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Ministros STF Gilmar Mendes
O ministro Gilmar Mendes fazendo o maior esforço do mundo para sorrir: “Só há covardes no STF”.| Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

* Por Minha Mulher

Ai, esse meu marido ainda me mata do coração! Pois vocês não vão acreditar no que aconteceu. Hoje à tarde ele estava assistindo aos pronunciamentos absurdos dos ministros Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes, que estão subindo nas tamancas ao verem seu poder absoluto levemente castrado pelo Congresso, e me ligou todo animado para dizer que pretendia escrever uma coluna intitulada “Deu a louca nos ministros do STF!”. Com ponto de exclamação e tudo.

Fiquei consternada (a palavra não é bem essa). Afinal, faz um tempinho que o proibi de escrever sobre o STF. Se bem que fiquei sabendo que ele andou ignorando meu dedo em riste e a proibição sumária. Ai, ai, ai, seu Polzonoff. De qualquer modo, esposa tolerante e perfeita que sou, fiz de conta que esse não era um assunto terminantemente vetado e tentei ouvir o lado dele. “Por quê, meu amor?”, perguntei toda carinhosa. “Já não disse para você tomar cuidado com esse pessoal?”, <3 <3 <3.

Ele ignorou a segunda pergunta e desembestou a falar que você não viu, amor, o Barroso, com aquele ar insuportavelmente arrogante de quem desfila sobre o cadáver da democracia e mesmo assim ouve aplausos do populacho, disse que o STF era todo perfeitinho e que não precisava de nenhuma contenção por parte do Legislativo.

“Hmmm”, respondi. Não estava gostando nada daquilo, mas vamos ver aonde ele quer chegar. Afinal, gosto das crônicas dele. Só não quero que ele acabe preso. “E aquele outro que tá sempre de cara emburrada?”, perguntei, me referindo ao Gilmar Mendes e dando corda para meu marido se enforcar. Entusiasmado como o menininho loirinho de cinco anos que um dia ele foi, meu cônjuge disse que o Gilmar Mendes en-lou-que-ceu. “Você não vai acreditar! Ele partiu pra intimidação pura e simples. Ameaçou até voltar a combater a corrupção. Tudo pra impedir que o Legislativo... legisle", disse o meu digníssimo e amado esposo.

Tá, mas e a crônica?

“Nossa, que interessante”, menti. Por dentro eu pensava que os ministros do STF tinham ficado loucos mesmo e reagiam como cães acuados. Até imaginei um deles como um pinscher. Mas claro que não daria o braço a torcer. “Tá, mas e a crônica?”, joguei a isca, sabendo de antemão que o proibiria de escrever qualquer coisa com as letrinhas ésse, tê e éfe. “Você não tá entendendo a dimensão disso! São o STF e o Congresso brigando abertamente!”, disse ele. E aí eu me senti atacada. Claro que eu entendia!

Não só entendia como torcia pelo impeachment de pelo menos três ministros e a cassação de algumas dezenas de parlamentares corruptos. Eles que briguem! – pensei cá com os botões deste meu vestido lindo. Aliás, presente do meu marido. “Tá, mas e a crônica?”, insisti, um tanto quanto exasperada (a palavra não é bem essa) por ele estar me ligando no meio do expediente. O que é que a gente não faz para manter a harmonia no casamento...

Ao que ele respondeu que, na crônica, botaria o STF e o Congresso para brigar. Bufei com toda a força dos meus pulmões, mas por algum motivo decidi ouvir o que ele tinha a dizer. Ouça só você também: “Imagine Brasília transformada num ringue. Ou melhor, imagine os ministros do STF usando aquelas fantasias de luta-livre mexicana. Imagine o Alexandre de Moraes de calça de lycra! Aí começa a briga e é um caos. O Fux ataca autorizando uma operação de busca e apreensão no gabinete do Arthur Lira, enquanto o senador Astronauta se defende com um daqueles travesseiros da NASA. Ou o Moro ataca com palavras duras (“inadmissível”, etc.) e o Toffoli reage com uma toffolada...”

Só há covardes

Jamais deixaria ele escrever uma coisa dessas! Jamais. Nevah-evah! Mas até que estava divertido. Como sempre. “Tá, mas as Forças Armadas não entram no meio dessa briga, não?”, perguntei. Não devia, mas perguntei. “Ótima ideia, meu amor! Posso dizer que as Forças Armadas intervieram no conflito, primeiro com uma palestra sobre mudanças climáticas e depois com um curso online sobre pintura de meios-fios”, disse ele. E eu estava quase concordando. Quase. Só pela graça da coisa.

Mas aí meu marido cometeu o erro fatal. “Posso?”, perguntou. Claro que não, né? Ele ainda tentou me vender outra ideia, algo com a Velha Surda da “Praça É Nossa”. Na hora em que Gilmar Mendes dissesse que não há covardes no STF, por exemplo, a velha entenderia que só há covardes no STF. Mas me mantive inflexível e o resultado é que agora ele está de castigo e impossibilitado de escrever. Afinal, não quero acabar como a Janja, tendo de visitar o meu marido na cadeia.

* Minha Mulher não é a minha mulher – e ela exigiu que eu deixasse isso bem claro.

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