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O (possível) outro lado da moeda
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Já que estamos em ano eleitoral, um calejado assessor de imprensa desabafava que, por nossas bandas, ser político com boas intenções é viver uma tragédia grega à sombra de bananeiras. Emprestou a frase de alguém, é claro. Mas, segundo ele, a turma do outro lado não quer nem saber. Haja pedrada. E, forçoso admitir, pela desinformação de grande parte do eleitorado. Muita gente, por exemplo, não sabe qual é a exata função do vereador, do deputado estadual, deputado federal e muito menos o real papel a ser desempenhado por um senador. Ou seja, Câmara, Assembleia, Câmara Federal, Senado e presidência da República vêm a ser a mesmíssima coisa.

O filme Terra em Transe, 1967, de Glauber Rocha, nos ensina muita coisa. Há uma cena antológica (entre outras) em que o antenado jornalista Paulo Martins (Jardel Filho) entrevista o líder populista Felipe Vieira (José Lewgoy). Como, já na primeira resposta, Vieira dispara um discurso de palanque eleitoral, enfático, mas oco, o jornalista trata de interrompê-lo. À queima roupa:

– Mas, falando sério, Vieira… – e vai direto às questões que interessam.

Confissões de um candidato

Outra confissão, de um candidato a vereador, referindo-se à campanha corpo a corpo, o tal contato direto com o eleitor. “São momentos de pesadelos, à noite e à luz do dia”.

Relatou o infeliz que tudo começa com o sorriso:

– É preciso sorrir sempre e demonstrar com isso otimismo e confiança, mesmo sabendo não ter a menor chance de vitória.

E, sobre esses embates, professor Afronsius recordou outra história, que lhe foi repassada por uma jornalista que tinha participado de uma campanha eleitoral. Integrava a assessoria de imprensa de um candidato a senador, em Curitiba. Seu trabalho: editar os depoimentos colhidos nas ruas, para o já famoso horário gratuito na televisão.

Quando dava tudo certo, ou seja, o até então anônimo cidadão declarava que iria votar no candidato da assessoria, era fácil editar o programa. É, jornalistas fazem misérias, e não é de hoje. Mas teve um cabôco que, embora anunciando com entusiasmo para a câmera (“filma eu aqui, Galvão”) que iria votar no candidato, a declaração não foi utilizada pelo comitê de campanha. E olha que tinha afirmado e justificado, com convicção, falando com o dom da verdade:

– Vou votar no Zé do Chapéu porque ele é gente simples. Pobre e trabalhador como a gente.

O Zé do Chapéu, como se sabe, tinha outro cognome, antes de virar candidato. Muito próspero banqueiro, dono de um dos impérios mais notórios do país, era chamado de Zé do Banco. Para o eleitor, salário mínimo, o Zé era um cidadão como ele, já que, para todos os efeitos, aparecia em público usando e acenando um esfarrapado chapéu de palha.

ENQUANTO ISSO…

28 jan

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