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Esta crônica não é uma enquete.
Esta crônica não é uma enquete.| Foto:

De todas as leis eleitorais que já chamei aqui de estúpidas, nenhuma é mais estúpida do que a que proíbe enquetes sem o devido registro. A rigor, não se pode nem mesmo fazer enquetes nas redes sociais. Porque isso influenciaria de alguma forma injusta o eleitor. Olha só o que diz o próprio site do TSE: “a partir do dia 15 de agosto, caberá o exercício do poder de polícia contra a divulgação de enquetes, mediante a expedição de ordem para que sejam removidas, sob pena de crime de desobediência, sem prejuízo de eventual representação cabível”.

Por isso o título desta crônica é mera provocação. Sei que corre à boca pequena a história que o título foi uma tentativa de causar um ataque cardíaco no meu editor – mas tudo não passa de boato. Em todo caso, achei por bem esclarecer desde já possíveis e prováveis mal-entendidos. E aproveito para fazer a pergunta que dará o tom da crônica daqui por diante: “numa pesquisa eleitoral, que tipo de gente responde (x) NÃO SEI hoje em dia?”

Nunca respondi a pesquisas eleitorais porque sempre sou sincero quando o entrevistador me pergunta se trabalho na imprensa. Não sei se esse é um impeditivo técnico, ligado às complicadíssimas leis da estatística, ou se é uma questão de ética. Só sei que jornalista não pode responder. Mas fico imaginando o entrevistador mencionando os candidatos um a um, de Bolsonaro a Leonardo Péricles, até ouvir um acanhado (x) NÃO SEI.

No lugar do entrevistador, eu provavelmente seguraria o entrevistado pela gola. Como assim você não sabe em quem vai votar?! Hoje já é dia 18 de setembro. As eleições são daqui a duas semanas. Duas semanas!! Em que planeta você vive?! Do que você se alimenta?! Como se reproduz?! E finalmente: sobre o que você conversa com seus colegas de trabalho, amigos, familiares?!

O (x) NÃO SEI é um mistério do Universo. Será que ele não sabe por ignorância legítima? É uma possibilidade razoavelmente alta – desde que você acredite no que diz uma pesquisa realizada em 2016 pelo Datafolha e que apontou que, na ocasião, 33% dos brasileiros (atenção!) não sabiam o nome do presidente. Se bem que, na época, a confusão tinha justificativa: o presidente era Michel Temer, que tinha acabado de substituir Dilma Rousseff, a rainha das pedaladas. Uma pesquisa mais antiga, do tempo em que o presidente FHC, dizia que esse número era de 20%.

Será por dúvida sincera? Neste caso, imagino o (x) NÃO SEI respondendo à pergunta em meio a uma profunda crise existencial e intelectual. O (x) NÃO SEI realmente não sabe se é indivíduo ou sociedade, se prefere Mises ou Marx, se é contra isso ou a favor daquilo (muito pelo contrário). Ele não tem a menor ideia se prefere uma coisa ou outra. Sabe aquele seu amigo que leva horas para decidir entre Brahma e Antarctica? Pois estou imaginando ele.

Por fim, há a opção na qual eu facilmente me enquadraria: a dos (x) NÃO SEI insinceros. Uns por espírito zombeteiro mesmo. Aqueles que adoram ver o circo pegar fogo – na época em que havia circos. Outros, por preguiça de pensar. Há ainda o (x) NÃO SEI que quer encerrar de vez a entrevista porque começou a chover e ele precisa tirar as roupas do varal. Tem também aquele que quer atrapalhar a pesquisa. E, finalmente, tem o que espirrou, mas o entrevistador entendeu (x) NÃO SEI.

Escrevi, escrevi, escrevi e, no entanto, ainda não disse o que queria: meu sonho é fazer parte do (x) NÃO SEI mais sincero. O que, evidentemente, exclui o (x) NÃO SEI mentiroso dos petistas enrustidos. Estou falando do (x) NÃO SEI puro e ingênuo. O (x) NÃO SEI arte. O (x) NÃO SEI várzea. O (x) NÃO SEI de quem pode se dar ao luxo de professar seu autogoverno. O (x) NÃO SEI de quem tem fé. O (x) NÃO SEI de quem é livre não porque a Constituição diz, e sim porque vivencia cotidianamente a liberdade.

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