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Por que Lênin e Stálin odiavam os camponeses
| Foto: wikimedia commons

Tudo começa com uma palavra: kulak! Os kulaks estavam para os comunistas como demônios estão para os cristãos. Eles são a origem de praticamente todo o mal na terra! Quem já leu o mínimo sobre as coletivizações malucas de Stalin vai lembrar que kulak é a palavra que mais aparece nos discursos dele.

Os kulaks eram os terríveis ricos camponeses e exploradores que sabotavam o comunismo soviético. Pode perguntar a qualquer soviético brasileiro que eles vão dizer pra você que era isso aí mesmo. Stálin era paranoico com esse grupo de supostos “ricos”, e todos os problemas que aconteciam na União Soviética era culpa deles ou dos imperialistas (nunca do comunismo). Advinha com quem Stálin aprendeu a perseguir e matar os kulaks, bem como colocar a culpa neles pelas bobagens do comunismo?

Lênin começou a guerra contra o campesinato e Stalin a terminou. Uma farta gama de estudos apresenta evidências sólidas disso. Comecemos com o professor Dmitri Volkogonov na sua obra Lênin. Na página 226 ele diz que “Lenin não pode ter imaginado que o seu ataque aos camponeses prósperos – os kulaks – não iria desencadear conflitos civis. Ele estava ciente de que, dos quinze milhões de famílias camponesas, apenas cerca de dois milhões eram 'kulaks', ou 'ricos'. A estes chamava sugadores de sangue, aranhas, sanguessugas e vampiros, e foi contra eles, em agosto de 1918, que lançou o grito de guerra: 'Guerra impiedosa contra estes kulaks! Morte a eles!’ Quando Stálin começou a coletivizar a agricultura, cinco anos após a morte de Lenine, não precisou de novos slogans – estes já tinham sido preparados para ele. A 'limpeza' ou expurgo das terras russas tornou-se uma das principais fontes de desordem social, e foi realmente sangrenta.”

A União Soviética cresceu e se tornou uma grande potência militar e tecnológica. Mas o pilar que possibilitou tudo isso foi cimentado com milhões de corpos de seus próprios cidadãos

Como um bom discípulo de Lênin, Stálin fez questão de evocar seu mestre em seus discursos. Em seu discurso na conferência de marxistas, confirma as palavras ditas anos antes por Lênin: “Lançar uma ofensiva contra os kulaks significa que devemos preparar-nos para isso e depois atacar os kulaks, atacar com tanta força que os impeça de se levantarem novamente. Isso é o que nós chamamos de ofensiva bolchevique." Só aqui já vemos a animosidade e brutalidade assassina de Lênin e Stálin contra os kulaks.

O professor James Ryan na sua obra Lenin's Terror (O Terror de Lênin) mostra que Lênin convocou, nas palavras dele próprio, “uma cruzada contra a burguesia”. O professor segue mostrando que “uma abordagem tão surpreendentemente militarizada para um problema interno, contra a população camponesa civil, sugere a prática do Estado soviético de guerra total internamente, nos seus esforços para forjar uma sociedade revolucionária”. Isto refletiu a confusão das distinções entre inimigos internos e externos encapsuladas na declaração de Lênin, ideia de converter a guerra numa série de guerras civis e, na verdade, a sua concepção de revolução militarizada.” O professor segue mostrando, na página 104, o apelo religioso que Lênin faz a guerra civil: “Ele apelou aos trabalhadores para 'santificarem e legitimarem a nossa guerra alimentar, nossa guerra contra os kulaks', para estabelecer 'a distinção entre os pobres e os ricos, que todo camponês pode compreender e que é uma fonte profunda da nossa força.' Ele declarou inequivocamente que, contra os 'kulaks nós devemos usar a força'.” Engraçado, lembra de alguém que disse também usaria força contra os kulaks? Pois é... Stálin!

Como mostrei em detalhes numa série de colunas aqui na Gazeta, Stálin seguiu os passos do seu professor usando ainda mais violência e brutalidade contra o campesinato. Milhões morreram como consequência. Como sabemos muito bem, a União Soviética cresceu e se tornou uma grande potência militar e tecnológica. Mas o pilar que possibilitou tudo isso foi cimentado com milhões de corpos de seus próprios cidadãos. Que nunca nos esqueçamos dessa tragédia.

Conteúdo editado por:Bruna Frascolla Bloise
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