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-Alexandre?
-Presente!
-André?
-Presente!
-Fause?
-Presente!
-Fernanda?
-Presente!
-Glória?
-Presente!
-Jefferson?
-Presente!
-João?
-Presente!
-Juliana?
-Presente!
-Lino?
-Presente!
-Mário?
-Presente!
-Reinaldo?
-Presente!
-Ronaldo?
-Ausente.
-Samuel?
-Presente!
-Tufi?
-Presente!
-Walter?
-Transferido.

CARREGANDO :)

Quem se sentou em bancos escolares já ouviu o seu nome na voz alta de um professor, zeloso em conferir a sua presença na sala de aula. Não importa a idade ou ano letivo, todos passam por esta experiência: aguardada com ansiedade pelos mais “soltinhos” e com temor pelos tímidos da turma. Mesmo nos dias de hoje a chamada mostra sua eficiência para registrar quem está ou não diante do seu mestre.

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Estamos em plena temporada de lançamentos das coleções para o Inverno 2012: os eventos se sucedem e como estudantes bem comportados, estilistas mostram na passarela as lições aprendidas em meses de estudos, alguns solitários, outros, resultado de trabalho em equipe. Muitos recebem nota alta, acompanhada por um “voto de louvor”, dada pelos temidos editores de moda. Alguns, contudo, passam “raspando” e têm ainda os que reprovam.

Coleções, não raras vezes, são desenvolvidas a partir de uma inspiração, ou pesquisa por um tema, que unifica roupas e acessórios tornando-os mais identificável junto ao consumidor. Na verdade, são iscas lançadas para fisgar quem compartilha vivências semelhantes, se insere no universo que lhe serve de ambientação ou deseja assumir personagens que estão na origem dos lançamentos para a temporada – mostrados em primeira mão nas salas de desfile.

A São Paulo Fashion Week, que já foi denominada Morumbi Fashion Brasil, nos seus primórdios – e lá se vão 32 edições –é um dos mais antigos eventos de moda do país. Condição que lhe permitiu desfilar veteranos e calouros em sua passarela Inverno 2012, instalada no prédio da Bienal, no Parque Ibirapuera, entre os dias 19 e 24 de janeiro.

Participantes igualados todos no objetivo de dar silhuetas, cores e padronagens à estação das temperaturas baixas. Nem sempre, eles respeitaram as características rígidas que acompanham o descritivo das quatro mudanças mais importantes do calendário. Afinal, a própria Natureza não lhes serve mais de exemplo.

Na hora da chamada, a maioria disse presente e duas ausências foram justificadas. A de Ronaldo Fraga, um dos veteranos da SPFW, e um dos mais brilhantes dos seus pupilos, trancou matrícula neste ano letivo. Segundo ele, para deixar contestações e indagações ganharem vigor na sua inquieta mente. O estilista busca soluções mais condizentes com os elementos de sua fórmula moda + consumo no universo brasileiro. Já Walter Rodrigues, também da turma dos veteranos, pediu transferência de colégio: há algumas temporadas mostra suas coleções no Fashion Rio.

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A moda, ao contrário das Ciências Exatas, que não sobrevivem sem o rigor de cálculos matemáticos e de experimentações em laboratório, permite deixar voar a imaginação. A criatividade, que se espera como diferencial em roupas e acessórios, pode buscar inspiração em livros, filmes, em tempos atuais ou na mais remota civilização. Ou até nas lembranças estudantis.

É tarefa do estilista traduzir seus sonhos e devaneios numa coleção que, para não ser reprovada, não pode descuidar da correção de uma roupa bem costurada e um caimento impecável. E se ela ainda atender aos “sonhos e devaneios” do seu consumidor, sem dúvida, este aluno vai passar de ano com nota máxima!

O veterano Alexandre Herchcovitch foi o aluno mais aplicado da temporada: lançou três coleções, uma masculina (que remete à sua infância e aos anos passados num colégio judaico ortodoxo), uma feminina e a da marca Herchcovitch, de jeans.

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Na coleção feminina Alexandre Herchcovitch se deu ao luxo de dispensar uma temática: exercitou-se com as várias silhuetas já riscadas no seu caderno de anotações.

Alexandre Herchcovitch mergulhou nas lembranças da infância num meio hebraico ortodoxo para desenvolver o seu Inverno 2012: transferiu para a modernidade as mais enraigadas tradições judaicas com ênfase no vestuário.

Jeans, sempre associado ao mundo jovem – forever young – com a assinatura Herchcovitch passeou pelos ateliers de artistas nova-iorquinos para ganhar textura e formato. Coleção mostrada no Fashion Rio.

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André Lima não se desvencilha de sua infância vivida nas paisagens luxuosas do Pará, com sua flora exuberante e os tecidos multicoloridos, vendidos pelo pai mascate. Continua fiel à temática, o que o leva também a outras paragens igualmente exóticas.

Fause Haten, estilista-cantor viu filmes do ator-cantor Elvis Presley e neles encontrou mocinhas e mocinhos que formataram silhuetas de sua coleção. De “Feitiço Havaiano”, um dos sucessos do rei do Rock, capturou flores e folhagens para estampar a coleção FH por Fause Haten, Inverno 2012.

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A caloura Fernanda Yamamoto mostra evolução no Inverno 2012. Sua pesquisa de tecidos – e os contrastes e contrapontos que eles oferecem – personalizam sua coleção. Jacquards reproduzem tapeçarias e pinturas da época do Renascimento e dos tempos da imperatriz romana Bianca Sforza.

Glória Coelho, veterana, ela sabe de cor as órbitas percorridas por uma roupa futurista que dialoga com as estrelas. Nota 10 em Astronomia.

Jefferson Kulig, o curitibano, que formou-se em Economia – uma ciência exata – é também um pesquisador de laboratório na mistura de ingredientes na busca por novos tecidos. Engana-se quem o considera um “estudante frio e calculista” – seu lado artista sempre aflora para dar equilíbrio entre a exatidão das fórmulas e a inspiração que poetiza sua coleção. No inverno 2012 Kulig encontrou flores no seu caminho mesmo antes da primavera chegar.

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João Pimenta, calouro que passou pelos bancos escolares da Casa de Criadores, traz ousadia e irreverência ao guarda-roupa masculina, que tem saia sim! A alfaiataria não se perde nas idas e vindas dos tecidos que acabam por obedecer ao seu comando. O “retrofuturismo”, presente num subgênero da ficção científica, está na origem da ambientação sombria do seu desfile e no “pesado” de alguns dos looks.

Juliana Jabour é caloura na passarela da SPFW. Ela fez a ponte aérea Rio/São Paulo não sem antes cumprir roteiro pela mística Índia, sua principal inspiração na temporada.

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Lino Villaventura é um dos mais veteranos da turma de estilistas da semana de moda paulista. Sua marca registrada são apresentações impactantes, apelo teatral nas roupas e na postura dos modelos. Causou emoção coletiva na sua “aparição” caloura (os looks eram tão inusitados nas formas e materiais que não se tratou de um desfile de roupas convencional ) na passarela da primeira edição do Morumbi Fashion Brasil, nos idos de 1996. Ganhou a capa do suplemento Viver Bem/ Gazeta do Povo (edição especial, agosto de 1996), presente na platéia nesta data memorável.

Rainhas poderosas pontuam o Inverno 2012 de Lino Villaventura. Como elas entraram ou escaparam de um quadro do “assustador” britânico Francis Beacon, a principal vertente de sua inspiração para esta temporada?

Mário Queiroz, sua especialidade em moda masculina serviu de base para aulas, como professor, e para um livro sobre o segmento, como autor. É da turma dos primeiros a participar de eventos pioneiros do calendário brasileiro – Semana de Moda/ Casa de Criadores e Mercado Mundo Mix. Lançou uma linha feminina que interage com o seu consumidor tradicional.

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O desfile do Inverno 2012 de Mário Queiroz, inspirado num mix de Art Decô e Futurismo, teve apelo ecológico: a reutilização de tecidos de outras temporadas.

Reinaldo Lourenço buscou numa Paris mais lúgubre, e menos luminosa, a proposta de sua coleção. Estética gótica veste personagens que, mesmo circulando nas urbes contemporâneas, deixam por onde passam uma aura de mistério.

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Samuel Cirnansck, um dos representantes na SPFW das artes de uma costura feita para ocasiões especiais, o estilista gaúcho inovou nas tramas de sua coleção. Desfiou centenas de metros de tecidos nobres para conseguir o efeito de “uma delicada pele” nos vestidos de festa – os ecologistas agradecem. Para ele, cada peça recebe o tratamento de uma jóia.

Tufi Duek, nos primeiros anos da semana de moda paulista, formava com Renato Kherlakian (Zoomp) e Valdemar Iódice (Iódice), o triunvirato mais respeitado de empresários focados em coleções para público jovem e com apelo comercial. Hoje sua marca, Forum, tem outros donos, assim como, a de Kherlakian, que agora assina uma linha exclusiva de jeans – a RK. A Iódice continua no line-up da SPFW e mudou seu alvo para mulheres bem sucedidas. O Inverno 2012 de Tufi Duek teve uma inspiração bastante explícita, a silhueta anos 80 consagrada pelo estilista francês Thierry Mugler- o da cintura de vespa e dos ombros largos.

Walter Rodrigues lançou sua coleção na passarela do Fashion Rio com uma inspiração principal, a do filme A Fita Branca. Dirigido por Michael Haneke,o enredo se desenrola numa comunidade alemã no período que antecede à 1ª Guerra Mundial. Religiosidade e hábitos rígidos germinaram looks “invernais” – vestidos fechados, saias compridas, sobreposição de peças – que, graças à maestria de Walter na alfaiataria, se transformaram em opções para mulheres chques e elegantes.

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INFORMAÇÃO EXTRA

Mais informações e fotos da São Paulo Fashion Week no site www.conceitoatual.com.br