata. A banda encaixou. E isso nem sempre acontece. Considero o Cacique Revenge a melhor banda com que já toquei. A música que fazemos é um resultado das nossas influências, mas há um direcionamento, uma linha estética que buscamos quando compomos.

Cassiano: Assim como o Rafa, também acho que o Cacique é um pico na minha história musical. No ponto em que estamos, a maior influência são as personalidades de cada um e o histórico de cada um, ao invés de o som de uma banda específica, ou de um gênero. Sempre quis ter uma banda com percussão, que tivesse algo afro-brasileiro, com guitarras barulhentas em cima de tudo e um baixo agressivo. Acho que a percepção que muitas pessoas têm sobre o que é música brasileira é um pouco limitada. O que fazemos é música brasileira contemporânea, mesmo que metade das canções sejam em inglês. Não estamos tentando emular o som de uma cidade anglo-saxã ou algo do tipo.

A cena musical da cidade hoje é diferente de quando vocês começaram a tocar?

Cassiano: A cena está bem mais comportada do que era nos anos 90. E alguns parecem querer aparecer e “estourar” a qualquer custo, o que pode significar deixar a atitude em casa, ou nem mesmo tê-la. Antigamente, era muito raro uma banda underground e independente aparecer nos grandes canais da mídia, e quando o fazia, tentava usá-los para dar seu recado. Hoje, vejo bandas independentes excelentes se curvando a uma lógica que é exatamente contra os princípios do que é ser independente. Fazem de tudo pra aparecer, e quando ganham seus 15 minutos de fama, aceitam ser tratados como produto de décima categoria só por causa da exposição. É compreensível alguém ficar deslumbrado com as luzes dos holofotes, mas não dá pra esquecer o que se é por causa deles.

Atitude significa muita coisa. Não se comportar como um babaca por causa dos 15 minutos de fama é uma delas. O Fugazi é uma banda lendária e conhecida no mundo todo. Quando tocaram em Curitiba, ajudaram o dono do bar a limpar o camarim improvisado que usaram, e davam a mesma atenção ao fã de 16 anos, ao porteiro do bar e ao jornalista paulistano famoso, sem distinção. Além disso, não tocar em festivais e eventos patrocinados por grandes corporações que comprovadamente tratam os funcionários mal, ou que exploram trabalho infantil, que não respeitam a natureza, ou que vendem produtos com elementos que provocam doenças, é o mínimo de postura que um artista independente tem que ter.

Rafael: Os problemas são basicamente os mesmos. Faltam lugares para tocar, os cachês são ridículos. Mas há, como sempre houve, bandas legais na cidade. Por outro lado, o público aumentou — me lembro que, em meados dos anos 1990, quando tive as primeiras bandas, o público era formado basicamente por outros músicos.

Serviço

Cacique Revenge. Show de lançamento do EP. Dia 18 às 21h.

Vox Ruby Lounge (R. Barão do Rio Branco, 418). (41) 3233 8908. www.voxbar.com.br

R$ 15 (com direito a um exemplar do album magazine).

Making of do EP:

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