Alexandre de Moraes: invencível.| Foto: alter Campanato/Agência Brasil
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Péssimo dia para escrever. Cogito chamar Alexandre de Moraes para outro papo no boteco. Talvez pudesse dar a ele alguns conselhos – mas o humor não me ocorre. Tampouco tenho esperança para transbordar. Na verdade, esperança anda tão escassa por aqui que aceito doações. Quem sabe até o fim do texto... Por fim, me falta capacidade para compreender a lógica de tudo isso. Nunca entendi essa tara pelo poder. E não vai ser agora.

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Resta-me absorver o máximo de informações possível. E observar. O que, por sinal, é o que estou fazendo desde cedo, quando soube da operação da Polícia Federal que teve como alvo o ex-presidente Jair Bolsonaro e vários de seus assessores e aliados. Incluindo o padre José Eduardo. Vê se pode! Absorvendo e observando e lutando contra essa sensação de que, ao meu redor, todo mundo já reconheceu a superioridade do inimigo e desistiu.

Se você que está me lendo é um desses, não o culpo. De fato Alexandre de Moraes parece invencível. E, quer saber?, talvez seja mesmo. À semelhança dos piores, Moraes tem à sua disposição a força policial e a parte mais histriônica da opinião pública. De que adianta, portanto, inventar conversas de bar ou compor panfletos cheios de indignação & revolta ou ainda insistir em navegar nessa ditadura tendo a Constituição como bússola? No curto prazo não há nada a fazer. E até rezar para que, sei lá!, um raio caia na cabeça dos algozes pode ser interpretado como crime. Aliás, será interpretado como crime.

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Não é a impotência suprema, porém, o que me trava. Acontece que, nessas minhas andanças pelos becos virtuais desta confusa quinta-feira, de repente me vi cercado por uma turma cada vez mais numerosa e que encontra no cínico e infantil “bem feito!” uma válvula de escape para suas frustrações políticas. Não ouviu Olavo de Carvalho? Bem feito! Não fez o que deveria ter feito antes? Bem feito! Se aliou ao Valdemar da Costa Neto? Bem feito! Deu ouvidos ao Temer? Bem feito!

No curto prazo não há nada a fazer. E até rezar para que, sei lá!, um raio caia na cabeça dos algozes pode ser interpretado como crime. Aliás, será interpretado como crime.

Se bem que, nesse último caso aí, queria muito saber o que Temer disse a Bolsonaro para que ele, depois de chamar Alexandre de Moraes de canalha para uma avenida Paulista lotada, se convencesse de que o melhor a fazer naquela situação era se curvar, pedir desculpas ou, como dizia minha avó, botar o rabo entre as pernas. Seja lá o que tenha acontecido naquele dia, porém, nada justifica o “bem feito!” quando se tem claramente um algoz e uma vítima – por mais frouxa ou politicamente inábil que se possa considerá-la.

Por falar na Turma do Bem Feito, noto que são pessoas que têm sempre resposta para tudo e que, no lugar de Bolsonaro, teriam sempre tomado as decisões mais acertadas, no momento sempre o mais oportuno. É uma espécie de genialidade política, sem falar na inegável superioridade moral, que se manifesta sempre no futuro do pretérito. E que, incapaz do olhar compassivo e de reconhecer o humano na figura que tinham por “mito”, agora dá as costas e sai batendo o pezinho: bem feito.

É triste. Como disse lá em cima, parece que todo mundo desistiu. Largou os betes. Reconheceu a derrota. E agora está disposto a sacrificar a outrora sagrada liberdade como uma espécie de reparação de guerra capaz de apaziguar o deus-vingador. Péssimo dia para escrever. Mas uma boa oportunidade para, já nos estertores do texto, tirar uma esperançazinha não sei de onde e se (me) lembrar de que nenhum tirano, por mais poderoso e invencível que ele possa parecer numa quinta-feira quente e triste como esta, jamais foi capaz de conter o movimento lento, grave e irreversível das marés humanas.

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