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As mesmas associações que serviriam para garantir o sucesso comercial do carro são aquelas que reforçam o preconceito que a propaganda diz combater.
As mesmas associações que serviriam para garantir o sucesso comercial do carro são aquelas que reforçam o preconceito que a propaganda diz combater.| Foto: Reprodução/ Facebook

A Volkswagen, montadora do Polo, decidiu aderir à moda woke e produziu um comercial no qual associa o carro a um casal homossexual. A peça publicitária é absolutamente explícita nessa associação, com direito a bandeira do movimento LGBT e bitoca entre homens. E até aí, tudo bem. A escolha de restringir o público comprador de um carro com base na orientação sexual é prerrogativa da empresa. Ela que lide com isso.

O problema é que a comunidade LGBT, não satisfeita em se ver representada na propaganda, está reclamando da associação entre o carro e a orientação sexual dos personagens do comercial. Ó, os militantes extremistas de uma minoria estão reclamando mesmo depois de conquistarem um espaço simbólico?! Que novidade, não é mesmo?

Dizem eles que estão sofrendo ataques homofóbicos que pedem "um marketing imparcial". Ataques! Só porque as pessoas comuns, público-alvo da propaganda de um carro semipopular, estão criando centenas de memes que repetem exatamente o argumento cuidadosamente elaborado por publicitários descoladões naqueles escritórios cheios de mesas de ping-pong e máquinas de bolha de sabão. Isto é, as pessoas comuns estão dizendo que o Polo é um carro voltado para um público bastante específico: pessoas que mantêm um relacionamento afetivo-sexual com pessoas do mesmo sexo. Ou gênero – nem sei mais.

Claro que, em se tratando da publicidade ideologizada de hoje, sempre existe a possibilidade de o comercial ter outro objetivo que não a venda do máximo de carros possível. Não seria um absurdo dizer, por exemplo, que o reclame (sempre quis usar essa palavra) busca moldar o pensamento dos consumidores, reforçando a ideia de que é proibido criar certas associações que são inatas. Há uma interessante contradição aí: as mesmas associações que serviriam para garantir o sucesso comercial de um carro são aquelas que reforçam o preconceito que a propaganda diz combater. Como resolver esse dilema é um problema para a Volkswagen e seus publicitários maravilhosos.

Marketing de nicho

Veja bem. Apesar de eu, pessoalmente, considerar a escolha dos publicitários arriscada, por restringir o público consumidor do carro a cerca de 10% da população, a decisão faz algum sentido. Homossexuais geralmente ganham e gastam mais. E, para melhorar, geralmente não têm filhos – o que lhes permite pagar por um carro que custa a partir de R$76 mil só para apoiar a causa LGBT.

É o tal de “marketing de nicho”. Sempre foi assim. Antes, porém, a Volks e outras montadoras investiam em nichos mais amplos, por assim dizer. Pais de família compravam carros enormes para levar os filhos à escola ou em viagens. Heterossexuais pegadores compravam carros esportivos. Mulheres independentes compravam carros com muitos porta-trecos e, nas propagandas, sempre apareciam se maquiando no retrovisor. E até operários muito esforçados juntavam as economias para comprar um Fusca.

Agora, porém (e eu estou pensando aqui que o STF bem pode considerar esse “porém” homofóbico), a tradicionalíssima montadora alemã fundada em 1937, a fim de produzir carros baratos para o ariano médio, decidiu fabricar carros para orientações sexuais específicas. Repetindo pela vigésima quarta vez no texto: não há nada de mau nisso.

O que não faz sentido é a empresa, os publicitários e os ativistas reclamarem do fato de alguns consumidores não estarem exatamente felizes e saltitantes com a associação. Particularmente considero uma bobagem, mas há pessoas que não gostam de se identificar sexualmente pelo carro que dirigem. Da mesma forma que talvez haja homossexuais incomodados por serem confundidos com heterossexuais ao dirigirem um, sei lá, Onix, haverá homens e mulheres, ciosos de sua heterossexualidade, incomodados por serem confundidos com homossexuais ao dirigirem o Polo.

Pedindo desde já perdão pela platitude karnalesca, escolhas têm consequências. Boas e más. Ao associar um carro a uma orientação sexual, a multinacional alemã fundada em 1937, a fim de produzir carros baratos para o ariano médio, escolheu privilegiar um segmento específico que, prevê ela, lhe renderá bons lucros - e até publicidade gratuita neste valiosíssimo espaço. Mas essa escolha naturalmente alienará outros segmentos. Paciência.

Já os que não querem ter sua orientação sexual exposta toda vez que ligar o motor 1.0, 1.4 ou 1.6 escolherão entre as dezenas de outros modelos oferecidos por outras montadoras. E assim a vida segue. Para alguns, num Polo. Para outros, a pé, de trem, caminhão ou outros tantos carros. Até de Mini Cooper.

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