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A grande mentira comunista: Como Stalin escondeu o Holodomor do mundo?
| Foto: wikimedia commons

Na série de colunas anteriores eu expus aqui estudos relevantes que mostram como o Holodomor foi uma das maiores tragédias do século XX. Mas se não bastasse isso, o governo soviético fez questão de esconder, negar e falsificar os efeitos catastróficos que a Grande Fome teve no povo soviético. Foram entre 6 e 10 milhões de mortos por fome, causada principalmente pelas políticas assassinas do regime comunista soviético. E para tentar esconder essa tragédia, uma série de falsificações nos censos soviéticos foram empreendidas pelo governo: o que não deveria surpreender ninguém, pois se um governo é capaz de matar tantas pessoas de fome, mesmo sabendo da tragédia, o que seria mexer em alguns (milhões) de números num papel?

Estes artigos serão apenas introduções, por motivos óbvios: para aqueles que quiserem um documentário completo com uma farta revisão da literatura, podem assistir ao meu vídeo no Brasão de Armas, que tenho certeza que apreciarão bastante. Então, vamos começar com um autor que é uma das maiores referências no estudo da fome: o professor Stephen Wheatcroft. Dessa vez vamos para um artigo dele fresquinho, publicado agora em 2019, chamado "Soviet Statistics under Stalinism: Reliability and Distortions in Grain and Population Statistics" (Estatísticas soviéticas sob o stalinismo: confiabilidade e distorções nas estatísticas de população e de grãos.) Ele já começa o artigo partindo para o ataque: “é bem sabido que houve grandes distorções em como algumas das estatísticas eram reportadas...” Novamente, qualquer um que estuda com o mínimo de seriedade a União Soviética, vai concordar com isso. Mas na página 1023 o professor mostra algo curioso a respeito de Stalin. Em 1928 começou o Primeiro Plano Quinquenal (o plano que iniciou a matança camponesa de fome), e já em 1931 até Stalin estava incomodado com tanta falsificação de resultados, de modo que resolveu dar uma basta naquilo e criar um órgão estatístico mais independente para ser mais transparente em 1932.

Os censitários faziam os registros corretos, mas eram ameaçados pelo governo para não divulgá-los, ou para alterá-los

Mas o autor diz que no mesmo ano que Stalin teve a ideia, ele já a abandonou. O professor diz que “o momento da fome de 1932 e a decisão de negar e encobrir a sua existência restringiu enormemente as perspectivas de uma verdadeira reforma no trabalho estatístico.” Veja só que coisa: até boas intenções no comunismo duram pouco. O autor continua mostrando no parágrafo seguinte que o Exército Vermelho foi o primeiro a ficar de saco cheio de tanta falsificação e estatísticas vazias. Em seguida, na subdivisão, “O encobrimento da fome complica a adoção de indicadores mais realísticos a partir de 1932”, o professor segue mostrando como os censitários faziam os registros corretos, mas eram ameaçados pelo governo para não divulgá-los, ou para alterá-los. Na p. 1025 o professor mostra que os dados estatísticos populacionais produzidos pelo órgão responsável registraram de modo claro que havia uma fome severa em muitas regiões, principalmente na Ucrânia, mas suas tentativas de chamar a atenção da liderança foram em vão.

Por fim eles conseguiram reportar os dados a Kuibyshev, chefe da Gosplan, que era o órgão responsável por aplicar aquele Plano Quinquenal maluco. Kuibyshev não aceitou aqueles números alarmantes. Quando Osinskii, que era o pobre chefe censitário, reportou a terrível taxa de movimento populacional (mortes x nascimento) eles foram enviados para a Comissão de Controle Estatal para verificação. E lá um tal de Voznesenskii, também conhecido como matador de censitários honestos, foi responsável por verificar a validade dos dados. E advinha a que conclusão ele chegou? Aqueles números eram todos mentiras e foram todos falsificados! E quais foram as razões científicas que ele deu? “Que aquele órgão estava tomado de agitadores, grupos antagonistas, que estavam sistematicamente duplicando as mortes e diminuindo nascimentos.”

A partir dali começou uma perseguição sistemática aos registradores para fraudarem os resultados dos censos. E a adulteração foi só piorando porque em 1932 e 1933 os números populacionais divulgados tinham sido muito maiores do que os registrados no censo. Então o governo se negou a aceitar o censo real, pra não expor a realidade do fracasso do Plano Quinquenal. E aí o censo foi cancelado e adiado de 1933 pra 1937, quando iria terminar o Terceiro Plano Quinquenal, e aí daria tempo pra fome passar, a população se recuperar, e Stalin poder jogar uma "pá de cal" nos milhões de mortos que a política comunista matou. Mas o resultado do censo deixou Stalin bem... Magoado! O resultado mostrou que a população chegou a 161,6 milhões de pessoas, cerca de 8 milhões a menos que a projeção interna do Órgão e 19 milhões a menos do que a projeção do governo soviético para o Segundo Plano Quinquenal. Ou seja, a tragédia da fome tinha sido confirmada e reconfirmado pelos censos de 1933 e 1937 também.

E agora, o que Stalin e seu bando fariam diante de uma ciência exata tão reveladora e castaclísmica para a política soviética? Sua imaginação será confirmada na próxima coluna!

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