"Ai, meu Deus, lá vêm de novo aqueles jornalistas britânicos dizendo que a Igreja só ficou de bem com a ciência depois que eu virei papa... " (Foto: AFP/Getty Images)| Foto:

O que é que tem na água que esses jornalistas britânicos andam bebendo? Outro dia foi a matéria tosca do Independent sobre a Igreja Católica ter finalmente percebido que o Big Bang é real. Agora é a vez da revista Nature, uma das publicações sobre ciência mais respeitadas do universo, sair dizendo besteira. Em um editorial, ainda por cima.

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O título é bacana: Mantenham as portas abertas para um diálogo construtivo entre religião e ciência. Começa falando do encontro do papa Francisco com um grupo de portadores da doença de Huntington, mas depois degenera para um monte de clichês. O primeiro é o da suposta “nova abertura da Igreja à ciência com o papa Francisco”, que é parte de uma grande narrativa do tipo “nunca antes na história dessa Igreja”, desenhada, acredito eu, menos para elogiar Francisco e mais para denegrir seus antecessores. No editorial da Nature, o marco desta “nova abertura” é a encíclica Laudato Si’. De fato, ela é um marco, mas apenas no que diz respeito a pronunciamentos papais sobre temas ambientais. De resto, nada de novo sob o sol. O editorial até lembra que há uma Pontifícia Academia de Ciências com mais de 80 anos de existência, mas isso parece não fazer diferença. Se a Igreja está fazendo as pazes com a ciência, é única e exclusivamente graças ao papa Francisco…

Depois, vem o clichê cientificista. “Apesar de toda a sua aparente abertura à ciência [comentário meu: pelo jeito, os editores da Nature desconfiam também da encíclica para usar esse “aparente”], a Laudato Si’ adere à tradicional filosofia vaticana segundo a qual o método científico não é capaz de abranger a verdade completa sobre o mundo”, diz o texto. Desculpem aí, mas questionar o cientificismo, com suas contradições intrínsecas, não é “filosofia vaticana”, é apenas bom senso.

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E aí, por fim, a Nature entrega aonde queria chegar, ao fazer uma crítica a posições da Igreja em assuntos de bioética. A revista chama a defesa da vida humana desde a concepção de “posição teologicamente discutível” (o que eu queria saber é com que base um cientificista vai debater esse tipo de assunto), e diz que essa defesa atrasa a pesquisa com células-tronco em muitos países, mas não diz que países são esses (algum que seja realmente relevante para o desenvolvimento médico? Duvido), nem esclarece que a pesquisa à qual a Igreja se opõe é aquela com células-tronco embrionárias, enquanto a pesquisa com células-tronco adultas é incentivada pelo Vaticano. Sobra também para a crítica à visão católica sobre a contracepção, mas já estamos acostumados com isso e basta ler Mary Eberstadt para vermos como Paulo VI tinha razão com a Humanae Vitae.

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