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Em tempos de polêmicas sobre exposições de arte transgressora no Brasil, é interessante reler o ensaio “Como a arte moderna se tornou refém da necessidade de chocar”, do filósofo Roger Scruton. Principal nome do conservadorismo na Inglaterra, Scruton mostra como a arte atual se resume a um exercício de fingimento coletivo e de esgotamento da ideia de transgressão.

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“Não é fácil ganhar o status de artista original”, diz Scruton no ensaio. “Mas as recompensas, numa sociedade em que a arte é reverenciada como a mais alta realização cultural, são enormes. Portanto há um motivo para fingir ser original.”

Na arte contemporânea, esse fingimento é coletivo. Artistas quebram regras e costumes; críticos e curadores posam como gente sofisticada capaz de entender significados ocultos às pessoas comuns; jornalistas tratam de ampliar a importância que esse pequeno mundo dá a si próprio. Em comum, artistas, críticos e jornalistas de arte rejeitam o gosto e os gêneros populares como expressões corrompidas, sentimentais e simplórias.

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Foi com os modernistas que nasceu, diz Scruton, um costume de assumir que “não pode existir criação autêntica na esfera da arte superior que não seja um desafio à complacência da nossa cultura pública”. Só ganha valor o que ofende ou não se dobra às tradições e ao “gosto burguês”. A transgressão se tornou a nova tradição – ou o cliché – da arte. Como diz Scruton, muito melhor do que eu:

Surgiu ao redor dos modernistas uma classe de críticos e empresários prontos para explicar por que não é uma perda de tempo admirar uma pilha de tijolos, ou sentar calmamente para ouvir dez minutos de um som excruciante, ou para estudar um crucifixo conservado em urina.

Para convencer si próprios que eram os verdadeiros progressistas, que andam na vanguarda da história, os novos empresários se cercaram de outros da sua laia, promovendo-os a todos os comitês que eram relevantes para seu status, e esperando para serem promovidos em troca. Assim surgiu o establishment modernista – um círculo isolado de críticos que formam a espinha dorsal das nossas instituições culturais.

“Originalidade”, “transgressão” e “trilhando novos rumos”. Esses são termos de rotina emitidos por burocratas dos conselhos de arte e pelo establishment dos museus sempre que eles querem gastar dinheiro público em alguma coisa que jamais sonhariam em ter na sala de casa. Mas esses termos são clichês, assim como as coisas que eles costumam elogiar. Portanto a luta contra o clichê acaba em clichê, e a tentativa de ser genuíno resulta em falsidade.

Para quem lê em inglês, o original deste belo ensaio está aqui.  

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