Ouça este conteúdo
Caro leitor,
Oi, que bom te ver por aqui. Tava mesmo querendo falar com você. Tá muito ocupado? Tem um tempinho pra gente trocar umas ideias? Então senta aí. Não, não se preocupe. Eu tava indo mesmo pegar alguma coisa pra beber. Você prefere o quê? Tem uísque, cerveja, vinho, refrigerante, café. Água? Beleza. Que bom te ver. Que bom mesmo. Olha, fica aí que eu já volto. Não, não é nada sério. Ah, esqueci: gelada ou normal? Já volto!
Taqui, ó. Bem gelada. Como você pediu. Então. Tava querendo conversar, sabe? Sei lá. É que. Ah, cara. É que eu tô te achando meio estranho ultimamente. Ah, claro. Pode ser só impressão minha. Sempre pode. Mas... não é. Vamos combinar? Você tá arisco, agressivo. Cheio de melindres. Não dá pra falar mais nada! Outro dia, por exemplo, você foi meio grosso comigo. Como assim não se lembra? Você me chamou de comunista, de isentão, de—. Ah, tá lembrando agora, é?...
Isso nem passou pela minha cabeça
Mas não. Claro que não. Não quero brigar. De jeito nenhum! Você tem todo o direito. To-do. Isso nem passou pela minha cabeça. Calma. Tem certeza de que não quer beber nada? Não, não quero brigar. É que... É que... É que eu tô com saudade. Como assim “do quê”? De você, ué! Lembra quando a gente ria e conversava e ria mais um pouco? Tô com saudade disso. Saudade de conversar, de ter uns papos-aranhas, de viajar na maionese, de ficar pensandinho juntinho. Sem estresse nem nada. Lembra como era bom?
Hipersensível, eu? Já vem você com acusação pra cima de mim. Vai me chamar de comunista de novo? De isentão? Humpf. Ah, que bom. Porque você sabe e eu sei que—. Posso falar? Posso concluir? Não, porque quando você tava falando eu não te interrompi. Agora é a minha vez. Pó—? P—? P—? P—? Pos—? Posso falar agora? Brigado. Muita gentileza de sua parte.
Que mania de falar isso
Talvez eu esteja mesmo hipersensível. Eu sei, eu sei. Eu sei que não é sempre que você xinga. Que você de vez em quando até elogia. Eu sei, eu sei. Claro que eu agradeço. Tá, então te agradeço agora: brigado. Eu sei que na maioria das vezes você não fala nada e fica me curtindo aí, caladinho no seu canto. Mas... Mas... Mas... Mas então por que é que eu tô com a impressão de que você... Não, não é querer inverter os papeis. Que mania de falar isso. É que às vezes me dá essa impressão de que você não quer rir nem pensar nem conversar nem nada. Que você prefere ficar aí todo carrancudo e cheio de certezas.
Tenho ciúme, sim, ué. Não era pra ter? Ah, tá. Se é uma impressão errada, tudo bem. Mas e se não for? E se você não gostar mais de mim? Claro que eu gosto de você! Gosto, sim. Gosto. Já disse que gosto. Se você não ouviu tô dizendo mais uma vez: gos-to. Agora eu não sei do que eu gosto ou não gosto, por acaso? Poxa... Eu me dedico tanto. Tudo o que eu escrevo é pensando em você e você aí, me ofendendo. Dizendo que eu sou isso e aquilo. Que mudei de lado. Quando é que eu te dei motivo pra dizer uma coisa dessas?
Não tá mais aqui quem falou
Mas então tá. Se você diz que isso. Que é tudo um mal-entendido... Que não tá na defensiva... Vou acreditar. Nah. Pode ficar tranquilo. Não tá mais aqui quem falou. Amigos de novo? Ufa. Então quer dizer que eu posso continuar? Ah, que maravilha. E desculpa se eu te ofendi, tá? Não era minha intenção. Juro! É que eu também sou humano. Eu também erro. Tem hora que, tipo assim, dá um tilte, sabe? Sobe uma coisa assim pela garganta. Só você que não—. Brincadeira, brincadeira. Não vamos começar tudo de novo, né? Amigos, amigos.
Mas, ó, só pra eu ter certeza. Não, não, tá acabando. Prometo. Me responde. Se eu der bronca no Bolsonaro tá tudo bem, né? Ah, que bom. Se eu rir da direita também tá tudo bem, né? Ufa. Claro que eu vou continuar tirando sarro do Xandão. Que pergunta! Diário da Janja? Quando bater a inspiração, sim. Mas deixa eu te fazer só mais uma pergunta. Uminha. Se a gente discordar, tá tudo certo, né? Nossa! Essa foi a melhor coisa que você já me disse até a hoje. Vou até dormir mais leve, sabia? Obrigado. Não, deixa que eu pego um Uber. Tô indo lá pro Pilarzinho. Manda um abraço pro pessoal. Falou. Até!
Comunidade no WhasApp
Não perca mais nenhum texto do Polzonoff. Entre para a comunidade no WhatsApp e receba todas as crônicas no conforto do seu celular. Basta clicar aqui.