O boletim epidemiológico da Covid-19 da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) do Paraná registrou, na última terça-feira (16), 4,8 mil casos retroativos, exclusivamente de Curitiba, como resultado de um “alinhamento de informações entre a Sesa, a Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba e o Ministério Público do Paraná, que solicitou ao município que passe a utilizar o sistema NotificaCOVID-19, desenvolvido pelo Estado, para informar os dados, assim como os 398 municípios paranaenses estão fazendo desde o início da pandemia”. Nesta quarta-feira (17) foram contabilizados mais 1.655 casos retroativos de Curitiba.
Com esse acordo, pretende-se equacionar a discrepância de mais de 50 mil casos (63%) entre o registrado pelo município e o número atribuído pelo boletim estadual à capital. Enquanto Curitiba registrava 134,2 mil casos confirmados até terça-feira, o boletim da Sesa indicava 82,3 mil casos na capital. A defasagem também é significativa no número de óbitos. São 373 mortes a mais registradas no boletim da prefeitura (16%).
Esta discrepância nos números pode ter prejudicado o Paraná na distribuição das doses de vacina pelo governo federal. Com a 5ª maior população do país, o estado foi apenas o 8º no número de doses de vacina recebidas. O Rio Grande do Sul, com população um pouco inferior à do Paraná, recebeu 60 mil doses a mais na primeira remessa do Ministério da Saúde e uma das justificativas foi justamente a situação mais grave da pandemia no estado. Na época da distribuição, no entanto, os gaúchos tinham apenas 8 mil casos e cerca de mil mortes a mais que os paranaenses. Se os números do estado estivessem atualizados com os dados reais de Curitiba, o Paraná ultrapassaria em casos confirmados e se aproximaria no número de óbitos, o que poderia proporcionar uma distribuição mais equânime das doses da vacina.
A coluna analisou os boletins municipais das 10 maiores cidades do estado e os comparou com os dados do boletim estadual. Curitiba realmente é a única cidade que apresenta uma discrepância tão grande entre os números. Mas chama a atenção, também, a defasagem de 21% no número de mortes em Londrina (648 pelo boletim municipal, ante 537 pela Sesa). Já em Paranaguá, os números do município que estão bastante abaixo dos registrados pelo estado. Enquanto o boletim da Sesa já contabiliza 11,9 mil casos e 168 óbitos na cidade litorânea, a prefeitura tem registrados 7,8 mil casos e 132 mortes.
A Secretaria de Estado da Saúde informou que o registro de casos retroativos continuará sendo realizado “até eliminar a discrepância do número de casos e óbitos nos informes de Curitiba e do Paraná”. A secretaria também informou que vai editar uma Resolução formalizando a previsão de notificação oficial ao sistema estadual. A Secretaria Municipal de Saúde informou que está registrando os novos casos no sistema do estado, bem como fazendo a transferência retroativa dos casos antigos.
O Ministério Público do Paraná informou que, por meio da Promotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de Curitiba, instaurou procedimento para apurar divergências de dados sobre Covid-19 relacionados à capital nas divulgações feitas pela Secretaria Municipal e pela Secretaria de Estado da Saúde. Dentro dessa investigação, depois de buscar esclarecimentos iniciais, as respostas passaram por análise do Setor Técnico do MPPR que sugeriu a busca de esclarecimentos complementares. A orientação foi acatada e, tão logo vieram os esclarecimentos, agendou-se reunião com representantes das duas secretarias em que se deliberou no sentido de que as duas secretarias formariam grupo de trabalho com o intuito de que encontrar um modo para que os dados referentes à capital divulgados pelo Município de Curitiba e pelo Estado do Paraná restassem concretamente convergentes e harmônicos. “Tal encaminhamento foi feito considerando que informações sobre os casos de Covid-19 em Curitiba existiam e existem, sendo necessário apenas que o sistema do Município melhor ‘conversasse’ com o do Estado. O prazo para que o MPPR seja informado sobre as providências adotadas encerra-se na próxima semana”, esclarece o MPPR.
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