Se alguém o chamasse pelo seu apelido, Palhaço, em sua frente, ele pisava no seu pescoço com seu sapato número 73.| Foto:

Grande Guia de Etiqueta da Máfia

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Se você está entrando agora para algum clã mafioso ou é apenas um estagiário interessado em engrossar as fileiras da sociedade secreta conhecida por Cosa Nostra, segue um utilíssimo manual de sobrevivência no sanguinário submundo do crime organizado. Elaborado para evitar as gafes usualmente cometidas por marinheiros de primeira (e única) viagem, o texto é de autoria de um reputado membro de uma das cinco famílias criminosas de Nova York, escrito direto de um presídio federal dos EUA onde o autor cumpre pena de 50 anos por extorsão, chantagem, roubo a banco, falsificação, interceptação de cargas roubadas, agiotagem, assassinato e plágio intelectual.

A Máfia é regida por regras não-escritas criadas há mais de 100 anos nas colinas medievais da Sicília, na pátria-mãe Itália, e assim devem permanecer para todo o sempre. Essas regras fazem parte da mítica da sociedade e você não pode questioná-las, simplesmente porque uma das principais regras é: jamais questione as regras. A seguir as primeiras noções de sobrevivência do Grande Guia de Etiqueta da Máfia.

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1- Nunca Pergunte Nada

– Quanto mais você souber, mais problemas desnecessários você pode ter. Se alguém lhe perguntar “sabe se o Joe deixa as portas dos fundos de sua casa trancada” apenas responda que sim, não ou não sei. O melhor de tudo é dizer “eu nem sabia que que a casa do Joe tinha porta dos fundos”. E nunca pergunte “claro, por que você quer saber, vai entrar lá e cometer uma chacina com os filhos dele só por causa daquela grana que ele está te devendo?”. Uma curiosidade como essa pode botá-lo para dormir com os peixes antes mesmo que você possa dizer “eu não sou informante do FBI”.

2- Não Fale Nomes

– Jamais diga ou pergunte o nome de alguém. Na Máfia as pessoas se conhecem por apelidos. Joe, Tony, Fat Tony, Jack, Nicky, Vito, Paulie, Sal. Jamais, em hipótese alguma, deve se pronunciar o sobrenome de alguém, muito menos o de um “Don”. Se alguém te perguntar para quem você trabalha, responda apenas “estou com Johnny”, por exemplo.  Jamais diga “ando traficando drogas para John Gotti”. Você terá sua carcaça pendurada num caminhão frigorífico antes mesmo de poder pensar “será que eles acham que tem uma escuta do FBI debaixo da mesa e eu incriminei o cara?”.

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3- Não Use Carteira

-Ninguém na corporação guarda seu dinheiro em carteiras, junto com a foto dos filhos e cartões de visitas do seu vidraceiro predileto. Aliás, ninguém na Máfia usa carteiras. Para começar, o maço de dinheiro não cabe em carteiras. Você deve fazer um grande rolo de notas e passar em volta um elástico, para prendê-lo. É importante que os rolos sejam volumosos, para impressionar os caras na hora de dar algum dinheiro para o moleque que lustra seus sapatos de couro de jacaré ou para Billy Batts por aquele servicinho. Carteira é coisa de agente do FBI disfarçado, lembre-se disso. Mas e os documentos, onde guardá-los? Ora, um homem feito não usa documentos, não usa nem mesmo seu nome verdadeiro, saca?

 

4- Apelidos São Como Passaporte Para o Fundo do Oceano

Você já viu que não deve pronunciar nomes, especialmente quando estiver nas ruas. Você deve se referir aos outros membros da quadrilha por apelidos. Mas cuidado, alguns apelidos não devem ser ditos na frente de seus donos. Por exemplo, os poucos que ousaram chamar Ben Siegel de Bugsy tiveram seus dentes arrancados com a coronha de um revólver. Nunca se soube de alguém que tenha chamado Tommy Lucchese de Três dedos marrons em sua frente. Se você chamasse Joey Lombardo de The Clown em sua presença, é bem possível que ele enforcasse seu cachorrinho com as tripas do dono. Joe Doves Aiuppa tinha esse apelido por ter sido preso com um carregamento roubado de pombos, mas nem por isso seus amigos o chamavam de pombinha por aí. É importante demonstrar  respeito. E amor à vida. Jack No Nose tinha esse apelido por ter um nariz muito pequeno, que ele compensava com uma pistola de cano comprido, usada para enfiar nas têmporas dos engraçadinhos de plantão.

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5- Falando a Língua dos Tacos de Beisebol

Sempre que puder, evite carregar aquela pistola pendurada no cós da calça. Se você for parado no trânsito, é possível que os policiais tentem descobrir porque um sujeito com sotaque italiano, usando terno de riscas de giz e correntes de ouro, com um anel da Trinacria (aquela Medusa símbolo da antiga Sicília) no dedo mindinho e fumando um longo charuto carrega um trabuco daqueles consigo? Pior, ele pode pedir para ver o que tem dentro do porta-malas e, bem… aí é o fim, meu amigo. O certo é fazer como Joe Batters, ou melhor, Tony Accardo, o chefão de Chicago, que sempre fez seus servicinhos usando tacos de beisebol, para não deixar pistas.

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6- Os homens da Cosca não usam bigode

Os mafiosos de muito antigamente eram senhores sanguinários que ostentavam bigodes espessos como churros debaixo de suas narinas e a turma de Lucky Luciano, ao romper com eles –egoístas e tiranos- tinha por convicção jamais usar bigode ou mesmo barba. Apenas os velhos sicilianos ainda mantinham o hábito, mas isso era traduzido como “velho conservador que não vai permitir nosso rentável tráfico de heroína via frança”. Por isso, se você quiser fazer parte da família, raspe o bigode. Nem mesmo bigode irônico é tolerado. Don Vito Genovese, certa vez confessou a Carmine Galante que a grande verdade sobre o uso ou não dos bigodes era que eles retiam todo o molho do macarrão em seu rosto, e sempre que você ia a uma conferencia de chefões, eles sabiam que todos haviam comido o mesmo macarrão com molho vermelho e almôndegas no almoço.

Bem, por enquanto é isso. Se quiser saber mais sobre o assunto, sabe com quem falar. E, sobretudo, sabe onde me encontrar. Arrivederci.