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maldade
Passamos tanto tempo do dia entretidos com a maldade que é mesmo difícil não ficar achando que o mal prevalece.| Foto: Paulo Polzonoff Jr com Dall-E

Jornalista é um bicho besta. Sou. Não por querer transformar o mundo a fim de que ele se encaixe numa utopia muito particular. Digo, também isso, mas não só isso. Jornalista é um bicho besta sobretudo por estar o tempo todo atento ao que há de errado no mundo. À maldade. O tempo todo apontando o dedo e acusando. O tempo todo desesperado, denunciando o absurdo (político, social, cultural, bélico, sei lá!) evidente, sobre o qual ninguém nunca faz nada.

Tudo isso para reconhecer que comecei a semana dando chilique. Estava profundamente preocupado. Tendo sonhos atribulados. A testa franzida e tal. Só porque de repente me vi cercado por moinhos de vento transformados em monstros político-filosóficos e empenhados em usar argumentos no mínimo antiéticos para defender a barbárie. E o pior: bem perto de mim. Aí, tomado pelo medo vaidoso de me ver confundido com a corja, achei por bem escrever um desabafo. Aquele desabafo.

Nesse processo, acabei cometendo este que talvez seja o maior erro do nosso tempo: trilhar esse caminho soturno do bosque da ingratidão e ignorar o bem que nos cerca. O bem que é discreto e silencioso, modesto e humilde. O bem que é óbvio e natural e por isso dispensa palavras de ordem, manifestações grandiosas, notas bibliográficas e aspas. O bem que é manso e carinhoso e amigo. O bem de todo mundo em cujo peito ainda bate um coração que não é apenas um miocárdio.

Espetáculo Mundano

O bem que não está nas manchetes dos jornais e não entendo por quê. Aliás, desde que me tornei jornalista, e lá se vão mais de vinte anos, já vi várias iniciativas que pretendiam mostrar as histórias e ações de pessoas boas. Todas ficaram pelo caminho. Ou porque os leitores/espectadores/ouvintes não se interessavam ou porque um atentado terrorista, um massacre, um escândalo de corrupção ou uma revoltante hipocrisia esquerdista insistiam em atrapalhar a empreitada.

Não sou, porém, ombudsman do mundo. Nem pretendo. No mais, sei que é difícil ignorar quando crianças – crianças! – saem às ruas para gritar slogans em defesa de terroristas ou quando uma gentalha invade a Comissão de Direitos Humanos do Congresso Nacional para dizer que Israel é um Estado assassino. Sei que, de tanto ouvir a estupidez arrogante do Flávio Dino ou as lorotas cheias de empáfia do Barroso ou as bravatas nanicas de Celso Amorim, é difícil não ficar com a impressão de que o mal prevalece. De que, como diz Shakespeare, “o homem reina na maldade”.

Mas, só por hoje, tente dar de ombros para essa gente ruidosa, mas medíocre. Medíocre porque ruidosa, ruidosa porque medíocre. Tente, apesar da grita do petistas, psolistas e até novos-resistentes, ser grato. Não se deixe levar pela má impressão de uns poucos que, por causa do barulho, parecem muitos. Tente encontrar o milagre nas entrelinhas da nossa tragédia cotidiana. Tente se lembrar de que, neste exato momento, sem que você saiba, há alguém contribuindo desinteressadamente pelo bem do mundo. O que inclui o seu e o meu bem, o bem de israelenses e palestinos e até o bem de quem luta contra o bem.

Tente (se esforce um pouquinho, vai!) encontrar consolo e, mais importante!, esperança com o fato de que, para cada ato de maldade do Hamas ou mesmo de um petista aqui no nosso quintal, há incontáveis atos de bondade sem filiação ideológica. Atos que surgem do amor e que contribuem para a comunhão dos santos. Atos a que você e eu provavelmente não demos a devida atenção porque estávamos distraídos. Ou melhor, entretidos com nossos sofrimentos egoístas. Ou melhor ainda, ocupados demais nos preocupando com o Espetáculo Mundano.

Dedicada ao padre Luiz Fernando Cintra.

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