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Pela foto vê-se que até o Lula, que não é lá muito chegado a uma literaturazinha cotidiana, riu da crônica.
Pela foto vê-se que até o Lula, que não é lá muito chegado a uma literaturazinha cotidiana, riu da crônica.| Foto: Reprodução/ Twitter

Dizem que há um número mágico de xingamentos que, uma vez atingido, faz com que o alvo dos impropérios mude totalmente de ideia a respeito de seja lá qual for a discordância. Por isso é tão importante, diante de uma opinião absurda, inaceitável, lamentável, reprovável e assim meio meh, xingar ao máximo a pessoa que se quer convencer.

Ninguém sabe qual o número mágico para cada xingamento, nem como likes, elogios e tapinhas nas costas  agem como antídoto. Se é que agem. Por isso o importante é continuar tentando. Xingar, xingar, xingar. Só assim é possível repetir o que aconteceu com aquele cronista lá do Paraná.

Qual? Aquele, não quero citar o nome para não dar moral. Aqueeeele [faz mímica de careca]. Ninguém tem certeza de qual xingamento provocou a mudança. O próprio Inominável é contraditório nesse sentido. Uma hora ele diz que foi a combinação “nazista/fascista”; noutra diz que foi “burro/idiota”. De qualquer forma, são duas das combinações mais óbvias e vulgares do idioma – indício claro de que xingamentos comuns são mais eficientes do que os trocadilhos com “Bozo”.

Só se sabe que foi de uma hora para a outra. Corre o boato que o fenômeno se deu numa sexta-feira 13, enquanto Lula falava para uma multidão (de acordo com as fotos oficiais do PT) na Vila Madalena. Por algum motivo, as brigadas digitais estavam mais alvoroçadas do que o de costume naquele dia, e escolheram o Sicranov como alvo. A ideia, a princípio, era só dar aquela canceladinha básica. Mas como cancelar alguém que já nasceu cancelado? (Oh!). Então a justificativa dada pelo Comitê foi a de simplesmente xingar para ver no que dava. Na CUT é assim: ordem dada é ordem cumprida.

No começo só dava “nazista/fascista” e “burro/idiota”. (Por que será que os xingamentos sempre andam aos pares?). Depois apareceu uma gangue de Impublicáveis. Sabe como é que é. Eles sempre estão por aí, aqueles %##@&¨% de &%%$#. Cansados, os Impublicáveis deram lugar a xingamentos mais sutis: os novinhos formados em Passivo-agressividade pela PUC. “Não sei se é ingenuidade ou má fé” quase tirou o primeiro lugar do “nazista/fascista”. Mas para xingar passivo-agressivamente é preciso um pouco de inteligência – e as brigadas digitais estavam com falta de mão de obra.

Depois vieram os trocadilhos, mas é melhor não falar nisso. Não dar ideia. Aliás, nem sei por que toquei no assunto. Às 13h13 daquela sexta-feira 13, Aquele que Às Vezes Tá ON e Às Vezes Tá OFF pegou o celular, viu que havia uma notificação numa rede social (aquela do passarinho; mas, como ela não me deu o selinho azul, não vou falar o nome), abriu o aplicativo e se deparou com o xingamento mágico em seu número mágico. Idiota como é, eu apostaria no “nazista”.

Ao ler aquilo, o Aeroporto de Mosquito se deu conta de que absolutamente tudo o que ele pensava sobre política, religião, filosofia, literatura, música e até, sei lá, gastronomia estava errado. Totalmente errado. “Precisamos tomar os meios de produção! Jornalistas petistas do mundo, uni-vos!”, teria dito ele assim que saiu de um minitranse cinematográfico, com direito a gelo seco e tudo. Até torcedor do Athletico Paranaense ele virou ali, na hora. Para provar que estava falando sério, muito sério, seriíssimo, ali mesmo, no meio da redação, ele dançou um funk, se disse ateu e se fartou com uma tijelona de açaí.

Ao redor dele se reuniu um grupinho desses de lotar comício de petista. “Escreve uma mesóclise!”, pediu uma editora. Ele respondeu, claro, que escrevê-la-ia. “Diz que o sindicalismo é importante e pede aumento pra categoria!”, gritou alguém. Dito e feito. "Escreve uma ode ao Alexandre de Moraes", sugeriu o editorialista. E lá foi o ex-conservador medir os versos decassílabos. “Elogia um livro do Paulo Coelho”, tentou outro. Ao que ele respondeu que também não era assim tão fácil mudar de opinião sobre certas coisas, que ainda precisava de um tempo, talvez uns xingamentos mais pesados...

Ao lado do Tal, o editor, tão incrédulo quanto sacana, provocou e ainda apostou um tapauér cheio de bolinho de chuva. “Duvido que você entre na [rede-do-passarinho-azul-cujo-nome-não-vou-mencionar-porque-não-me-deu-selo-azul] AGORA e diga que não é petista, nunca foi, mas que este ano estará com Lula”, disse. Não deu outra. E é por isso que neste momento Bozonoff se farta de bolinho de chuva, bebendo Toddy quentinho, envolto numa manta com o rosto de Lula, lendo "O Pensamento Vivo de Felipe Neto" e ao som da grande intelectual democrata Anitta.

Não se espera que o Pepê fique nesse estado de petistice aguda por muito tempo. Afinal, o poder de convencimento dos xingamentos tem lá suas limitações. Aliás, é muito provável que amanhã ele já recobre os sentidos. Enquanto isso não acontece, porém, vale comemorar o apoio temporário. E, na dúvida, xingar, xingar, xingar mais. Vai que a mágica se repete!

* Como se as múltiplas aspas do título não fossem confissão de derrota o bastante, achei por bem incluir este asterisco para deixar bem claro: este é um texto de humor que brinca com a ideia de que xingamentos são capazes de convencer alguém a mudar todo um sistema de crenças, a ponto de votar num ex-presidiário.

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