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Entre os acontecimentos que mais intrigam as pessoas ligadas à ciência e à religião estão os milagres, acontecimentos espetaculares sem explicação científica. Alguns deles, curiosamente, têm dia marcado para ocorrer, como o que houve em Nápoles na sexta-feira passada, quando o suposto sangue coagulado de São Januário, conservado em um relicário, se tornou líquido de novo. Tem foto no blog Whispers in the Loggia.

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São Januário (em italiano, San Gennaro) foi bispo, martirizado durante o reinado do imperador romano Diocleciano. Consta que foi preso enquanto visitava um diácono na prisão. Como outros casos dos primeiros séculos do Cristianismo, Januário pertencia à classe dos mártires “duros de matar”: primeiro, foi colocado em uma fornalha, mas escapou ileso; depois, foi levado a um anfiteatro e jogado a ursos que não haviam comido por dias, mas os animais se recusaram a atacá-lo. Por fim, Januário foi decapitado.

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A primeira menção ao milagre da liquefação do sangue é de 1389. O fenômeno ocorre três vezes por ano: no sábado anterior ao primeiro domingo de maio, em 19 de setembro e em 16 de dezembro. Diz-se que, quando não ocorre, coisas trágicas acontecem: seja um terremoto devastador, seja o rebaixamento do Napoli para a segunda divisão do Campeonato Italiano. No entanto, até onde eu saiba, o Vaticano nunca reconheceu oficialmente o milagre.

A ciência entrou no assunto quando alguns pesquisadores começaram a tentar repetir as circunstâncias do milagre em laboratório. E conseguiram, na década de 90 (aqui, em reportagem do The New York Times). Em 2005, o assunto voltou à tona, desta vez causando a raiva dos napolitanos.

No entanto, o que se conclui é que os cientistas encontraram um líquido que repete a, digamos, “performance” do suposto sangue do santo. Nenhuma das liquefações produzidas em laboratório usou sangue humano coagulado. E é exatamente aí que reside a chave da questão: até hoje, apenas dois testes foram feitos na relíquia, e ambos indicaram a presença de hemoglobina, embora os dados sejam questionados pelos pesquisadores que replicaram a liquefação. Se o que há dentro do relicário for realmente sangue, então o fenômeno continuará sem explicação. O problema é que a arquidiocese de Nápoles não permite que se abra o relicário para retirar amostras do líquido.