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comercial volkswagen
Sentimental e cafona, mas com um ar anacrônico de transgressão. Assim é o comercial da Volkswagen que está comovendo a geração de Barroso & Cia.| Foto: Reprodução/ YouTube

Na sexta-feira um amigo veio conversar comigo sobre Zé Celso. Papo vai, papo vem, em certo momento ele faz um diagnóstico preciso: a deterioração do imaginário da elite explica, e muito, a atuação de autoridades como os ministros Luís Roberto Barroso e Cármen Lúcia. Uau. Do desbunde tropicalista ao Estado de Direito Excepcionalíssimo. E olhe que isso foi antes de Barroso sair do armário institucional e assumir que o Judiciário é, hoje, um poder político.

Penso que Zé Celso também acreditava no poder político da arte. Uma desgraça em si! E de repente percebo que, neste caso, os alhos têm mais a ver com os bugalhos do que se pensa. Afinal, tudo é teatro. Farsa. Comédia sem graça com tragédia no horizonte. Mas não só. Repare como toda uma geração aprendeu a se corromper a fim de chocar a sociedade e, assim, receber aplausos degenerados de degenerados.

Aviso ao amigo que vou lular os raciocínios todos. Ele ri, e por algum motivo que me escapa, começa a falar do comercial da Volkswagen. Aquele a que todo mundo, menos eu, parece ter assistido. Aquele que dizem que é lindo e emocionante, mas que o amigo considera mais um sinal de que, se ainda fôssemos os mesmos e de fato vivêssemos como nossos pais, não estaríamos no atoleiro de hoje.

Reconheço a referência à música de Belchior, interpretada por Elis Regina lá naquele estilo berro-mezzo-afinado dela. E, como nos romances açucarados de antigamente, estremeço. Será que serei obrigado a assistir ao comercial? Pior: se eu gostar e até me emocionar, seria isso sinal de que sou eu também um degenerado? Tenho medo, mas reconheço que será impossível continuar o texto sem ter assistido ao comercial. Então os senhores me deem licença, por favor, que eu já volto. [SAI].

Como nossos pais

[VOLTA] Assisti. Ou melhor, sobrevivi a dois minutos de um dueto de Elis Regina com Maria Rita. Tudo bem que cenas de carros antigos sempre trazem à tona saudades intraduzíveis, como a que sinto pela Kombi que nunca tive. Os filtros também ajudam a nos transportar para o tempo dos fuscas (fuqui, em curitibanês). Mas, fora isso, o que chama mesmo a atenção no comercial é a rebeldia cafona da música. Tanto na letra quanto nas vozes.

De resto, o comercial tão comentado não passa de um amontoado de clichês com aquele sentimentalismo falsamente inofensivo de que nos fala Theodore Dalrymple. Com um detalhe: ao longo dos intermináveis 120 segundos não há uma única cena familiar. Digo, tem mãe amamentado o filho e outra mãe com filho rindo e tem até moça escovando os dentes (?). Mas não tem pai, mãe e filhos. O que é sintomático de uma sociedade que passou décadas exaltando a vanguarda e a transgressão de não ser como nossos pais.

De volta ao imaginário corrompido da nossa elite, faz sentido pensar que Luís Roberto Perdeu Mané Barroso, Cármen Calaboca Já Morreu Lúcia e até Alexandre Teje Preso de Moraes são do tipo que se emocionam com esse tipo de coisa. Com o novo que sempre vem. Com uma música que termina com um grito que é puro vazio niilista. Com a transgressão pela transgressão. Afinal, o que são os ministros do STF se não representantes da Geração Elis - isto é, sempre alguns muitos tons acima do aceitável e admirável?

Tampouco eu sou como meus pais. Uma pena. Porque um dia também acreditei na mentira da evolução pessoal. Ou melhor, evolução geracional. Também eu me vangloriava de saber de tudo na ferida viva que era o meu coração – olha só que coisa mais patética! Por sorte, minto, pela Graça fui resgatado. Do contrário, aposto que hoje estaria igual ao Barroso: fechando os olhinhos, com aquele ar de enlevo arrogante, enchendo a boca para falar em progresso, progresso, progresso, e reclamando daqueles que são malpassados e não veem que o novo blá blá blá.

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