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Se a Globo afastou William Waack, deveria ter feito o mesmo com Zé de Abreu?
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Sim, há um pouco de linchamento e sanha persecutória no afastamento de William Waack da Globo depois que falas racistas do jornalista vieram a público. Também é verdade, como afirma o colega Gustavo Nogy neste excelente artigo, que poucos de nós seriam absolvidos se todas nossas opiniões privadas fossem avaliadas.

Mas “caiu na rede é peixe”, como diz uma amiga. Quem fala o que quer ouve o que não quer. No caso, o que William Waack está prestes a ouvir é um “você está demitido”. O comentário racista dele veio a público – e a Globo tem todo o direito de decidir não comprar briga com os espectadores que se incomodaram com as frases.

E também com os funcionários. Vale lembrar que a declaração de Waack não foi exatamente privada – diversas pessoas ouviram os comentários dele ao vivo, na sala de edição em São Paulo. Uma delas era Diego Rocha Pereira, negro, operador de VT que divulgou o vídeo esta semana. William Waack pode falar o que quiser, assim como quem se sentiu ofendido tem direito de divulgar o que ouviu.

A questão que permanece é: se a Globo afastou Waack, não deveria ter feito o mesmo com Zé de Abreu, que no ano passado ofendeu e cuspiu num casal num restaurante em São Paulo? Para relembrar o caso: depois de ser provocado por um homem, que disse “vota no PT e depois vem no japonês”, Zé de Abreu levantou aos berros e lançou duas cusparadas sobre o casal.

Um argumento em defesa da Globo é que Zé de Abreu ofendeu duas pessoas específicas, não uma etnia inteira, como fez Waack. O ator se sentiu ofendido e saiu do controle ao revidar. Atores da Globo não são pessoas com a vida mais regrada do mundo: se a emissora perseguir todos que se envolvem em confusão fora do horário de trabalho, sobrariam poucos.

É verdade que José de Abreu continuou a ofensa no Twitter. Disse que “fascistas” e “cozinhas” deveriam ser tratados assim, “com cuspe na cara!”. A ofensa se ampliou, o comentário foi asqueroso, mas passou longe de racismo ou machismo. E continuou fora do horário de trabalho.

Por isso não acho que a Globo deveria tê-lo afastado no ano passado. Mas não consigo deixar de achar que houve um episódio de “dois pesos e duas medidas” ao lembrar que, naquela ocasião, Zé de Abreu não só seguiu firme na emissora como ganhou espaço no Domingão do Faustão para falar sobre o caso. Defendeu a ex-presidente Dilma Rousseff e disse não se arrepender das cusparadas que disparou no restaurante em São Paulo.

 

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