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De volta ao Percival
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Ainda a propósito dos 100 anos do Contestado, professor Afronsius colocou em pauta, no dedo de prosa com Natureza Morta e Beronha, a figura do norte-americano Percival Farquhar (1864-1953).
Sem recorrer à seção Achados&Perdidos, exclusiva do blog, citou uma matéria de 2005, publicada na Veja. Assinada por Carlos Graieb, dá a ficha completa do figurão que esteve por trás da ferrovia Madeira-Mamoré e da ferrovia São Paulo-Rio Grande do Sul, estopim para a Guerra do Contestado (1912-1916). Entre outras grandes mutretas.

Dinheiro para tudo

O texto classifica Percival como “um dos grandes jogadores do mercado financeiro mundial nos primeiros anos do século XX”. Segundo a sua biografia, feita por Charles Gauld, Percival não deixava por menos: “Naquele tempo, eu podia levantar dinheiro para o que quisesse”.
Entre 1904 e a I Guerra Mundial, Farquhar teve acesso livre aos maiores investidores da Europa e dos Estados Unidos e canalizou um enorme capital para ferrovias, portos, frigoríficos, companhias elétricas e de comunicações, loteamentos, fazendas. Mas não foi em sua terra natal que ele montou esses negócios. “Foi no Brasil. Em 1913, ele controlava algo em torno de 50 milhões de libras, o que o tornava o principal administrador de recursos estrangeiros no país”.

“Do nada a lugar nenhum”

Ainda do texto de Carlos Graieb: “A mais célebre – e polêmica – de suas realizações foi a Estrada de Ferro Madeira–Mamoré. Aberta na selva amazônica para dar cumprimento a um tratado entre Brasil e Bolívia e facilitar o acesso desta última ao Atlântico, a ferrovia do diabo foi uma insanidade: prodígio de engenharia que ligou o nada a lugar nenhum, como se disse na época, ela custou a vida de 1.500 trabalhadores e jamais deu o lucro esperado”.

Ações em queda

Os empreendimentos de Farquhar entraram em parafuso quando o grande fluxo internacional de capitais cessou, no começo da I Guerra. “Foi um período de queda generalizada nas ações de ferrovias, em face do aumento dos custos operacionais”, lembraria ele”. Para piorar a situação, todas as suas apostas fora do campo ferroviário – em gado, madeira, terras ou portos – fracassaram.
Apesar do baque, até morrer, em 1953, Farquhar continuou insistindo em investir no Brasil. “Sua atenção voltou-se para a extração e exportação de minério de ferro em Minas Gerais, mas seus planos de fundar companhias mineradoras foram barrados por sucessivos governos. Apenas às vésperas da morte ele conseguiu pôr de pé uma empresa – a Acesita, que existe até hoje”.

De sinistro a construtor de império

As investidas de Farquhar para explorar o ferro provocaram polêmica. “Na década de 30, um de seus críticos mais ferrenhos foi o escritor Monteiro Lobato – criador do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Anos mais tarde, contudo, Lobato mudaria de ideia. Num ensaio intitulado Farquhar e o Brasil, ele deixou de considerar o americano como um capitalista sinistro para descrevê-lo como um ‘clássico construtor de império’, imbuído de um inabalável otimismo econômico”.

Do visconde a Matarazzo

Entre 1905 e 1918, Farquhar tornou-se o maior investidor privado do Brasil. Segundo o escritor e ex-ministro Ronaldo Costa Couto, citado pela revista, “seu império só rivalizou com o do conde Francisco Matarazzo e com o de Irineu Evangelista de Sousa, o Visconde de Mauá”.
A edição de 22 de setembro de 1912 do The New York Times garante que o sonho de Percival Farquhar era dominar todo o transporte ferroviário da América Latina.
Bem que tentou.

Em cena, Zorba, o grego

Diante de tantas e tamanhas peripécias, Natureza Morta recorreu a um filme, mais precisamente a uma cena de Zorba, o Grego, de Michael Cacoyannis (1964). Alexis Zorba (Anthony Quinn) dá uma dura em Basil (Alan Bates), que, na ilha de Creta, mete-se a reativar uma mina abandonada e, subitamente, tem uma crise de consciência ao explorar as pessoas e o patrimônio alheio. Quer largar tudo. Para dissuadi-lo, Zorba dispara:
– Afinal, você é ou não é um maldito capitalista?
The end. The end?

ENQUANTO ISSO…


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