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Urso de Ouro 2019 vai para Israel
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Na noite deste sábado (16), em cerimônia de gala, o Festival de Berlim divulgou os vencedores dos Urso de Ouro e de Prata desta 69ª edição do evento.

Antes da premiação  Dieter Kosslick – em sua última edição no festival – recebeu uma comovente homenagem e foi ovacionado pela plateia que lotava o Palácio dos Festivais.

“ Synonymes”, de Nadav Lapid – Israel, foi  o  grande vencedor do Urso de Ouro.  O filme  segue um jovem que deixa o Exército de Israel por discordar das políticas de seu país e se muda para a França.  O filme também levou o prêmio da crítica internacional (Fipresci)

O Grande Prêmio do Júri foi para  “Grâce a Dieu”, de François Ozon, que aborda o caso real do padre Bernard Preynat acusado em 2016 de ter abusado sexualmente de mais de 70 jovens escoteiros entre 1986 e 1991.

A mehor diretora foi a alemã Angela Schanelec  com “I was at home, but”, filme construído usando elipses. Muito emocionada,  ela agradeceu ao festival, ao júri e à sua família.

O prêmio de melhor atriz foi para a Yong Mei por sua interpretação  em “So long my son”, de Wang Xiaoshuai.  Wang Jing, pela atuação no mesmo filme,  ganhou o prêmio de melhor ator. O filme segue  um casal afetado pelas convulsões político econômicas da China nos últimos 30 anos, entre elas a do filho único.

O prêmio Alfred Bauer (por trabalho inovador e que abre novas perspectivas ), foi para System Crasher, de Nora Fingscheidt.

Maurizio Braucci, Claudio Giovannesi e Roberto Saviano ganharam o prêmio de melhor roteiro em “La Paranza dei Bambini”, de Claudio Giovannesi. O filme segue um grupo de garotos napolitanos que se infiltram em gangues locais. O jornalista Roberto Saviano é autor do livro que inspirou o filme.

O Brasil – que teve uma ótima participação neste ano – também  sai com prêmios do festival.

Eliza Capai com o seu “Espero tua (re) volta” conquistou o Prêmio da Anistia Internacional e o importante Peace Film Prize  Mostrado na Geração, o filme é sobre o episódio da ocupação de escolas por estudantes em São Paulo em 2015.

Greta, de Armando Praça, que  segue um enfermeiro gay, estrelado por Marco Nanini, recebeu uma menção do Prêmio Teddy Bear – para filme com temática homossexual. O vencedor foi “Breve História do Planeta Verde”, do argentino  Santiago Loza, em coprodução com o Brasil.

“Rise”, curta-metragem de Bárbara Wagner – sobre músicos no subúrbio de Toronto, foi vencedor do Audi Short Film Award, uma das patrocinadoras do festival.

 

Vencedores dos principais Prêmios

Urso de Ouro: Synonymes, de Nadav Lapid – Israel

Urso de Prata –  Grande premio do júri:  Grâce à Dieu, de François Ozon – França

Urso de Prata – melhor diretora: Angela Schanelec  com “I was at home, but” – Alemanha

Urso de Prata –  melhor ator: Wang Jing em So Long My Son, de Wang Xiaoshuai.

Urso de Prata –  melhor atriz: Yong Mei  em “So long my son”, de Wang Xiaoshuai.

Premio da Critica Internacional – Fipresci para a mostra oficial:

Synonymes, de Nadav Lapi  (Israel)

Prêmio da Crítica Internacional – Fipresci – para a Panorama: Dafne, de Federico Bondi (Alemanha)

Premio Alfred Bauer – trabalho inovador (uma homenagem ao fundador da Berlinale): System Crasher, de Nora Fingscheidt.

Premio Teddy Bear –  filme de temática homossexual: Breve historia del planeta verde, de Santiago Loza (Argentina em coprodução com Brasil, Espanha e Alemanha.

Prêmio Teddy Bear – Menção honrosa: Greta, de Armando Praça – Brasil e The Ground Beneath My Feet, de Marie Kreutzer – Austria

Prêmio de Audiência da Panorama ficção: 37 Seconds, de Hikari – Japão

Prêmio de Audiência da Panorama documentário: Talking About Trees, de Suhaib Gasmelbari – França / Sudão / Alemanha/ Chade / Quatar

Prêmio da Anistia Internacional:   Espero tua (re) volta, de Eliza Capai (Brasil)

Peace Film Prize:  Espero tua (re) volta, de Eliza Capai (Brasil)

 

Berlinale mantém viés político

O evento manteve o teor social e político que caracteriza sua seleção, com muitos temas ligados ao mundo atual: abuso de poder, opressão do estado, lutas, guerra, condições desumanas de trabalho,  denúncia de assédio, pedofilia e outras aberrações.

O Brasil teve uma excelente participação. Esteve na mostra oficial, teve significativa presença em várias paralelas, sempre com casa cheia. E contribuiu muito para fortalecimento da programação em temas sociais, políticos e de denúncia, conforme relação a seguir:

“Marighella”, de Wagner Moura sobre o famoso guerrilheiro Carlos Marighella na mostra oficial, a principal do festival.

“Chão”, de Camila Freitas, sobre o MST;

“Divino Amor”, de Gabriel Mascaro – basta lembrar a frase do diretor na entrevista à Gazeta do Povo, “o filme é um comentário universal – não apenas no Brasil – sobre a agenda conservadora, fanática e nacionalista que se espalha pelo mundo”

“Espero tua (re) volta)”, de Eliza Capai sobre o episódio ocorrido em 2015 quando várias escolas ameaçadas de fechar  devido ao agravamento da crise sócio-política, foram ocupadas por estudantes em um ato sem precedentes. O filme ganhou o prêmio da Anistia Internacional e o Peace Film Prize.

“Querência” de Helvécio Marins. Por trás da história poética do personagem, uma denúncia de negligência das autoridades para os crimes ligados a questões fundiárias.

“Estou me Guardando para quando o Carnaval chegar”, de Marcelo Gomes que denuncia condições desumanas numa fábrica de indústria têxtil de Toritama (CE).

Fora da esfera brasileira e apenas  para dar alguns exemplos:

Inicialmente “ Synonymes”, de Nadav Lapid – o   vencedor do Urso de Ouro e do prêmio da crítica internacionaol,  sobre um jovem que deixa o Exército de Israel e vai para a França por discordar das políticas de seu país. .

Elisa y Marcela, de Isabel Coixet,  sobre uma relação lésbica no final do século XX que culminou no primeiro casamento homossexual na Espanha.

“L’Adieu à la Nuit”,  de André Téchiné sobre um dilema da protagonista  quando seu neto quer se unir ao Estado Islâmico.

“Vice”, de Adam McKay sobre Dick Cheney, o controverso Vice presidente dos Estados Unidos de 2001 a 2009.

“Grâce à Dieu”, o mais arrojado filme de François Ozon sobre o padre Preynat e a acusação  de ter abusado sexualmente de mais de 70 jovens, levantada por três de suas vítimas.

“Mr. Jones”,  de Agnieszka Holland, história real de Jones, um jornalista que revela ao mundo as atrocidades do regime stalinista na Ucrânia.

E ainda, na moldura política, mas num fato a lamentar, a exclusão da programação, supostamente devido à censura das autoridades chinesas,  de  “One Second”, do cineasta chinês Zhang Yimou,  sobre as transformações políticas e sociais na China.

Por sinal, no lançamento do festival  semana retrasada, Kosslick  já havia avisado.

“Às vezes a arte tem que ser política”,

Kosslick fala com a autoridade de,  nos seus 18 anos de gestão à frente do evento, ter contribuído muito para o fortalecimento do seu teor político.

Em última análise, quem esteve nesta 69ª edição da Berlinale assistiu a um excepcional festival e a um contundente retrato da realidade no mundo atual.

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