Francis Collins já tem uma década e meia de serviço pela harmonia entre ciência e religião.| Foto: Olivier Douliery/AFP
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Quando soube, na manhã de hoje, que o geneticista Francis Collins tinha ganho o Prêmio Templeton 2020, a minha primeira reação foi “ué?”. Não porque ele não merecesse, obviamente, mas porque eu podia jurar que ele já tivesse recebido essa, que é talvez a principal homenagem a pessoas que trabalham pela harmonia entre a busca científica e as grandes questões da nossa existência. Afinal, Collins já é uma estrela do diálogo entre ciência e fé há pelo menos uma década e meia. Chances para receber o prêmio, concedido anualmente, não faltaram.

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Claro, um Prêmio Templeton não é exatamente como um Oscar que um grande cineasta ou profissional do cinema recebe por um trabalho menor após ter sido injustiçado, vendo sua obra-prima perder para algum filme do qual ninguém vai se lembrar em cinco anos – pense aqui em Ennio Morricone, cuja trilha sonora para A Missão perdeu em 1987 (ok, foi pro Herbie Hancock, mas quem lembra da trilha?), e só ganhou o Oscar da categoria em 2016. O prêmio é uma homenagem ao conjunto da obra, e Collins só foi acrescentando feitos à sua biografia nos últimos anos.

Claro, A linguagem de Deus (que parece estar esgotado no Brasil) foi um marco em 2006, porque foi o primeiro best-seller que trouxe a um público amplo a perspectiva da conciliação entre ciência e fé, quando o ateísmo militante já estava emplacando um sucesso editorial atrás do outro. Collins já podia ter levado o prêmio a partir dali, mesmo porque já era uma celebridade antes do livro, tendo comandado o Projeto Genoma Humano. Mas ele não parou por aí: no ano seguinte à publicação do livro, criou a Fundação BioLogos, que tem se engajado na promoção da ciência entre os evangélicos americanos, e em 2009 foi nomeado tanto para a Pontifícia Academia de Ciências quanto para o comando do National Institutes of Health (NIH) norte-americano, superando um caminhão de críticas de ateus para quem Collins não era um bom nome para o posto pelo mero fato de ser um cristão devoto.

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O bom trabalho de Collins deixou os críticos falando sozinhos, e vejam só como funciona a Providência: ele foi escolhido para o Prêmio Templeton no fim do ano passado, antes que o mundo conhecesse o coronavírus, mas o anúncio vem justamente no meio da maior crise sanitária deste século, em que o NIH tem papel importante, pelo menos nos Estados Unidos. Collins, profundamente comprometido tanto com o Evangelho quanto com a ciência, aparece como um exemplo a seguir nesses tempos tão complicados, em há uma desconfiança por parte de gente boa, de fé sincera, em relação ao que os cientistas nos dizem sobre o coronavírus.

Chega a ser providencial que Francis Collins só tenha recebido o Prêmio Templeton agora, no meio da pandemia de coronavírus – e a escolha ocorreu antes de a doença aparecer... (Foto: Mandel Ngan/AFP)| Foto: AFP

Falando nisso, não deixem de conferir a sensacional conversa entre Collins e o pastor Tim Keller, organizada pela BioLogos e ocorrida na noite de ontem. No vídeo, eles conversam sobre a atual pandemia e uma série de temas relacionados à doença, como a missão das igrejas e dos cristãos, essa desconfiança que paira sobre a comunidade científica e, claro, tentam responder à pergunta fundamental: onde está Deus no meio de tudo isso.

Atualizado em 26 de maio: O pessoal da Associação Brasileira de Cristãos na Ciência acabou de legendar a live e colocar no ar, confiram aí:

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