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Sobre  Matteotti e Mattei
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Há interesse e interesses. Conversando a respeito com Natureza Morta, o professor Afronsius, vizinho de cerca (viva), citou um filme. É de 1972. Palma de Ouro no Festival de Cannes. O nome do diretor já garante aplausos antecipados: Francesco Rosi. Mais ainda quando participa do roteiro Tonino Guerra. Afronsiu estava falando de O Caso Mattei, que traz a história de Enrico Mattei.
Uma pessoa que muito fez para transformar a Itália “de uma terra de música e dança para uma nação industrial”, emendou o solitário da Vila Piroquinha.

A morte anunciada

Ao apostar no gás metano como um dos maiores recursos naturais do país, Mattei colocou a Itália no mercado mundial e chegou a dirigir a ENI, organismo estatal a quem caberia fomentar o desenvolvimento dos recursos petrolíferos. Era socialista, tinha uma vida muito modesta, mas trombava com grandes interesses da indústria do petróleo. Estados Unidos já à frente. Mattei morreu em 1962 no que teria sido um acidente de avião, mas perdura a suspeita de assassinato. Sabotagem.
Mattei, aliás, é interpretado por outro grande nome do cinema, Gian Maria Volonté. Parceria perfeita com Francesco Rosi, um dos maiores realizadores do chamado cinema político.

Outro exemplo

Com ajuda da seção Achados&Perdidos, exclusiva do blog, Natureza apresentou ao vizinho mais um recorte de artigo de Otto Maria Carpeaux, que, sob o título “Recordação”, começa assim: “Este ano de 1964 é mesmo um ano comemorativo. Em cada dia cabe um cinquentenário dos acontecimentos fatais de 1914”.
E cobra: “Ninguém se lembrou, parece, dos 40 anos passados desde o assassinato do deputado italiano Giacomo Matteotti”. Em grave crise social no fim da primeira guerra, a Itália vai às urnas e vota em massa nos socialistas. “O poder não podia ficar monopolizado pela grande burguesia das cidades e pelos latifúndios do Sul. Impunham-se reformas sociais: maior participação do operariado na direção da vida pública e uma reforma agrária”.

Marcha sobre Roma

Benito Mussolini começava a entrar em cena e conseguia realizar a Marcha Sobre Roma. Assumiu o poder e “manteve um regime pseudoconstitucional, principalmente para não chocar mais o estrangeiro”, diz Carpeaux. O Partido Liberal, dos democratas, tratou de se encaixar no regime fascista. “Para guardar seus cargos”. Foi aprovada uma enchente de leis e decretos que “subjugaram o país”. Qual oposição é encarada como “rebelião, insurreição” e os “novos donos ficavam furiosos quando o deputado socialista Giacomo Matteotti lhes dizia, na Câmara, a verdade, desvendando a corrupção daqueles que juraram exterminá-la”.
Matteotti foi assassinado no dia 10 de Junho de 1924, em Roma, por um comando fascista.
Os últimos oposicionistas retiraram-se da Câmara, em sinal de protesto, para o Aventino. “Mas a covardia da maior parte da opinião pública não ousou acompanhá-los. Em 3 de janeiro de 1925, Mussolini proclamou abertamente a ditadura”.
Encerrando o dedo de prosa, Natureza e o professor Afronsius ratificaram que viver é muito perigoso. Principalmente quando se desafia interesses espúrios.

ENQUANTO ISSO…


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